Descrição de chapéu Eleições 2022

Bolsonaro, Lula, Moro, Doria e Ciro têm erros e acertos em falas recentes; veja checagem

Agência Lupa checou série de entrevistas e de publicações nas redes sociais dos presidenciáveis

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Bruno Nomura Nathália Afonso Plínio Lopes
Agência Lupa

Entre os possíveis candidatos à Presidência da República para as próximas eleições de 2022, cinco nomes têm se destacado nas pesquisas recentes de intenção de voto.

De olho na disputa, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente Jair Bolsonaro (PL), o ex-ministro Sergio Moro (Podemos), o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), têm dado uma série de entrevistas e publicado conteúdo nas redes sociais.

A Lupa analisou algumas das falas dos presidenciáveis. Veja o resultado.

Jair Bolsonaro, Lula, Sérgio Moro, João Doria e Ciro Gomes
Bolsonaro, Lula, Moro, Doria e Ciro - Alan Santos/PR, Divulgação, Agência Senado, Pedro Ladeira e Eduardo Knapp/Folhapress

Jair Bolsonaro

“Não tem [comprovação científica]. Tem muita incógnita sobre a vacina ainda, há muita coisa que ninguém sabe”

Jair Bolsonaro

Em entrevista ao site Poder360 no dia 5 de dezembro de 2021

FALSO

A eficácia das vacinas contra a Covid-19 está cientificamente comprovada. Todos os imunizantes aplicados no Brasil passaram por três fases de ensaios clínicos em seres humanos que envolveram dezenas de milhares de voluntários, mostrando-se seguros e eficazes.

Os resultados dos testes foram criteriosamente analisados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que aprovou seu uso emergencial.

Posteriormente, duas das vacinas, a da Pfizer e a da AstraZeneca, obtiveram registro definitivo, podendo ser comercializadas e distribuídas como qualquer outro medicamento no país.

De fato, diante da pandemia em andamento, ainda existem dúvidas como o tempo de duração da proteção conferida pelos imunizantes e os níveis de eficácia contra variantes do Sars-CoV-2 como a ômicron.

No entanto, mesmo que em um prazo mais curto que o comum, as vacinas em aplicação no país já cumpriram todas as etapas de avaliação exigidas para que pudessem ser utilizadas.

Além disso, já demonstraram na prática sua eficiência no combate à Covid-19, tendo sido diretamente responsáveis, segundo especialistas, pela drástica redução do número de casos e de mortes decorrentes da doença no Brasil.

Procurada, a assessoria de imprensa da Presidência não respondeu.

“O ICMS [sobre os combustíveis] incide, hoje em dia, no Brasil todo, sem exceção, em cima do próprio imposto federal”

Jair Bolsonaro

Em entrevista ao site Poder360 no dia 5 de dezembro de 2021

VERDADEIRO

O ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) incide sobre o chamado preço médio ponderado ao consumidor final, ou PMPF, uma estimativa produzida pelos estados, com base nas notas fiscais emitidas pelos postos, do preço médio dos combustíveis na bomba.

Na prática, todos os impostos já estão embutidos nesse valor, fazendo com que o ICMS também seja cobrado sobre ele próprio e sobre os impostos federais, aumentando a taxação.

As estimativas são informadas ao Confaz (Conselho Nacional de Política Fazendária), que publica esses valores em atos periódicos.

Dessa forma, ainda que a alíquota de ICMS permaneça a mesma, o valor arrecadado com o imposto estadual aumenta a cada nova alta do valor dos combustíveis.

Entretanto, o responsável pela escalada dos combustíveis é o preço praticado nas refinarias, puxado por fatores como a valorização do petróleo no mercado internacional e a desvalorização do real frente ao dólar.

O valor médio da gasolina vendida nas refinarias da Petrobras, por exemplo, passou de R$ 1,84 por litro em dezembro de 2020 para R$ 3,19 em outubro de 2021, data do último reajuste anunciado pela petrolífera. Só no acumulado deste ano, houve alta de 74%.

