A nova biografia do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que chega às livrarias nesta terça (16) é resultado de dez anos de trabalho do jornalista Fernando Morais, autor de biografias celebradas como a da militante comunista Olga Benário Prestes e a do magnata das comunicações Assis Chateaubriand.
Morais teve um grau de acesso ao líder petista que nenhum dos biógrafos anteriores teve. O escritor acompanhou Lula em viagens a 18 países e calcula ter realizado 170 horas de entrevistas com ele, além de ler uma centena das milhares de cartas que ele escreveu no período em que ficou preso em Curitiba.
Nos exemplos reunidos aqui, todos extraídos do livro de Morais, o ex-presidente fala de sua prisão pela Operação Lava Jato, das acusações que sofreu nos últimos anos, de sua intimidade e de episódios da sua trajetória no sindicalismo e da primeira campanha eleitoral que disputou, no início dos anos 1980.
Se o Moro quiser colocar tornozeleira em mim, vai ter que mandar cortar minha canela antes! E se ele juntar dez marmanjos para me segurarem e prenderem a tornozeleira contra minha vontade, vou à oficina da primeira esquina, pego um alicate e arranco ela fora! Sabe por quê? Porque eu sou inocente! E também não aceito prisão domiciliar. O Moro que vá colocar tornozeleira na canela da mãe dele! Na minha, jamais, porque eu sou inocente!
Meus caros, não se iludam. Isso é uma liminar de um juiz de plantão. Vai ser revogada amanhã, segunda-feira. Não posso entrar num avião aqui e ao chegar em São Paulo me dizerem: entra de volta, você está preso.
Ao desistir da candidatura, abri mão do meu mais importante instrumento de defesa. Naquele momento assinei minha sentença de morte eleitoral.
A minha prisão é Política. Só sai daqui com Política e não com ações Jurídicas. Portanto nada de desanimar, temos uma Batalha longa e dura pela frente.
No caso do triplex, caralho, tudo começou com uma matéria do jornal O Globo, que foi acolhida por um delegado canalha da PF, que passou para as mãos do canalha do [Deltan] Dallagnol, chegou ao canalha do Moro. Por fim chegou ao TRF-4, um bando de covardes, que mesmo sem ler ou analisar as provas, confirmaram o absurdo da sentença do Moro, porra.
Fui à zona pela primeira vez aos dezesseis anos. Me indicaram uma casa que era conhecida como 'o famoso 69' da rua dos Andradas. Era uma depravação total. Perdi minha virgindade com duas mulheres de uns setenta anos de idade.
Some daqui que você só vai atrapalhar. Se a polícia te pega, vão dizer que é a Convergência que está fazendo a greve.
Um dia apareceram uns companheiros na minha casa propondo juntar um grupo de quarenta, cinquenta peões. Eles pegariam um balde de gasolina, viriam por trás da viatura, despejariam o combustível sobre ela e meteriam fogo, com os tiras dentro. Eu achei que era uma loucura e não deixei fazerem isso.
Nossas campanhas pareciam prontuários policiais. Nossos candidatos pareciam um bando de fugitivos da cadeia. [...] A minha propaganda era assim: 'Luiz Inácio Lula da Silva — Ex-tintureiro. Ex-engraxate. Ex-metalúrgico. Ex-dirigente sindical. Ex-preso político. Um brasileiro igualzinho a você'. Mas ninguém queria ser igual a mim, caralho! O eleitor queria ser igual ao [Eduardo] Suplicy, que era rico, bonito, formado em economia, com pós-graduação no exterior.
Doeu muito. Entrei em desespero, perdi o rumo. Tinha uma única certeza: eu tinha acabado para a política. Foi um longo tempo em que vivi um vazio muito grande. Além da derrota acachapante, o sindicato já tinha uma outra diretoria. Eu levantava de manhã e não tinha o que fazer, ficava desesperado.
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