Descrição de chapéu Eleições 2022

Disparos no WhatsApp e tucanos históricos viram armas finais de Doria e Eduardo Leite nas prévias

Em disputa no PSDB, governador paulista investiu em tecnologia e pesquisas, enquanto gaúcho tem Alckmin como trunfo

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Brasília e São Paulo

Às vésperas das prévias presidenciais marcadas para domingo (21), os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) intensificaram suas estratégias de buscar votos por meio de disparos de mensagens e costuras com tucanos da ala histórica.

A disputa está aberta entre Doria e Leite, com cada equipe apostando em sua vitória. O ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto também participa, mas sem chances de vencer, segundo tucanos.

Os governadores de SP, João Doria, e do RS, Eduardo Leite, que disputam as prévias do PSDB, se encontram em Porto Alegre a quatro dias da votação
Os governadores de SP, João Doria, e do RS, Eduardo Leite, que disputam as prévias do PSDB, em Porto Alegre - Divulgação/Assessoria João Doria

Enquanto Doria obteve declaração de apoio do senador José Serra (SP) e do ex-governador Marconi Perillo na quarta (17), o ex-governador Geraldo Alckmin (SP) reforçou os pedidos de votos a Leite.

Na quinta (18), Alckmin sinalizou a aliados que poderia permanecer no PSDB caso o gaúcho ganhasse a disputa, o que é visto como um argumento forte a favor de Leite.

Com o cadastro de tucanos no aplicativo de votação fechado desde segunda-feira (15), as duas campanhas também ampliaram o contato com filiados por meio de ligações e mensagens.

Acumulando vantagem entre os filiados sem mandato, que representam 25% da pontuação final, Doria intensificou as pesquisas, telefonemas e disparos de mensagens a tucanos em todo o país.

A campanha do paulista conta com a ajuda de uma consultoria e tem uma estrutura de call center robusta. Um mutirão feito num domingo, por exemplo, reuniu cerca de cem tucanos no diretório do PSDB de São Paulo.

A estratégia provocou incômodo de tucanos, que reclamam de receber várias mensagens por dia. Até senadores chegaram a ser abordados em pesquisas contratadas por Doria para revelarem qual seria seu voto.

A campanha de Leite reagiu, condenando o spam. "Lamentamos os envios de spam no WhatsApp oriundos de números apócrifos", afirmou em rede social, ressaltando respeitar "a privacidade e o horário de envio". Para aliados do gaúcho, o spam deixa as pessoas irritadas e tem efeito contrário.

A campanha de Doria investiu pesado em tecnologia. Aliados do governador fizeram pesquisas toda semana ao longo desse período, superando mais de 45 levantamentos.

Os resultados incluem análises e indicações de locais onde o governador teria potencial para avançar em votos.

A última pesquisa apontava vitória de Doria com cerca de 60% dos votos. Pessoas próximas ao tucano apostam que o índice deverá ser ainda maior. Creditam a ampliação da vantagem a uma "onda" de apoio de tucanos históricos, como Serra.

"Vamos ganhar as prévias, Doria construiu essa vitória com sua competência e aliados", afirma o presidente do PSDB da capital paulista, Fernando Alfredo. Ele minimiza as reclamações de spam: "quem reclama é porque vai apoiar Leite".

Na última semana, a campanha também aumentou o número de voluntários. Segundo pessoas próximas de Doria, há ex-prefeitos, vereadores e outros filiados atuando em 17 estados.

Outro ponto a favor da campanha paulista, de acordo com dirigentes, é a experiência em prévias passadas. O PSDB-SP já tem mapeado quais são os líderes que entregam mais votos, por exemplo.

Para montar a estrutura, Doria contou com uma consultoria. Segundo pessoas próximas, não foi usado dinheiro do partido para a contratação.

Votação de prévias no PSDB entre João Doria, Eduardo Leite e Arthur Virgílio será feita por aplicativo
Votação de prévias no PSDB entre João Doria, Eduardo Leite e Arthur Virgílio será feita por aplicativo - Divulgação PSDB

A executiva nacional do PSDB disponibilizou pouco mais de R$ 1 milhão para cada um dos três candidatos —a maior parte do gasto é com deslocamentos, hospedagem e eventos. Coube a cada diretório buscar mais doações e financiamentos para complementar as campanhas.

O entorno de Leite afirma que a estrutura de campanha é desigual e que sua equipe para disparos e ligações conta com cerca de 35 pessoas.

Ainda assim, a campanha do gaúcho também ampliou os disparos em massa na reta final, chegando a enviar, na quinta-feira, cinco mensagens aos filiados cadastrados para a votação.

