Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Bolsonaro provoca oposição e 'anuncia' panelaço a favor do governo às 20h30 de hoje

Presidente fará pronunciamento de seis minutos na noite desta sexta-feira (31) em cadeia nacional de rádio e TV

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São Paulo

O presidente Jair Bolsonaro fez uma provocação aos opositores e, em post em suas redes sociais nesta sexta-feira (31), disse que um panelaço previsto para esta noite será em comemoração a três anos sem corrupção em seu governo.

O presidente fará às 20h30 um pronunciamento de seis minutos em cadeia de rádio e TV. O vídeo foi gravado no início da semana, em Brasília, antes de sua viagem de folga ao litoral de Santa Catarina.

"Hoje, dia 31 às 20h30, panelaço da esquerda para protestar contra o Governo Bolsonaro por estarmos, há três anos, sem corrupção", escreveu o presidente em suas redes sociais. No mesmo horário, adversários do presidente convocam um panelaço contra Bolsonaro.

O combate à corrupção, enaltecido por Bolsonaro, é tratado de maneira pouco enfática no governo. Sempre que confrontado com suspeitas envolvendo aliados, amigos e familiares, o presidente critica imprensa, Ministério Público e Judiciário, enquanto alvos são mantidos nos cargos.

Em novembro de 2018, após eleito, Bolsonaro afirmou que ministros alvo de acusações contundentes deveriam deixar o governo, o que não se concretizou na prática.

O ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo), por exemplo, seguiu no governo após ter sido indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público de Minas sob acusação de envolvimento no caso das candidaturas laranjas do PSL.

Desde que assumiu a Presidência, Bolsonaro contesta ações de órgãos de controle para investigar seu núcleo familiar, por exemplo.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é investigado em um esquema de "rachadinhas" na Assembleia do Rio. E o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) é suspeito de abrigar funcionários fantasma na Câmara Municipal do Rio.

Foi ainda no primeiro ano de mandato que tomou a decisão que mais impactou a agenda anticorrupção no país, na avaliação da maioria dos especialistas ouvidos pela Folha.

Para eles, apesar de legal, a indicação de Augusto Aras para o comando da Procuradoria-Geral da República, ignorando a lista tríplice dos procuradores, feriu a independência que o cargo demanda.

Crítico à atuação da Lava Jato, Aras travou diversas quedas de braço com os procuradores de Curitiba, até que, após um ciclo de desgaste perante à opinião pública e os indícios de parcialidade, a força-tarefa da capital paranaense foi dissolvida sem gerar comoção, como não ocorreria em outros tempos.

No campo político, para evitar a abertura de um processo de impeachment, Bolsonaro intensificou a ampliação de sua base aliada por meio da antes contestada política do tomá lá dá cá, com a entrega de cargos e recursos para parlamentares aliados do governo, em especial do chamado bloco do centrão.

Já na crise da Covid, as suspeitas de corrupção no contrato bilionário entre Ministério da Saúde e Precisa Medicamentos foram destaque e inauguraram uma nova fase da CPI da Covid, que pediu a punição de Bolsonaro por crimes contra a humanidade, prevaricação e charlatanismo.

A revelação de irregularidades num contrato de R$ 1,61 bilhão, destinado à compra da Covaxin, imunizante mais caro dentre os adquiridos pelo Ministério da Saúde, colocou o governo Bolsonaro na berlinda. Trouxe à tona ainda a existência de um verdadeiro balcão paralelo de vacinas no militarizado ministério.

A soma destes casos levou à demissão de Roberto Ferreira Dias do cargo de diretor de Logística da Saúde. Ele caiu horas após a Folha revelar que Dias, indicado do centrão, teria pedido propina para negociar as doses, segundo o cabo da PM Luiz Dominghetti.

Bolsonaro, um homem branco de cabeços castanhos grisalhos, vestindo terno escuro e com os braços abertos na frente do corpo, gesticulando enquanto fala. Ao fundo dele, uma bandeira do Brasil
O presidente Jair Bolsonaro durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília - Ueslei Marcelino - 24.Nov.2021/Reuters

O panelaço convocado para a noite desta sexta-feira ocorre no momento em que o presidente é alvo de críticas por fazer ostentação de seu lazer nas praias de Santa Catarina em meio à tragédia das chuvas na Bahia.

Como mostrou a Folha, as recentes cenas dos momentos de folga de Bolsonaro, enquanto a Bahia enfrenta crise, têm constrangido aliados e membros do governo federal.

Parlamentares da oposição ainda intensificam as críticas e cobram que o mandatário suspenda os dias de praia para liderar a ajuda diante da tragédia na Bahia.

Na última terça-feira (28), por exemplo, a hashtag #BolsonaroVagabund o entrou na lista de "assunto do momento" do Twitter. Já na quinta (30), Bolsonaro andou de trenzinho e participou de um show de derrapagens de carro no parque Beto Carreto.

Recente pesquisa do Datafolha mostrou que, para os brasileiros, Bolsonaro é o pior presidente da história do país. Ele é citado por 48% dos entrevistados, reflexo de sua queda de popularidade em razão da crise econômica e da má gestão da pandemia.

Em entrevista à Folha nesta semana, o governador Rui Costa (PT) diz que o enfrentamento às chuvas que assolam a Bahia e já causaram ao menos 24 mortes é o maior desafio de sua gestão.

As enchentes destruíram estradas, inutilizaram estoques de medicamentos e vacinas e deixaram mais de 90 mil pessoas desabrigadas ou desalojadas.

Questionado se aguardava a visita do presidente, Costa respondeu que não tinha essa expectativa. "O presidente durante toda a sua gestão demonstrava desprezo em relação à vida humana (...) Ele não demonstra nenhum sentimento em relação à dor do próximo", afirmou o governador.

​​Bolsonaro viajou a São Francisco do Sul na segunda-feira para passar o Réveillon com a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, e a filha mais nova, Laura.

Desde que chegou ao local, Bolsonaro fez seguidos passeios de jet ski, provocou aglomerações na praia, visitou uma pizzaria e um parque temático e disse não ter nenhuma intenção de interromper a sua folga no litoral.

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