Descrição de chapéu Eleições 2022

Doria e Leite cobram pressa, e PSDB quer prévias nesta semana com o mesmo app

Candidatos propuseram encerrar votação o quanto antes e empresas de tecnologia trabalham para isso, mas há ceticismo

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Brasília

Depois de os três candidatos das prévias presidenciais do PSDB afirmarem que desejam concluir nesta semana a votação, suspensa no domingo (21) por instabilidade no aplicativo, as empresas de tecnologia envolvidas no processo trabalham para cumprir essa meta.

A ideia seria abrir um dia de votação para os tucanos com mandato e um ou mais dias para os tucanos filiados ainda nesta semana —até domingo (28).

A decisão final, porém, deve ser tomada apenas na tarde desta segunda (22), após novas reuniões com representantes dos candidatos. Está em discussão o uso do mesmo aplicativo que apresentou falhas ou a contratação de um outro.

Doria e Leite no evento de prévias do PSDB, que terminou sem resultado e com divisão agravada
Doria e Leite no evento de prévias do PSDB, que terminou sem resultado e com divisão agravada - Pedro Ladeira/Folhapress

Diante do fiasco da votação no domingo, com aplicativo travado desde 8h30 da manhã até o fim do dia, parte dos tucanos ainda vê com ceticismo a hipótese de manter a votação pelo app, que foi desenvolvido pela Fundação de Apoio à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs).

Membros do partido não descartam que haja um plano alternativo à ferramenta. Também não há certeza de que as campanhas entrarão em acordo nesta segunda.

A inconclusão da votação apenas agravou a divisão interna entre os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS). A disputa está acirrada e o resultado está em aberto. O terceiro concorrente, o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, não tem chances de vencer e, na prática, se alia a Doria.

Na noite de domingo, Doria e Virgílio defenderam retomar a votação no próximo domingo (28), enquanto Leite afirmou que a eleição interna deveria ser definida até terça-feira (23).

A opção de Leite, porém, é considerada inviável, já que o aplicativo não deve estar solucionado até terça.

Em nota, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, afirmou nesta segunda que "várias instituições e empresas de tecnologia, todas muito respeitadas, participaram da concepção e estão envolvidas no processo de correção da falha para que a votação continue".

"Todas as nossas energias estão concentradas para você que ainda não votou escolha quem será seu candidato à presidência da República. Contem com o nosso total e absoluto empenho para concluirmos a votação o mais rápido possível."

Araújo afirmou, no domingo, que a viabilidade técnica do app, ou seja, o prazo para a correção dos problemas é que será central na definição de novas datas —e não a vontade de cada um.

Para estabelecer esse prazo, várias reuniões entre o partido e as empresas de TI foram ficaram acertadas para esta segunda. Além da Faurgs, participa das reuniões a Bidweb, consultoria de segurança.

Ao chegar para uma reunião, à tarde, Leite voltou a defender que as prévias sejam retomadas o mais rápido possível —para que todos os filiados votem sob as mesmas condições e o processo tenha legitimidade, segundo ele.

"Da nossa partem se retoma assim que tecnicamente for possível. [...] Outras pessoas votariam daqui uma semana ou o tempo que for com outro conjunto de informações, porque ligações começam a ser feitas para os que não votaram por parte das candidaturas, entrevistas começam a ser dadas, acusações começam a ser feitas, ou seja, muda o cenário", disse.

Leite voltou a afirmar haver acusações de que a campanha de Doria comprou votos e pressionou por votos, inclusive com demissões.

Ele nega que sua campanha tenha pedido adiamento das prévias para 2022 após os problemas no aplicativo.

"Nos últimos meses, de forma exaustiva, toda equipe que faz o PSDB preparou com muito carinho e enorme dedicação uma festa para no último domingo escolhermos o primeiro candidato à Presidência com a participação de todos os filiados. É antes de tudo uma aposta na democracia. Eu mesmo, como voluntário do partido, tenho me dedicado integralmente ao projeto", diz a nota de Araújo divulgada nesta segunda.

"Lamentamos muito que um problema técnico no aplicativo desenvolvido para as prévias nos obrigou a não concluir uma comemoração que começou bonita pela manhã", afirma o presidente do PSDB.

A ideia de utilizar urnas eletrônicas, defendida por Doria, voltou a ser aventada após o problema com o app, mas é vetada por Leite.

No domingo, o PSDB fez uma votação híbrida. Num evento grandioso em Brasília, feito para anunciar o vencedor, mas que terminou de forma melancólica sem conclusão, puderam votar por meio de urnas eletrônicas os prefeitos e vices, deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores e vices e os ex-presidentes do partido.

Os filiados sem mandato e os vereadores deveriam votar pelo aplicativo, que não funcionou. A votação, que seria das 7h às 15h, foi ampliada para 18h e acabou suspensa. Outros tucanos do alto clero que não viajaram a Brasília e preferiram votar pela ferramenta online tampouco conseguiram votar.

O embate sobre a utilização exclusiva de urnas esbarra em dois fatores. O primeiro é de ordem prática: a capacidade logística do PSDB de espalhar urnas eletrônicas por todo o país. A ideia foi considerada inviável pelo alto custo.

A segunda questão diz respeito à oposição entre Doria e Leite. Enquanto o PSDB de São Paulo, que concentra os tucanos do país e os apoiadores de Doria, tem organização para mobilizar filiados e levá-los até o local de votação, isso não ocorre nos estados aliados a Leite.

Ao todo, 44,7 mil tucanos (cerca de 3% do 1,3 milhão de filiados) se inscreveram para a votação indireta, em que cada grupo representa 25% da pontuação: filiados; prefeitos e vices; vereadores e deputados estaduais; deputados federais, senadores, governadores e vices, ex-presidentes do PSDB e o atual.

São Paulo, pela concentração de mandatários e filiados cadastrados, larga com 35% de peso nas prévias. Além do Rio Grande do Sul, Leite tem o apoio de estados chave no tucanato, como Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.

O senador Tasso Jereissati (CE), apoiador de Leite e ex-presidente do PSDB, elogiou, nesta segunda, a iniciativa de Araújo de fazer as prévias por aplicativo.

"Não era viável urnas de papel, não era viável colocar urnas eletrônicas pelo Brasil inteiro, tinha que ser via aplicativo. Não era viável trazer todos os filiados para votar [em Brasília]. Tudo que é novo corre riscos como esse", disse.

O saldo de domingo para o PSDB foi de vexame e mais tensão entre Doria e Leite, que trocaram acusações. Como mostrou o Painel, líderes de partidos da chamada terceira via veem o PSDB em frangalhos —uma união da sigla em torno do vencedor das prévias parece cada vez mais distante.

Araújo informou que de 62% a 65% dos votos, considerando os pesos desiguais dos grupos de votação, foram dados neste domingo, pela urna e aplicativo. Os resultados não serão apurados até que haja a votação complementar.

Ainda assim, o presidente do PSDB defendeu as prévias como um processo a ser adotado daqui em diante, afirmando que o partido se tornou protagonista no xadrez eleitoral de 2022. Disse ainda que o aplicativo não teve registros de ataques à segurança.

Para ele, o aplicativo é a ferramenta que chega ao maior número possível de tucanos. "A ousadia traz preço e risco", resumiu.

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