Descrição de chapéu Eleições 2022

Doria e Leite trocam ataques e divergem sobre nova data de prévias do PSDB

Governador de SP defende votação no domingo (28), enquanto o do RS queria concluir processo até terça (23)

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Brasília

Após a suspensão das prévias do PSDB neste domingo (21), os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) trocaram ataques antes de uma reunião na sede do partido em Brasília, à noite, para tentar chegar a um consenso sobre a nova data da votação.

Após a reunião, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, informou que a retomada da votação aconteceria assim que os problemas do aplicativo fossem corrigidos. Nesta segunda (22), as empresas de tecnologia envolvidas no processo estimarão esse prazo.

Doria e Arthur Virgílio (AM), o ex-prefeito de Manaus que também concorre, defendem a realização das prévias no próximo domingo (28), das 6h às 18h, pelo aplicativo (para filiados e vereadores) e pela urna eletrônica, em Brasília (para demais políticos com mandato, incluindo o alto clero).

Esse era o sistema previsto para este domingo, que não funcionou porque o aplicativo travou desde a manhã. A votação ocorreria das 7h às 15h, foi ampliada até as 18h e terminou suspensa.

Governador de São Paulo, João Doria, e o também candidato Arthur Virgílio
Governador de São Paulo, João Doria, e o também candidato Arthur Virgílio (esq.) em entrevista na sede do PSDB antes de uma reunião com a direção do partido - Pedro Ladeira/Folhapress

Leite, por sua vez, quer concluir a votação até esta terça-feira (23) por considerar que adiar o processo para domingo significaria reabrir a campanha por busca de apoio entre os filiados.

Doria e Virgílio o acusaram de querer melar as prévias e criticaram o deputado federal Aécio Neves (MG), que apoia o governador do Rio Grande do Sul.

Na noite deste domingo, Araújo definiu que haverá uma reunião com a empresa desenvolvedora do aplicativo, a Fundação de Apoio à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Faurgs), nesta segunda.

A partir daí será possível verificar a viabilidade técnica de retomar a votação pelo aplicativo e qual seria o prazo para isso.

Araújo disse que, se a resolução da ferramenta demorar um longo prazo, as campanhas terão que dialogar sobre como fechar a votação. No entanto, o presidente afirmou ter a expectativa de que o conserto ocorra logo.

O que determinará a data de retomada das prévias, segundo ele, é a viabilidade técnica do aplicativo, e não a vontade de cada candidato.

O dirigente informou que de 62% a 65% dos votos, considerando os pesos desiguais dos grupos de votação, foram dados neste domingo, pela urna e aplicativo. Os resultados não serão apurados até que haja a votação complementar. Pelo app, houve menos de 4 mil dos 44 mil votos previstos.

Doria reclamou de que nomes importantes que votariam no app, como senadores e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que o apoia, não conseguiram votar. O próprio Virgílio não conseguiu. O ex-governador Geraldo Alckmin, que apoia Leite, foi outro impossibilitado de votar pelo app.

Ainda assim, Araújo defendeu as prévias como um processo a ser adotado daqui em diante, afirmando que o PSDB se tornou protagonista no xadrez eleitoral de 2022. Disse ainda que o aplicativo não teve registros de ataques à segurança.

Para ele, o aplicativo é a ferramenta que chega ao maior número possível de tucanos. "A ousadia traz preço e risco", resumiu.

O governador do RS, Eduardo Leite, durante coletiva de imprensa, na sede do partido - Pedro Ladeira/Folhapress

Após a reunião, na noite de domingo, Doria chegou a dizer que os três candidatos tiveram um entendimento de que o resultado da votação, após concluída, seria "definitivo".

Araújo, porém, não confirmou que os candidatos não contestarão o resultado das prévias. Há temor de que o imbróglio seja alvo de ação na Justiça, atrasando ainda mais a definição da candidatura tucana.

"Acredito que a política partidária se discute no campo interno, mas não tenho poder de vetar qualquer tipo de ação judicial. Mas não acredito que aconteça e, se acontecer, não terá o impacto político do resultado da eleição", disse o presidente, ressaltando que a legitimidade do presidenciável tucano virá da votação.

Questionado sobre as pressões, em parte do tucanato, para que renuncie após o vexame das prévias, Araújo respondeu que "seria uma maravilha alguém resolver vir assumir um trabalho voluntário".

"Poucos tiveram a iniciativa de convocar um evento dessa magnitude. Todas as decisões do PSDB são de responsabilidade minha. Agora, claro que eu não sou imperador. A decisão é minha, mas ela teve a devida adesão das candidaturas", completou.

Desde o início do processo, o entorno de Doria desconfia de que Aécio, apoiador de Leite, age para sabotar as prévias e para que o PSDB não tenha um candidato à Presidência, o que faria o fundo eleitoral sobrar para os deputados federais.

