Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Bolsonaro distorce dados e omite fatos na TV e é alvo de panelaço antes do Réveillon

Durante seis minutos, presidente ainda criticou governadores e voltou a se posicionar contra a vacinação de crianças

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) omitiu fatos e distorceu informações relacionadas ao combate à pandemia e às ações do governo nos últimos anos no pronunciamento de seis minutos que foi ao ar em rede nacional de rádio e TV na noite desta sexta-feira (31).

A fala foi acompanhada por panelaços em diferentes capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador e Florianópolis.

Bolsonaro durante o pronunciamento desta sexta - Reprodução/Vídeo

Em sua fala, numa tentativa de justificar o atraso da imunização contra a Covid-19 no país, que começou em janeiro do ano passado apenas em grupos prioritários, Bolsonaro afirmou que em 2020 "não existia vacina disponível no mercado".

Ele não comentou, no entanto, a decisão do governo brasileiro de rejeitar, naquele ano, uma proposta da farmacêutica Pfizer que previa 70 milhões de doses de vacinas a serem distribuídas ao longo de 2021.

A oferta estipulava o início de imunização em dezembro de 2020, com 1,5 milhão de doses e mais 3 milhões no primeiro trimestre de 2021. O Ministério da Saúde só firmou acordo com o laboratório em março de 2021, quando adquiriu 100 milhões de doses.

Somente no fim do pronunciamento, Bolsonaro falou sobre a situação da Bahia e do norte de Minas Gerais, locais afetados pelas fortes chuvas.

"Lembro agora dos nossos irmãos da Bahia e do norte de Minas Gerais, que neste momento estão sofrendo os efeitos das fortes chuvas na região."

"Desde o primeiro momento, determinei que os ministros João Roma [Cidadania] e Rogério Marinho [Desenvolvimento Regional] prestassem total apoio aos moradores destes mais de 70 municípios atingidos", disse.

Ao longo da semana, o chefe do Executivo foi criticado por manter o descanso em Santa Catarina e fazer ostentação de seu lazer nas praias no momento em que os baianos enfrentam os prejuízos provocado pela tragédia.

Bolsonaro viajou a São Francisco do Sul na segunda-feira para passar o Réveillon com a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e a filha mais nova, Laura.

Desde que chegou ao local, o presidente fez seguidos passeios de jet ski, provocou aglomerações, visitou uma pizzaria e um parque temático e disse não ter nenhuma intenção de interromper a sua folga no litoral.

No pronunciamento, ainda no contexto da pandemia, o presidente destacou como um dos feitos do Planalto a criação do auxílio emergencial, mas não citou as mudanças feitas pelo Congresso na iniciativa, que ampliaram o valor do benefício.

"Para aqueles que perderam sua renda, criamos o auxílio emergencial, onde 68 milhões de pessoas se beneficiaram. O total pago em 2020 equivale a mais de 13 anos de gasto com o antigo Bolsa Família."

No início da crise provocada pelo coronavírus, em março de 2020, a equipe econômica pretendia distribuir R$ 200 aos trabalhadores informais. Somente após críticas, Bolsonaro começou a defender o valor de R$ 600, que foi aprovado pelos parlamentares.

Na fala em cadeia de rádio e TV, ele ainda voltou a criticar o passaporte da vacina e a imunização de crianças de 5 a 11 anos de idade, ambos recomendados pela Anvisa (Agência de Vigilância Sanitária).

"Não apoiamos o passaporte vacinal nem qualquer restrição àqueles que não desejam se vacinar."

"Também, como anunciado pelo ministro da Saúde, defendemos que as vacinas para as crianças entre 5 e 11 anos sejam aplicadas somente com o consentimento dos pais e prescrição médica. A liberdade tem que ser respeitada", disse.

A postura do presidente sobre esses assuntos tem sido considerada inadequada por especialistas, que avaliam que a Anvisa já forneceu todas as informações técnicas necessárias para justificar a necessidade do comprovante de vacinação e de se vacinar os mais jovens.