Lula

“O Enem, que já teve 16 milhões de pessoas inscritas (...)”

Lula

Em entrevista ao podcast Podpah, no dia 2 de dezembro de 2021

EXAGERADO

O Enem nunca atingiu a marca de 16 milhões de inscritos. Dados do Inep, instituição responsável por aplicar o exame, mostram que o número máximo de estudantes em uma única edição do exame foi 8,7 milhões.

Isso aconteceu em 2014, durante o governo Dilma Rousseff (PT). No governo Lula, o número de inscritos subiu 153%, de 1,8 milhão em 2002, antes de sua posse, para 4,6 milhões em 2010.

O Enem começou a ser aplicado em 1998, ainda durante o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Na primeira edição, 157 mil estudantes fizeram a prova. O exame atingiu a marca de 1 milhão de inscritos em 2001, e o número de participantes cresceu até 2014.

Após oscilações entre 2015 e 2016, a quantidade de pessoas fazendo a prova passou a cair, voltando ao patamar de 5 milhões em 2018 e chegando a 3 milhões em 2021.

Procurada, a assessoria de imprensa de Lula não respondeu.

“(...) Agora tem só 3 milhões [de inscritos no Enem]”

Lula

Em entrevista ao podcast Podpah, no dia 2 de dezembro de 2021

VERDADEIRO

Segundo o Inep, a edição de 2021 teve 3.109.762 inscritos. Esse é o número mais baixo desde 2005 e representa menos da metade dos participantes de 2014, ano com maior número de estudantes. Em 2020, foram 5.893.369 inscritos, mas apenas 2.795.369 de fato fizeram a prova.

Sergio Moro

“O Podemos votou contra essa resolução de organização do orçamento secreto”

Sergio Moro

Em entrevista ao programa Gaúcha Atualidade, da Rádio Gaúcha, no dia 3 de dezembro de 2021

EXAGERADO

Tanto na Câmara dos Deputados como no Senado Federal, o Podemos orientou os seus integrantes a votarem contra o Projeto de Resolução do Congresso Nacional n° 4, de 2021, que definiu regras para uso e publicidade de emendas encaminhadas por parlamentares ao relator do Orçamento.

Os repasses eram feitos sem qualquer transparência sobre os autores dos pedidos e a distribuição dos recursos.

Segundo os registros de votação da Câmara, no entanto, um deputado federal do Podemos votou a favor da proposta e três parlamentares não compareceram. Um senador do partido também faltou à sessão, que teve resultado apertado.

Sete deputados federais da legenda, presentes na sessão de 29 de novembro, foram contrários à medida: Bacelar (BA), Diego Garcia (PR), Igor Timo (MG), José Medeiros (MT), Léo Moraes (RO), Renata Abreu (SP) e Roberto de Lucena (SP).

O resultado mostra ainda que Josivaldo JP (MA) não seguiu o partido e votou favoravelmente ao projeto.

O site da Casa lista 11 parlamentares do Podemos em exercício – logo, três deles não estavam presentes na votação: José Nelto (GO), Ricardo Teobaldo (PE) e Rodrigo Coelho (SC). A proposta foi aprovada e teve 268 votos favoráveis, 31 contrários e uma abstenção.

Já no Senado, todos os oito integrantes do Podemos presentes votaram contra o projeto de resolução: Alvaro Dias (PR), Eduardo Girão (CE), Flávio Arns (PR), Jorge Kajuru (GO), Lasier Martins (RS), Oriovisto Guimarães (PR). Reguffe (DF) e Styvenson Valentim (RN).

O senador Marcos do Val (ES) foi o único que não compareceu à sessão. O placar final foi de 34 votos favoráveis e 32 contrários e, com isso, a proposta foi aprovada.

Procurada, a assessoria de imprensa de Moro não respondeu.

