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Fundação cogita ataque hacker para fiasco de app nas prévias do PSDB

Faurgs apresentou nesta quarta (24) suas conclusões a repeito de pane no domingo (21)

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São Paulo e Brasília

A fundação responsável pelo aplicativo das prévias do PSDB, que falhou no domingo (21), afirmou, em nota divulgada nesta quarta (24), que "considera muito plausível a ocorrência de um ataque de hackers" ao app.

O partido aguardava a análise da Faurgs (Fundação de Apoio da Universidade Federal do Rio Grande do Sul) sobre as causas da pane no sistema de votação e havia dado até terça-feira (23) para essa explicação.

Paralelamente, a sigla passou a testar outros aplicativos de empresas privadas, na tentativa de concluir a votação até domingo (28). Os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), além do ex-prefeito Arthur Virgílio (AM), que concorrem nas prévias, pressionam pela conclusão do pleito.

Aplicativo de votação de prévias no PSDB entre João Doria, Eduardo Leite e Arthur Virgílio - Divulgação PSDB

"A apuração da Faurgs apontou como causa mais provável um congestionamento de acessos incompatível com o número de eleitores cadastrados. Portanto, a Faurgs considera muito plausível a ocorrência de um ataque de hackers ao aplicativo, a partir das 8h15 —uma vez que desde às 7h o sistema funcionou perfeitamente, com cerca de 2.000 votos computados. Após isso, até o final da votação, ainda mil votos foram computados", diz a nota.

Segundo a fundação, 44.828 eleitores do PSDB se cadastraram no aplicativo, que teria condições de realizar a votação com esse número de acessos, pois testes nesse sentido já tinham acontecido.

"Em 21 de novembro, dia da votação, foi verificada uma demanda atípica de capacidade de processamento de dados entre 8h e 18h", afirma a fundação.

"Diante disso, a Faurgs esclarece que, nas condições normais contratadas, o software desenvolvido funcionou perfeitamente. A plataforma utilizada (Azure Microsoft) tem capacidade para muito mais acessos do que o tamanho do colégio eleitoral. A instabilidade, portanto, se deu por condições externas ao aplicativo", explica a entidade na nota.

Apesar de ter iniciado testes com outras empresas, o PSDB não descartou o aplicativo da Faurgs —mas esperava um diagnóstico da falha ocorrida até terça.

A Faurgs afirma que "garantidas as condições normais, o aplicativo está apto para sua utilização".

O contrato com a Faurgs, para criar o app, foi de cerca de R$ 1,3 milhão, sendo que aproximadamente metade do valor já foi paga. O partido não descarta renegociar o restante, alegando que a ferramenta não cumpriu seu propósito.

A Faurgs reitera que, com o cadastramento dos filiados na ferramenta, cumpriu 60% do contrato.

O texto lembra ainda que a ferramenta foi auditada pela empresa de segurança cibernética Kryptus, que apontou vulnerabilidades no sistema.

"A empresa independente que acompanhou o processo, escolhida pelo cliente, apresentou dois relatórios de avaliação. Como resposta, a Faurgs corrigiu, mitigou e controlou os riscos apontados. Todos os testes preliminares realizados na Faurgs demonstraram resultados satisfatórios de operação, considerando normas internacionais de segurança e performance", diz.

"O teste do sistema nas instalações do cliente ocorreu dia 18 de novembro e todas as medidas para viabilizar a operação foram implementadas", completa.

A Faurgs afirmou ainda que só pode apurar as causas da "anormalidade do sistema" se o PSDB fizer essa demanda e que essa investigação deve ser feitas por outras empresas especializadas, de forma independente da fundação.

Também por meio de nota, o partido afirmou que "cresce o alerta de que o PSDB pode ter sido vítima de um ataque de hackers".

"Independente de providências a serem tomadas pelo partido, cabe especialmente à fundação, como provedora da solução contratada (aplicativo, sistema de votação, infraestrutura e operação), realizar as devidas diligências para esclarecer o ocorrido", afirma a sigla.

A Faurgs informou ainda que os 3.000 votos computados no aplicativo estão "assegurados, com sigilo absoluto e contagem preservada".

Ex-presidentes do PSDB decidiram pedir ao partido que acione a Polícia Federal para investigar o possível ataque hacker.

