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Eleições 2022 datafolha

Datafolha: Deterioração social explica liderança de Lula e pauta conservadora a resiliência de Bolsonaro

O tema combate à corrupção dilui-se em meio a cenário tão complexo e com problemas agudos em áreas essenciais

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Mauro Paulino e Alessandro Janoni

Diretor-geral do Datafolha e Diretor de Pesquisas do Datafolha

​A pesquisa divulgada pelo Datafolha que traz atributos associados aos candidatos à Presidência da República para o pleito do próximo ano revela parte do repertório que o eleitorado utilizará para a formação de seu voto e explica os resultados das pesquisas eleitorais observados até aqui.

O Datafolha primeiro perguntava a importância que os entrevistados creditavam a 14 itens de imagem sobre capacidades que o próximo presidente deveria ter. Depois, para cada quesito, questionava qual dos candidatos melhor representava aquele atributo.

Para se chegar a um índice total de adequação de cada candidato aos anseios da população, o instituto calculou uma média ponderada que combina as duas variáveis. O resultado ilustra a liderança folgada de Lula (PT) por sua experiência e sensibilidade social, a resiliência de Bolsonaro (PL) ancorada em pautas como valores e religião, e a falta de uma agenda plural aos candidatos de terceira via.

Lula é o que mais atende às expectativas do eleitorado segundo os 14 itens contemplados no estudo e alcança um escore de 53%. Seus pontos fortes, isto é, os que mais contribuem para sua liderança são os que se referem à defesa dos pobres, o combate à fome, sua experiência no cargo, a capacidade de fazer o país crescer, de reverter o desemprego e enfrentar o racismo. No extremo oposto, o petista não é tão associado à defesa dos interesses dos ricos, a valorizar Deus nas decisões políticas e ao combate à corrupção.

O presidente Bolsonaro totaliza grau de adequação de 26% aos anseios da população. Os principais vetores de composição de sua pontuação são o fato de "pensar em Deus na hora de tomar decisões políticas", a defesa dos valores tradicionais da família brasileira, o preparo para combater a violência e a corrupção. Seus pontos fracos, onde tem desempenho abaixo do que os eleitores esperam de um candidato a presidente são a defesa dos interesses dos pobres, capacidade para enfrentar o racismo e para cuidar do meio ambiente.

Sergio Moro (Podemos) aparece bem atrás com pontu ação equivalente à sua intenção de voto – 9%. Isso porque apenas dois tópicos têm peso significativo na composição de sua imagem – combate à corrupção e à violência.

Ciro Gomes (PDT) fica com 6% de adequação, com destaque para a capacidade de resolver problemas na área da educação. João Dória (PSDB) tem 4% no ranking do candidato ideal – seu bom desempenho na área da saúde é anulado por sua imagem elitista de defender os interesses dos ricos, algo pouco valorizado pelo eleitorado.

Lula adere mais à matriz de expectativas das mulheres, dos mais jovens, dos menos escolarizados, dos que têm menor renda, dos que se classificam pretos e dos que moram no Nordeste.

Bolsonaro tem seus melhores escores de candidato ideal entre os que estão na faixa acima de 44 anos, entre os que possuem renda superior a 5 salários mínimos, entre evangélicos e entre os que se dizem brancos e heterossexuais.

Montagem com Presidente Jair Bolsonaro e o ex Presidente Lula
Montagem com presidente Jair Bolsonaro e o ex -presidente Lula - Pedro Ladeira/Folhapress/ Miguel Schincariol/AFP

De um modo geral, os dados mostram que o agravamento da vulnerabilidade social provocado pela pandemia e pela má gestão da crise sanitária pelo presidente da República catalisam vetores como o combate à fome, ao desemprego, atenção à educação, à saúde e à população de menor renda, pontos que assumem protagonismo junto ao eleitorado e que são mais associados à experiência de Lula.

Perde espaço a pauta de comportamento e costumes, mas o apreço ao tema em segmentos específicos, mantém Bolsonaro no páreo. A comunicação de valores tradicionais com marcadores de apelo moral e religioso encontram respaldo principalmente entre evangélicos, onde decisões políticas com inspiração divina alcançam grau de importância de 9,3 pontos contra 8,5 da média da população.

O combate à corrupção, mantra lava-jatista de Sergio Moro, dilui-se em meio a cenário tão complexo e com problemas agudos em áreas essenciais. Até porque, como o Datafolha já mostrou em pesquisas anteriores, parcela importante dos brasileiros tolera a corrupção caso ela sirva para fins considerados nobres, como alimentar a população mais pobre e gerar empregos.

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