“Pegamos as lideranças da organização criminosa mais poderosa do país, o PCC (…), e isolamos em presídios federais”

Sergio Moro

Em evento de lançamento do livro ‘Contra o Sistema da Corrupção’, no dia 2 de dezembro de 2021

VERDADEIRO, MAS

Em 13 de fevereiro de 2019, em uma ação feita em conjunto com o Governo de São Paulo, o Ministério da Justiça e da Segurança Pública, na época comandado por Moro, transferiu 22 integrantes da cúpula da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) para presídios federais.

A ação, no entanto, não foi uma iniciativa de Moro, mas o cumprimento de uma determinação da Justiça de São Paulo, depois de ter sido descoberto, em 2018, que havia um plano de fuga e a possibilidade de atentados contra autoridades por parte de integrantes da organização.

O pedido de transferência dos líderes do PCC que estavam em presídios paulistas foi feito pelo Ministério Público de São Paulo em 28 de novembro de 2018 –ou seja, ainda durante o governo do presidente Michel Temer (MDB).

Na época, foi descoberto um plano de resgate ousado da cúpula da facção, que estava na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo.

A transferência só não ocorreu naquele ano porque a imprensa revelou o caso, que corria em segredo de Justiça.

No entendimento do juiz Paulo Eduardo de Almeida Sorci, da 5ª Vara de Execuções Criminais, responsável pela análise do pedido do MP, isso comprometeu o sigilo da operação de transferência, que, por isso, precisou ser adiada.

Segundo despacho de 14 de dezembro de 2018, o juiz decidiu esperar o encerramento da saída temporária de presos de regime semiaberto, no final daquele ano, para que a transferência fosse realizada.

João Doria

“Aqui no Governo de São Paulo, (...) 64% de todos os cargos diretivos são ocupados por mulheres. Secretarias, secretarias executivas, presidência de estatais, vice-presidências de estatais e autarquias e as suas diretorias. Não é 50%, é 64%”

João Doria

Em entrevista ao site Poder360 no dia 28 de novembro de 2021

VERDADEIRO, MAS

A pesquisa Participação das Mulheres em Cargos de Chefia na Administração Direta, produzida pelo Governo de São Paulo, mostra que as mulheres ocupam 64% dos cargos de chefia da administração direta paulista.

Dos 5.095 cargos, 3.253 são ocupados por mulheres –em postos como secretária de estado, secretária-executiva, chefe de gabinete, subsecretária, coordenadora, diretora técnica e diretora.

Porém, de acordo com a metodologia, o estudo leva em conta apenas as 24 secretarias estaduais, a Procuradoria-Geral do Estado e o Fundo Social –ou seja, não inclui as estatais e autarquias mencionadas por Doria.

Um levantamento da Lupa mostra que essas empresas têm 144 homens (79%) e 39 mulheres (21%) em suas diretorias. Porém, somados ao número total de cargos, a proporção continuaria em 64%.

Além disso, vale ressaltar que no primeiro escalão –que considera apenas os secretários de estado, a secretária-executiva e a chefia de gabinete–, a proporção de mulheres diminui consideravelmente.

Dos 76 cargos, apenas 23 são ocupados por mulheres –o equivalente a 30%. Já no segundo escalão –que agrupa os demais cargos–, são 3.230 mulheres em 5.019 postos.

“Temos o maior PIB do Brasil [em São Paulo]”

João Doria

Em entrevista à revista Veja no dia 06 de dezembro de 2021

VERDADEIRO, MAS

Em 2019, último dado disponível do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o estado de São Paulo teve um PIB (Produto Interno Bruto) de R$ 2,35 trilhões, ocupando a primeira posição entre as 27 unidades da federação brasileiras.

Porém, levando em conta a população de cada estado e calculando o PIB per capita, São Paulo cai para a segunda posição no ranking. O PIB paulista per capita é de R$ 51,1 mil sendo superado apenas pelo do Distrito Federal, que é de R$ 90,7 mil.