Leite afirmou, em nota, endossar o pedido. "Isso não foi um ataque a um app, e sim ao próprio PSDB", disse.

"Desde o domingo da votação manifestamos nossa estranheza com o que aconteceu, com a demora de esclarecimentos e com a falta de informações claras. O presidente Bruno Araújo tem nosso apoio e confiança pra buscar a verdade sobre esse possível crime", completa o gaúcho.

A expectativa é que os resultados dos testes dos demais aplicativos alternativos sejam divulgados na manhã de quinta-feira (25). A partir daí, o partido escolheria a ferramenta e estabeleceria um novo cronograma de votação.

Internamente, o partido ainda confia ser possível concluir a votação até domingo por meio da votação via aplicativo. Isso porque seria a melhor forma de contemplar os quase 40 mil filiados que não puderam registrar seus votos —se o processo ocorresse via urna eletrônica, a capilaridade seria menor.

Leite, que defendeu a retomada em 48 horas, o que já não foi possível, diz querer que a votação prossiga assim que houver um mínimo de segurança para isso. Doria e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio, terceiro concorrente, propunham a retomada da votação no próximo domingo.

Na segunda-feira (22), o presidente do PSDB, Bruno Araújo, afirmou que o partido iria concluir o pleito até o próximo domingo.

No último domingo, o PSDB fez uma votação híbrida.

Num evento em Brasília, feito para anunciar o vencedor, mas que terminou de forma melancólica sem os resultados, puderam votar por meio de urnas eletrônicas os prefeitos e vices, deputados estaduais, deputados federais, senadores, governadores e vices e os ex-presidentes do partido.

Os filiados sem mandato e os vereadores deveriam votar pelo aplicativo, que não funcionou. A votação, que seria das 7h às 15h, foi ampliada para 18h e acabou suspensa. Outros tucanos do alto clero que não viajaram a Brasília e preferiram votar pela ferramenta online tampouco conseguiram votar.

No início do processo das prévias, o PSDB decidiu desenvolver do zero um aplicativo de votação próprio porque tinha a intenção de doá-lo aos demais partidos, incentivando prévias em outras legendas.

A ideia era alavancar o PSDB como o partido com expertise em votações internas, uma referência nacional numa iniciativa inovadora —imagem que já naufragou.

O contrato com a Faurgs, para criar o app, foi de cerca de R$ 1,3 milhão, sendo que aproximadamente metade do valor já foi paga. O partido não descarta renegociar o restante, alegando que a ferramenta não cumpriu seu propósito.

​A suspensão da votação agravou a divisão interna entre Doria e Leite, que voltaram a trocar acusações. Enquanto Doria e Virgílio propuseram retomar a votação no próximo domingo, a campanha de Leite quer a retomada mais imediata.

A avaliação de aliados de Leite é a de que o tempo corre contra o gaúcho, já que a capacidade de mobilização do PSDB de São Paulo é maior. Ou seja, Doria poderia virar mais votos até domingo.

Leite vem fazendo acusações a respeito de compra de votos e pressão do time de Doria sobre tucanos em São Paulo. O caso mais conhecido é a demissão do então secretário de Habitação da capital paulista, Orlando Faria, após declarar voto no gaúcho.

Ao todo, 44,7 mil tucanos (cerca de 3% do 1,3 milhão de filiados) se inscreveram para a votação indireta, em que cada grupo representa 25% da pontuação: filiados; prefeitos e vices; vereadores e deputados estaduais; deputados federais, senadores, governadores e vices, ex-presidentes do PSDB e o atual.

São Paulo, pela concentração de mandatários e filiados cadastrados, larga com 35% de peso nas prévias. Além do Rio Grande do Sul, Leite tem o apoio de estados chave no tucanato, como Minas Gerais e Mato Grosso do Sul.

O saldo de domingo para o PSDB foi de vexame e mais tensão entre Doria e Leite. Como mostrou o Painel, líderes de partidos da chamada terceira via veem o PSDB em frangalhos —uma união da sigla em torno do vencedor das prévias parece cada vez mais distante.

Araújo informou que de 62% a 65% dos votos, considerando os pesos desiguais dos grupos de votação, foram dados no domingo, pela urna e aplicativo. Os resultados estão blindados e não serão apurados até que haja a votação complementar.

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