Também pesa sobre Aécio seu posicionamento, seguido por outros tucanos da bancada, a favor do governo Jair Bolsonaro na Câmara, sendo que o PSDB já se declarou um partido de oposição.

Doria acusou Leite de mudar de posição. Aliados do paulista dizem que a campanha gaúcha propôs, em reunião durante a tarde, o adiamento das prévias para 2022, algo que Leite nega. "É preciso ter uma única palavra e uma única atitude. Não é razoável ter uma atitude, 10 minutos depois outra, 15 minutos depois outra", disse Doria.

"Não há razão para adiar as prévias do PSDB exceto por aqueles que querem melar as prévias do PSDB. Quem quer fazer democracia não tem medo do voto e pode votar no próximo domingo", disse Doria.

Virgílio, que não tem chances de vencer a disputa, passou a jogar ao lado de Doria nessa questão.

O ex-prefeito disse ter divergências com Leite. "Fala em perto do Carnaval fazer as prévias, o que significa dizer não fazer as prévias", afirma.

Virgílio disse que, além da proposta de adiar para 2022, Leite queria realizar a votação durante toda a semana, o que deixaria o aplicativo exposto à ação de hackers.

"O aplicativo pode e deve ser melhorado ao longo da semana", disse o governador paulista, afirmando ter confiança na votação domingo. No entanto, o prazo a ser dado pela Faurgs ainda é desconhecido.

Doria afirmou ainda que defendeu, no início, que toda a votação das prévias ocorresse com urnas eletrônicas pelo país.

"Por razões que desconhecemos, o partido adotou uma forma híbrida [urnas e app]. Escolheu uma empresa para desenvolver o aplicativo que, circunstancialmente, é de Pelotas, no Rio Grande do Sul [cidade de Leite]", afirmou o governador paulista.

A Faurgs, porém, tem endereço em Porto Alegre. Aliado de Doria, o prefeito de Jundiaí, Luiz Fernando Machado, disse na mesma entrevista à imprensa que a Faurgs foi escolhida, entre outras universidades, por ter sido a única que se dispôs a fazer o app até novembro.

O prefeito ressaltou que a campanha de Doria já chamava atenção para as vulnerabilidades do aplicativo há semanas.

Na época da elaboração do desenho das prévias, o partido decidiu pelo app e não só pelas urnas alegando duas razões —a dificuldade logística de realizar a eleição presencial em todo o país e a desigualdade da capacidade dos diretórios de mobilizar para tal votação.

O PSDB-SP, por exemplo, teria mais estrutura para levar filiadoa até o local da urna, enquanto os diretórios aliados a Leite, não.

Por fim, Doria e Virgílio condenaram o bolsonarismo no PSDB, que atribuem a Aécio.

"O PSDB vai passar por um processo de depuração. A maioria quer votar, quer o exercício democrático do voto, quer um candidato à Presidência, quer a consolidação da terceira via, querem o diálogo com outros partidos que sigam na mesma direção e quer transparência no processo. Aqueles que desejarem diferentemente disso terão opção de escolher outro partido", disse Doria.

O governador paulista lembrou que a oposição a Bolsonaro não é plenamente praticada, o que impede o partido de ter respeitabilidade.

"Uma maçã está estragando as outras. Dou nome e sobrenome: Aécio Neves", declarou Virgílio.

Eduardo Leite, Arthur Virgílio e João Doria no evento das prévias do PSDB, em Brasília
Eduardo Leite, Arthur Virgílio e João Doria no evento das prévias do PSDB, em Brasília - Divulgação/Eduardo Leite

Além de negar a acusação de querer adiar a votação para 2022, Leite disse que o prazo proposto pelos adversários não era razoável e representaria a reabertura de campanha.

"Para que este processo seja resguardado, nós entendemos que o limite é até a próxima terça-feira", disse.

"Para que este processo possa ser considerado íntegro dentro da questão da integridade, da integralidade, ou seja, o processo por inteiro, ele não pode ter uma descontinuidade de uma semana inteira em que novas abordagens, nova campanha, novas mobilizações vão acontecer."

O argumento do gaúcho tem a ver com sua crítica de que a campanha de Doria age de forma agressiva e com pressão sobre os tucanos, especialmente em São Paulo, para conquistar votos.

O governador do Rio Grande do Sul também ironizou a aliança dos dois rivais.

"Se tem uma coisa positiva de ter os dois candidatos um ao lado do outro aqui é o que confirma o que se viu durante a campanha toda, as dobradinhas que fizeram nos debates, nas colocações que fizeram nas entrevistas um para o outro", afirmou.

"A união deles, dos dois, mostra que eles precisam ser dois para enfrentar o tamanho que a nossa candidatura adquiriu", acrescentou Leite.

O gaúcho defendeu ainda que o PSDB é um partido "com muito projeto, com muita agenda para ficar tentando ganhar eleição com lacração de ficar batendo em candidato adversário".

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