Bolsonaro também repetiu o ataque aos governadores e prefeitos pelas restrições adotadas durante a pandemia com o objetivo de conter a disseminação do vírus.

"Com a política de muitos governadores e prefeitos de fechar comércios, decretar lockdown e toques de recolher a quebradeira econômica só não se tornou uma realidade porque nós criamos o Pronampe e o BEM, programa para socorrer as pequenas e médias empresas, bem como fomentar acordos entre empregadores e trabalhadores para se evitar demissões."

Nos outros trechos do pronunc iamento, o presidente citou ações realizadas pela gestão desde 2019 e disse que completa "três anos de governo sem corrupção".

A realidade, porém, é outra. O combate à corrupção, enaltecido por Bolsonaro, é tratado de maneira pouco enfática no governo. Sempre que confrontado com suspeitas envolvendo aliados, amigos e familiares, o presidente critica imprensa, Ministério Público e Judiciário, enquanto alvos são mantidos nos cargos.

Em novembro de 2018, após eleito, Bolsonaro afirmou que ministros alvo de acusações contundentes deveriam deixar o governo, o que não se concretizou na prática.

O ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo), por exemplo, seguiu no governo mesmo após ter sido indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público de Minas sob acusação de envolvimento no caso das candidaturas laranjas do PSL.

Desde que assumiu a Presidência, Bolsonaro contesta ações de órgãos de controle para investigar seu núcleo familiar.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é investigado em um esquema de "rachadinhas" na Assembleia do Rio. E o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) é suspeito de abrigar funcionários fantasma na Câmara Municipal do Rio.

No pronunciamento, ao comentar sobre a saída de ministros do governo, Bolsonaro afirmou que "alguns nos deixaram por livre e espontânea vontade. Outros foram substituídos por não se adequarem aos propósitos da maioria que me elegeu".

Ele omitiu, porém, o caso do ex-ministro Sergio Moro, que pediu demissão do Ministério da Justiça, em abril de 2020, não por esses motivos, mas por alegar interferência do presidente na Polícia Federal.

Bolsonaro também afirmou que levou "tranquilidade ao campo" e citou as medidas de flexibilização de posse e porte de arma de fogo no Brasil.

Dados divulgados pela CPT (Comissão Pastoral da Terra), braço da Igreja Católica que atua junto a minorias em zonais rurais e publica cadernos sobre o tema anualmente desde 1985, contradizem o presidente.

De acordo com a comissão, até o início de dezembro, foram registrados 103 óbitos por conflitos no campo em 2021, segundo dados preliminares adiantados à Folha e divulgados pela comissão. O número pode ser ainda maior, uma vez que o levantamento só estará consolidado para publicação no ano que vem.

Em relação à economia, Bolsonaro apresentou dados imprecisos ao afirmar que o Brasil termina 2021 com "um saldo de 3 milhões de novos empregos".

De janeiro a novembro, foram abertas 2,99 milhões de novas vagas. Porém, o resultado de dezembro ainda não foi divulgado. Os números do último mês do ano costumam ser negativos e devem reduzir esse saldo.

Ele também destacou que o país tem um saldo positivo de 5 milhões de empresas abertas, mas não esclareceu que dentro desse número estão incluídos os MEIs (microempreendedores individuais).

Leia a íntegra do pronunciamento

Boa noite.

Hoje nos preparamos para o início de um novo ano. O Bicentenário de nossa Independência.

Quis Deus que eu assumisse a presidência em 2019, e assumi um Brasil com sérios problemas morais, éticos e econômicos.

Formamos um ministério com pessoas capazes para enfrentar todos os desafios, ao longo do tempo, alguns nos deixaram por livre e espontânea vontade. Outros foram substituídos por não se adequarem aos propósitos da maioria que me elegeu.