Estrategistas de Leite afirmam haver dois focos agora: manter o apoio de eleitores considerados fidelizados e tentar conquistar aqueles que foram mapeados como indecisos. Ao longo da campanha, os disparos serviram para divulgar agendas, vídeos e incentivar o cadastro no app.

Outra reclamação dos aliados de Leite em relação à abordagem de Doria tem a ver com a rapidez com que a campanha paulista contatava os novos cadastrados no aplicativo de votação a cada dia.

Enquanto a campanha de Leite, menos organizada, levava até dois dias para alcançar os inscritos, a estrutura de Doria disparava mensagem no mesmo dia. Com isso, dizem aliados de Leite, os tucanos tinham a percepção de que havia uma vigilância sobre sua inscrição e seu voto.

Dirigentes do partido passaram a reforçar que o voto é secreto e que não haverá divulgação de apuração por cidade.

Auxiliares de Leite afirmam ainda que não chegaram a fazer pesquisas qualitativas ou quantitativas.

"Não estamos trabalhando para ver quem tem maior volume ou tamanho. A gente acredita que nossa mobilização é suficiente para poder angariar resultados positivos. O que não pode acontecer é saturar pessoas com SMS, WhatsApp, email", afirma o deputado federal Lucas Redecker, presidente do PSDB-RS.

Diante do clima de favoritismo e otimismo entre os rivais, Redecker afirmou que a disputa está apertada. "Leite tem muita possibilidade de sair vitorioso, tem que trabalhar ate o último momento."

Em desvantagem entre filiados, mas com a preferência do alto clero, Leite tem apostado no apoio de tucanos da ala histórica, como Alckmin e os senadores Tasso Jereissati (CE) e José Aníbal (SP), que compareceu ao evento final da campanha, nesta sexta (19), em São Paulo.

Contudo, Leite tem Alckmin como principal trunfo, uma vez que o governador gaúcho precisa consolidar uma dissidência de militantes em São Paulo para vencer.

No evento desta sexta, Leite afirmou que vai trabalhar, se vencer as prévias, para manter Alckmin no partido e reforçou ser a cara do PSDB raiz. Aníbal, que coordenou as prévias, foi duro contra Doria em seu discurso, acusando-o de fraude, de ameaças e de atitudes agressivas para obter votos. "A boa política não se faz assim", resumiu.

Na quinta, a força tarefa de membros paulistas do PSDB que trabalham para que Alckmin não deixe o partido se animou com seus gestos. O grupo tem a expectativa de que Alckmin declare apoio a Leite publicamente.

Depois de admitir que deixaria o PSDB e abrir conversas com PSD, PSB e União Brasil, Alckmin decidiu esperar as prévias do PSDB e se cadastrou para votar, com o objetivo de ajudar Leite contra Doria, agora seu desafeto.

Por compor o colégio principal, composto por 52 tucanos congressistas e ex-dirigentes que valem 25% da pontuação final, o voto de Alckmin tem maior peso. De saída do PSDB, o ex-governador tem sido alvo de críticas por participar de decisão importante sobre o futuro da sigla e, por isso, tem atuado apenas nos bastidores.

Também atuante junto a nomes importantes do PSDB, Doria abriu espaço em Goiás com o apoio de Perillo. O ex-governador, assim como Serra, mencionou a obtenção da vacina contra Covid-19 por Doria como motivo para apoiá-lo.

Se a vacinação é o principal ativo do paulista, tornou-se uma dor de cabeça para Leite após a Folha revelar que, a pedido do governo Jair Bolsonaro, o governador gaúcho tentou convencer Doria a adiar o início da vacinação.

Auxiliares minimizaram o estrago da revelação a dias da votação, afirmando que o efeito nas redes foi pequeno e que o eleitor de Leite já está convencido. Já o pedido para adiar as prévias, outro erro político da campanha de Leite na reta final, provocou reclamações de aliados questionando se havia perspectiva de derrota.

Em um sinal de que a questão da vacina teve impacto, Leite convocou uma entrevista para rebater a questão da vacina, embora já o tivesse feito pelas redes sociais.

O governador afirmou ter atuado por uma coordenação nacional para que a vacina chegasse a todo país ao mesmo tempo. "Não pedi e nunca pediria que se adiasse a vacinação no Brasil", disse.

Leite chamou de vale-tudo o uso do episódio por Doria.

"Esse novo uso eleitoral, politico, da vacina é absolutamente indevido. Não é apenas injusto, é imoral, oportunista, antiético. [...] É uma fake news disseminada num claro interesse eleitoral, para atingir uma candidatura com reais chances de ganhar as prévias do PSDB e promissora para o ano que vem", disse.

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