Acusação de violência põe fim a 40 anos de secretário no centro do poder de PE

Pedro Eurico entrega cargo após ex-esposa denunciar uma série de agressões; ele nega todas as acusações

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Recife

Acusado pela ex-esposa de agressões físicas e violência psicológica, Pedro Eurico, 70, pediu demissão na última terça-feira (7) do cargo de secretário de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco. A denúncia colocou fim a uma trajetória por diferentes partidos e governos do estado desde a década de 1980.

A economista Maria Eduarda Marques de Carvalho disse em entrevista à TV Globo no início desta semana que prestou queixas contra Eurico em delegacias ao longo de 21 anos, começando em 2000. O relacionamento teve início em meados dos anos 90.

Ex-secretário de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco, Pedro Eurico deixou o cargo após quase sete anos
Ex-secretário de Justiça e Direitos Humanos de Pernambuco, Pedro Eurico deixou o cargo após quase sete anos - Divulgação/Assembleia Legislativa de Pernambuco

Eurico sempre manteve influência no centro do poder, apesar de não ter tido grande expressividade eleitoral nas campanhas em que disputou.

Ele começou a militância política nos anos 1970, após se formar em direito. Participou de atos nas ruas contra a ditadura e fez a defesa de presos políticos e de moradores que faziam ocupações em terrenos.

No período, frequentava celebrações da Igreja Católica, onde conheceu o arcebispo Dom Helder Câmara, conhecido pelas críticas ao governo dos militares.

Com isso, decidiu disputar as eleições de 1982 no Recife. Filiou-se ao então MDB, que fazia o contraponto à ditadura, e se elegeu vereador da cidade. No mesmo ano, o governador eleito foi Roberto Magalhães, do PDS, ligado aos militares.

Em 1986, Pernambuco viveu um novo momento político, quando Miguel Arraes venceu a sua primeira eleição a governador após voltar do exílio de mais de 15 anos na Argélia.

No mesmo pleito, o ainda jovem na política Eurico se elegeu deputado estadual pelo MDB, aliado de Arraes. Logo que Arraes assumiu o cargo, o então deputado estadual foi alçado ao posto de secretário de Habitação.

Enquanto esteve como secretário no segundo governo Arraes, Eurico se filiou ao PSB, partido do governador. Foi pela legenda que ele disputou a reeleição de deputado estadual em 1990 e 1994, obtendo a renovação dos mandatos.

Nesse intervalo de quatro anos, foi um dos líderes da oposição ao governador Joaquim Francisco, do PFL, opositor de Arraes, ajudando a desgastar a imagem do então gestor, que quatro anos depois veria o socialista voltar ao Palácio do Campo das Princesas.

Com a proximidade junto a Arraes, conseguiu ser eleito presidente da Assembleia Legislativa de Pernambuco no biênio 1995-1996. Com a boa relação com o governador, emplacou aliados em postos-chave do governo e fez promoção da imagem pessoal enquanto chefe do Legislativo estadual.

Em 1998, Eurico se reelegeu para a Assembleia Legislativa, mas iniciava a partir de então uma mudança na sua trajetória política. Isso porque Jarbas Vasconcelos foi eleito governador de Pernambuco contra Arraes, que perdeu na tentativa de reeleição.

Antes aliados na luta contra a ditadura, Jarbas e Arraes romperam em 1992, quando o socialista queria emplacar o seu neto, Eduardo Campos, como candidato a vice-prefeito na chapa de Jarbas.

Jarbas barrou a indicação, o que abriu um racha entre aliados em comum de ambos, com uma ala seguindo o caminho de Jarbas, que se elegeu prefeito, e outra permanecendo junto a Arraes, como foi o caso de Eurico.

No entanto, após ser reeleito pela terceira vez deputado estadual, Eurico optou pelo pragmatismo do momento e se aproximou da então União por Pernambuco, formada predominantemente por MDB, PFL e PSDB, liderada por Jarbas.

Em 2000, filiou-se ao PSDB, com aval do então líder do partido no estado, Sérgio Guerra, que anos depois foi presidente nacional da legenda tucana.