Em 2019, aprovamos a lei da liberdade econômica, simplificamos as normas regulamentadoras, começamos novas obras e concluímos muitas outras inacabadas. Fizemos ressurgir o modal ferroviário, levamos tranquilidade ao campo, flexibilizamos a posse e o porte de arma de fogo para o cidadão e passamos a investir no brasil e não mais no exterior com obras bilionárias financiadas pelo BNDES.

Completamos três anos de governo sem corrupção. Já concluímos, com menor custo, centenas de obras paradas há vários anos. A transposição do Rio São Francisco finalmente já é uma realidade, e estamos levando mais água para o Nordeste. Somente nos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte, foram beneficiados 12 milhões de brasileiros em 390 municípios.

Já entregamos mais de um milhão e 200 mil do Programa Casa Verde e Amarela nas três faixas. Em 2020, lamentavelmente, surgiu a pandemia, onde mortes se fizeram presentes no mundo todo. Nessa batalha, o governo federal dispensou recursos bilionários para que estados e municípios se preparassem para enfrentar a pandemia.

Com a política de muitos governadores e prefeitos de fechar comércios, decretar lockdown e toques de recolher a quebradeira econômica só não se tornou uma realidade porque nós criamos o Pronamp e o BEM, programa para socorrer as pequenas e médias empresas, bem como fomentar acordos entre empregadores e trabalhadores para se evitar demissões.

Com isso, mais de 11 milhões de empregos foram preservados. Para aqueles que perderam sua renda, criamos o Auxílio Emergencial, onde 68 milhões de pessoas se beneficiaram. O total pago a 2020 equivale a mais de 13 anos de gasto com o antigo Bolsa Família. Mostramos nossa identidade ao socorrer os mais humildes, que tinham sido abandonados pelos que mandavam fechar tudo.

Encerramos 2021 com 380 milhões de doses de vacinas distribuídas à população. Todas adquiridas pelo nosso governo. Lembro que em 2020, não existia vacina disponível no mercado e a primeira pessoa vacinada foi no Reino Unido, em dezembro.

Todos os adultos, que assim desejaram, foram vacinados no Brasil. Fomos um exemplo para o mundo. Não apoiamos o passaporte vacinal, nem qualquer restrição àqueles que não desejam se vacinar. Também, como anunciado pelo ministro da Saúde, defendemos que as vacinas para as crianças entre cinco e onze anos sejam aplicadas somente com o consentimento dos pais e prescrição médica. A liberdade tem que ser respeitada.

Desde o início da pandemia, falei que deveríamos combater o vírus, cuidar dos idosos e dos com comorbidades e preservar a renda e o emprego dos trabalhadores.

Estamos concluindo 2021 com um saldo de 3 milhões de novos empregos e saldo também positivo de cinco milhões de empresas abertas, interrompendo uma série de meia década com saldos negativos. Adentraremos 2022 com a esperança de que tudo se volta à normalidade.

Já são mais de R$ 800 bilhões contratados pela iniciativa privada que vão gerar milhões de novos postos de trabalho somente nas áreas de infraestrutura. Isso é uma prova de que reconquistamos a confiança dos investidores, brasileiros e estrangeiros, o que possibilitará, também, a redução da inflação, consequência da equivocada política do ‘fica em casa, a economia a gente vê depois".

Já começamos a pagar o Auxílio Brasil, com o valor mínimo de R$ 400, programa melhor e mais abrangente que o antigo Bolsa Família, onde a média era de apenas R$ 190. O Auxílio Brasil vai ajudar 17 milhões de famílias mais necessitadas a superar suas dificuldades econômicas e sociais, agravadas pela pandemia.

Lembro agora, dos nossos irmãos da Bahia e do Norte de Minas Gerais, que neste momento estão sofrendo os efeitos de fortes chuvas na região. Desde o primeiro momento, determinei que os ministros João Roma e Rogério Marinho prestassem total apoio aos moradores destes mais de 70 municípios atingidos.

Hoje temos um governo que acredita em Deus, respeita seus militares, defende a família e deve lealdade ao seu povo. Um excelente 2022 a todos, que Deus nos abençoe.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.