O PIB é a soma de todos os bens e serviços produzidos por um país, estado ou cidade em um respectivo ano. Em 2019, o PIB brasileiro foi de R$ 7,4 trilhões. Já o PIB per capita é calculado dividindo o PIB pelo número de habitantes da região para aferir a produção relativa ao tamanho da população. Em 2019, o PIB per capita brasileiro foi de R$ 35,1 mil.

Ciro Gomes

“Eu fico impressionado como é que os ditos partidos da esquerda velha brasileira não abrem a boca, não dão um piu [sobre o aumento do combustível no Brasil]”

Ciro Gomes

Em live transmitida no YouTube no dia 30 de novembro de 2021

FALSO

Ciro errou ao afirmar que os partidos de esquerda não falam sobre o aumento dos preços do combustível no Brasil.

Em novembro, o PT publicou em sua conta oficial do Twitter uma série de posts falando sobre o aumento da gasolina durante o governo Bolsonaro.

Na ocasião, o partido relatou que o preço já havia chegado a R$ 8 em alguns estados. O PC do B, outro partido de esquerda, também destacou essa informação em seu Twitter.

O aumento nos combustíveis também vem sendo alvo de publicações feitas por políticos de esquerda.

O ex-presidente Lula vem falando sobre esse tema em entrevistas recentes e em posts nas redes sociais. Em novembro, o petista afirmou que mudaria a política de preços da Petrobras.

"Digo em alto e bom som: nós não vamos manter essa política de preços de aumento do gás e da gasolina que a Petrobras adotou por ter nivelado os preços pelo mercado internacional. Quem tem que lucrar com a Petrobras é o povo brasileiro", disse, em entrevista à Rádio Gaúcha.

Em setembro, durante uma entrevista à rádio Capital FM 101.9, de Cuiabá (MT), Lula afirmou que não existia uma razão para o aumento do combustível.

"Só teria explicação subordinar o preço nacional ao internacional se o Brasil fosse importador de petróleo, mas o Brasil é autossuficiente. O que a Petrobras está fazendo é acúmulo de dinheiro para pagar os acionistas, principalmente os americanos. Não tem explicação aumentar o preço do combustível por causa do preço internacional."

Nas redes, Lula também afirmou que a gasolina e o gás de cozinha estão virando item de luxo para o brasileiro e criticou a política do governo Bolsonaro.

Outros políticos de esquerda também vêm se posicionando sobre o assunto. É o caso dos deputados federais Gleisi Hoffmann (PT), Paulo Pimenta (PT), Bohn Gass (PT), Jandira Feghali (PC do B), Glauber Braga (PSOL) e Talíria Petrone (PSOL), por exemplo.

Procurada, a assessoria de imprensa de Ciro Gomes afirmou que as falas dos políticos são "tardias, superficiais e esporádicas". A assessoria indica que Ciro, por outro lado, tem feito uma série de vídeos falando sobre esse assunto.

“O Brasil tá no 26º lugar como pior desempenho [econômico] entre todas elas [nações analisadas em um levantamento], mesmo vizinhos nossos aqui, enquanto o Brasil cai 0,1%. Eu tomei nota aqui. No trimestre, a Colômbia, nossa vizinha, teve um crescimento de 5,7%"

Ciro Gomes

Em live transmitida no YouTube no dia 7 de dezembro de 2021

VERDADEIRO

Divulgado no início de dezembro, um levantamento produzido pela agência Austin Rating mostra que o Brasil aparece na 26° colocação do ranking global de desempenho econômico.

Ao todo, foram 33 nações analisadas no terceiro trimestre deste ano para compor esse documento. Segundo a agência, o Brasil teve uma retração de 0,1% do PIB, fazendo com que o país entrasse em uma recessão técnica. Com essa posição, o país ficou atrás de vários vizinhos, como a Colômbia, cujo PIB cresceu 5,7% no terceiro trimestre deste ano.

Edição: Chico Marés e Maurício Moraes

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