Foi nesse ano, segundo a ex-esposa de Eurico, que houve a primeira queixa contra ele na Polícia Civil.

Na ocasião, ela relatou ter levado uma surra do marido e que ele teria invadido a casa com outras pessoas com uma arma na mão, fazendo ameaças de morte. Ela fez exames no Instituto de Medicina Legal, que apontaram lesão provocada por um instrumento contundente.

A prestação de queixa na ocasião não veio à tona para o público e tampouco foi suficiente para abalar a trajetória política de Eurico, que seguiu como um deputado estadual influente perante o governo Jarbas. As queixas seguiram até 2021, já durante o governo Paulo Câmara (PSB).

Em 2002 e 2006, Eurico conquistou mais duas reeleições de deputado estadual. Em 2010, foi derrotado e deixou o parlamento após mais de 20 anos.

Dois anos depois, assumiu a Secretaria da Criança e da Juventude no segundo mandato do governo de Eduardo Campos (PSB). O movimento fez parte de uma estratégia do governador para se aproximar do PSDB e de políticos da centro-direita.

Em 2014, Eurico não disputou eleições, mas foi nomeado secretário pelo governador eleito Paulo Câmara (PSB). Em declarações, o socialista disse que a escolha foi de cunho pessoal.

A passagem de Eurico pelo cargo, durante quase sete anos, foi marcada por declarações polêmicas.

Em 2016, ele disse em uma audiência na Assembleia que falava pelo celular com detentos de presídios, apesar da proibição de presos portarem aparelhos de comunicação nas unidades prisionais.

"Eu cometo hoje um ato irregular. Eu dei meu celular em todas as cadeias. Eu não queria dar meu celular. Por que? Porque eu estou admitindo que presos usem o celular. Mas eu vou ser cínico? Eu vou mentir? O celular existe e está lá. E eu dei o meu celular e disse: liguem a cobrar."

"Quem sofrer tortura, quem sofrer vilipêndio, quem tiver informação para dar. E eles ligam. Minha mulher não aguenta mais, coitada, porque eles ligam até de madrugada. Mas tem que aguentar, porque essa é a minha missão", afirmou.

Na pandemia, voltou a proferir falas polêmicas. Em março de 2021, enquanto o estado entrou em quarentena, Eurico defendeu a inclusão de concessionárias de veículos como serviços essenciais. Dois meses antes, minimizou o risco de contágio da Covid em ônibus lotados.

"O ônibus, por estranho que pareça, não é o maior causador, não é um vetor importante da contaminação porque o contágio é pelo tempo que você permanece e as pessoas permanecem pouco tempo nos ônibus."

Após as denúncias da ex-esposa, Eurico deixou o cargo na última terça.

Maria Eduarda obteve na Justiça direito a medida protetiva, mesmo após o processo de divórcio. O casal se separou em novembro. Em uma das gravações feitas por ela, o ex-secretário diz ter tido um sonho matando a então esposa.

Político nega as acusações da ex-esposa

Eurico nega as acusações. "As denúncias improcedentes de agressão datam de mais de dez anos e muitas destas foram retiradas pela suposta vítima perante a Justiça."

"Estivemos casados inicialmente, no período de 27 de setembro de 2003 e nos divorciamos em 30 de abril de abril de 2008."

"Ao longo dos últimos anos de convivência e de um novo casamento, realizado em 2012, cujo divórcio aconteceu em 8 de novembro deste ano, inexistem denúncias apresentadas pela senhora Maria Eduarda, causando estranheza o requerimento de medida protetiva justamente no período em que se discutia a possibilidade de uma dissolução consensual", diz o ex-secretário, em nota.

Na quarta-feira (8), o governador Paulo Câmara nomeou Eduardo Gomes de Figueiredo como novo secretário de Justiça. Ele é advogado e trabalha junto com Eurico desde 2007.

O novo ocupante da pasta ainda fez parte da defesa de Pedro Eurico durante o processo de divórcio com a ex-mulher do ex-secretário. Até então, Figueiredo era auxiliar de Eurico na secretaria.

Erramos: o texto foi alterado

O ex-secretário pernambucano Pedro Eurico tem 70 anos, não 60

 

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