Descrição de chapéu Eleições 2022

Republicanos cobra alianças de Bolsonaro e ameaça desembarque em 2022

Agora filiado ao PL, presidente tem desafio de acomodar PP e sigla ligada à Igreja Universal em palanques

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Brasília

Uma vez encerrada a novela partidária de Jair Bolsonaro, com a escolha do PL de Valdemar Costa Neto, o presidente agora enfrenta o desafio de tentar acomodar os outros dois aliados, PP e Republicanos, e impedi-los de abandonar o barco em 2022.

Em seu discurso de filiação na semana passada, Bolsonaro fez um gesto aos dirigentes e citou-os nominalmente, Ciro Nogueira (PP) e Marcos Pereira (Republicanos).

"Pode ter certeza que nenhum partido será esquecido por nós. Não temos aqui a virtude de sermos o único certo, queremos, sim, compor nos estados", discursou no evento.

Ainda que as duas legendas tenham assento no primeiro escalão do governo (Casa Civil e Cidadania), o PP é considerado hoje o mais próximo do governo. A legenda quase filiou o chefe do Executivo, e, segundo negociações nos bastidores, deve ficar com a vice-presidência na chapa de Bolsonaro no ano que vem.

Agora, a principal tarefa de Bolsonaro é abrigar o Republicanos. Das legendas do centrão, a sigla é a que tem mais chance de desembarcar da candidatura de Bolsonaro em 2022.

O deputado Marcos Pereira, presidente do Republicanos, e Jair Bolsonaro em evento na Câmara
O deputado Marcos Pereira, presidente do Republicanos, e Jair Bolsonaro em evento na Câmara - André Coelho - 10.jul.2019/Folhapress

Segundo relatos, lideranças do partido já tratam dessa possibilidade num cenário em que Bolsonaro desidrate nas pesquisas, o que acham possível ocorrer.

Hoje o mandatário aparece como segundo colocado em pesquisas recentes, atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas o ex-juiz Sergio Moro aparece com potencial de crescimento.

Dirigentes de partidos do centrão e de centro-direita veem como um fator propulsor para um eventual desembarque do Republicanos do governo a disputa entre igrejas evangélicas que compõem a base de eleitores de Bolsonaro.

O Republicanos é ligado à Igreja Universal do Reino de Deus. Por mais que dirigentes do partido afirmem que a sigla é muito mais que um conglomerado de evangélicos, o entorno do bispo Edir Macedo, da Universal, que ainda tem forte influência sobre a legenda, diz que ele está cada vez mais nervoso com o governo.

A proximidade de Bolsonaro com o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, tem o distanciado de Macedo. Apesar da leitura de caciques partidários próximos do governo, dirigentes do Republicanos afirmam que a rixa entre igrejas não seria suficiente para definir os rumos políticos do partido.

Devido à briga entre as igrejas, uma ala de apoiadores de Bolsonaro tentou propagar a tese que a Universal não trabalhou pela indicação do ex-ministro à corte. Malafaia foi um dos principais fiadores do ministro "terrivelmente evangélico" André Mendonça, confirmado para vaga no STF (Supremo Tribunal Federal) em sabatina do Senado na semana passada.

O próprio presidente do Republicanos, Marcos Pereira, porém, atuou pela indicação do escolhido do Bolsonaro, assim como membros da Igreja Universal. André Mendonça, inclusive, esteve em reunião no Templo de Salomão do Rio de Janeiro, antes de ter a indicação formalizada ao STF.

Reservadamente, dirigentes do Republicanos condicionam a aliança com o presidente no próximo ano a mais espaço nos palanques regionais.

Bolsonaro chegou a adiar a filiação ao PL justamente por divergência sobre candidatos em alguns locais, em especial no Nordeste e em São Paulo, o que acabou sendo resolvido posteriormente, quando Valdemar Costa Neto cedeu aos pedidos do presidente.

Apesar do gesto, o mandatário é conhecido por não trabalhar na costura de palanques, o que é a preocupação número um de todos os dirigentes partidários. Bolsonaro se ocupa mais em vetar a esquerda, em especial o PT, e emplacar aliados de sua confiança.

Maior colégio eleitoral, São Paulo, por exemplo, é considerado estado chave para a eleição. Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), provável candidato do bolsonarismo no estado, tem as portas abertas nos três partidos.

O ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles, candidato dos sonhos de Bolsonaro para o Senado em São Paulo, tem conversas avançadas com o PL de Valdemar.

Integrantes do Republicanos, por exemplo, defendem que ao menos um dos dois nomes da chapa majoritária paulista seja do partido. Tarcísio já foi sondado pelo Republicanos para uma eventual filiação.

Goiás é outro estado que demandará do entorno de Bolsonaro cuidado maior na costura. O Republicanos quer lançar o deputado João Campos ao Senado. Já o PP tem o ex-ministro Alexandre Baldy como certo também. A tendência lá é ter os dois candidatos.

O partido da Universal também quer que o presidente acomode em seu palanque carioca o ex-prefeito Marcello Crivella —esse para a disputa ao Senado pelo Rio de Janeiro.

O plano inicial do pastor, ex-prefeito do Rio, era ser embaixador na África do Sul, mas o Planalto retirou seu nome após ter o nome ignorado por quase seis meses pelos sul-africanos, o que, na prática, significa objeção à designação.

No Rio, o PL diz estar fechada a chapa pelas reeleições do governador Cláudio Castro e do senador Romário.

Apesar dos vetos de Bolsonaro, no PP é quase um consenso que o partido não apoiará o presidente em todos os estados. Pelo contrário. No Nordeste, a tendência é a sigla ficar com Lula.

Na Bahia, a perspectiva, hoje, é que o PP apoie a candidatura de Jaques Wagner (PT-BA) ao governo do estado, por exemplo.

A depender de como se der a construção dos palanques estaduais e o desempenho de Bolsonaro nas pesquisas, dirigentes de outros partidos de centro apostam na aproximação do Republicanos com Sergio Moro (Podemos).

Ou até mesmo com Eduardo Leite (PSDB), caso ele resolva se filiar a outra sigla, como a União Brasil, que ainda será formada, e decida se candidatar à Presidência.

As perspectivas de poder na Câmara dos Deputados também poderão pesar para a composição do Republicanos com Bolsonaro e os outros partidos que darão sustentação à sua candidatura.

A aliança com o PP, por exemplo, passa pelo apoio de Bolsonaro e do PL à reeleição de Arthur Lira (AL) à presidência da Câmara em 2023.

Aliados de Marcos Pereira, presidente do Republicanos, relatam que Lira já sinalizou que poderia apoiá-lo em 2025. Isso pode ser um elemento importante nas contas do partido ligado à Universal.

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