Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Bolsonaro interrompe férias, é internado e mobiliza aliados após dias de desgaste

Presidente estava em SC e foi levado de madrugada para hospital de SP; ele fará exames para avaliação

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São Paulo e Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) interrompeu seus dias de férias no litoral de Santa Catarina em razão de um problema intestinal e viajou para São Paulo na madrugada desta segunda-feira (3), onde foi internado por volta das 3h para fazer exames.

O hospital Vila Nova Star, na zona sul da capital paulista, afirmou que Bolsonaro possui "suboclusão intestinal", uma obstrução no intestino. Em nota na noite desta segunda, diz que o presidente apresentou melhora clínica após passagem da sonda nasogástrica, evolui sem febre ou dor abdominal e fez uma curta caminhada pelo corredor do hospital. Ainda não há previsão de alta.

A necessidade de uma cirurgia será avaliada nesta terça (4), quando o cirurgião Antônio Luiz Macedo, médico responsável pelo tratamento do presidente após a facada sofrida em 2018, deve chegar ao hospital. Macedo também interrompeu suas férias, nas Bahamas.

O presidente Bolsonaro está deitado numa cama de hospital, com pijama claro e um acesso no nariz
Bolsonaro posta foto internado em hospital em SP após sentir dores abdominais - @jairbolsonaro no Twitter

O médico afirmou à Folha que, somente após avaliar Bolsonaro pessoalmente, saberá dizer sobre a possibilidade de uma cirurgia, mas afirmou que, até agora, os exames mostram uma situação parecida com a da última internação, em julho do ano passado, quando o procedimento acabou não sendo necessário.

"Provavelmente, não será necessário cirurgia", disse. "O quadro é semelhante ao da última vez", completou, com base nos relatos e resultados de exames que tem recebido.

No hospital, o presidente fez exame para Covid-19 e recebeu resultado negativo, em procedimento preventivo realizado pela unidade.

Bolsonaro afirmou ter sentido dores abdominais em Santa Catarina, após o almoço de domingo (2), o que levou à antecipação do fim da folga. A expectativa era que ele continuasse no litoral catarinense até esta segunda.

A internação ocorre em meio ao desgaste do presidente após uma série de críticas por não ter interrompido as férias diante das enchentes na Bahia. Bolsonaro seguiu com passeios de turismo em Santa Catarina e não sobrevoou as áreas atingidas.

Nesta segunda, o presidente publicou foto na cama de hospital, e seus familiares e aliados passaram a resgatar a memória da facada, tema que mobiliza sua base eleitoral.

"Mais exames serão feitos para possível cirurgia de obstrução interna na região abdominal", afirmou Bolsonaro nas redes sociais.

"É a segunda internação com os mesmos sintomas, como consequência da facada (6.set.18) e quatro grandes cirurgias", afirmou, lembrando sua última internação e o histórico de tratamentos após a facada.

Em 14 de julho de 2021, em meio ao desgaste do governo diante de acusações de propina na compra de vacinas reveladas pela CPI, Bolsonaro foi internado em São Paulo com obstrução no intestino —quadro ligado ao atentado durante a campanha presidencial de 2018. O presidente teve alta em 18 de julho e não passou por cirurgia.

Também na manhã de segunda, Macedo afirmou ao UOL que Bolsonaro faria tomografia e outros exames. "Ainda não sabemos, mas pode ser causado, por exemplo, por um alimento mal mastigado, entre outros fatores", disse.

Macedo foi um dos médicos que operaram Bolsonaro após o atentado e, desde então, acompanha a saúde do presidente. O cirurgião afirmou que voltará ao Brasil em um avião providenciado pelo hospital.

A Folha fez um orçamento de voo fretado das Bahamas a São Paulo com duas empresas e obteve custos de R$ 340 mil e R$ 680 mil. Questionado se o governo federal será cobrado pelo voo, o hospital não respondeu.

Médicos do hospital avaliaram inicialmente que a condição parece ser menos séria do que a de vezes anteriores em que o presidente foi internado, mas vão aguardar o parecer de Macedo para decidir se alguma cirurgia será necessária.

A equipe médica suspeita que a obstrução intestinal, com retenção de líquido na cavidade intestinal, seja resultado de má alimentação, não por excesso ou falta de atividades físicas.

Em julho, o tratamento clínico, com alimentação especial e retirada de líquido com sonda, foi suficiente para resolver o problema. As chances de que casos simples se resolvam apenas com o tratamento clínico costumam ser grandes, com possibilidade de 80% de sucesso.

Na época, como mostrou a Folha, a questão médica foi explorada por Bolsonaro e seus filhos nas redes ao resgatarem o atentado e acabou aumentando a popularidade digital do presidente, que estava em baixa em meio à crise na CPI e a protestos da oposição.

Desta vez, apoiadores, familiares e ministros de Bolsonaro também passaram a lembrar a tentativa de homicídio e pediram uma corrente de oração para o mandatário.

"Agradeço as orações e as mensagens de carinho recebidas pela internação do Jair decorrente do atentado que sofreu em 2018. Sequela que levaremos para o resto de nossas vidas", publicou a primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Diversos ministros e aliados de Bolsonaro também escreveram mensagens nas redes sociais após a internação hospitalar. Alguns destacaram que ela é consequência do atentado a faca promovido por Adélio Bispo de Oliveira contra Bolsonaro na campanha presidencial.

"Graças a Deus meu pai passa bem! Cada vez que ele passa por isso é impossível não se indignar com a mentira de que Bolsonaro tem discurso de ódio, quando na verdade ele é a vítima do ódio de um ex-militante do PSOL e de mal-amados hipócritas desejando sua morte", disse o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho mais velho do presidente.

Adélio foi filiado ao PSOL de 2007 a 2014, mas nunca militou. Ele foi considerado doente mental pela Justiça e, por isso, inimputável.

A Polícia Federal concluiu, em duas investigações, que Adélio agiu sozinho, sem nenhuma evidência real de que tenha sido auxiliado por outras pessoas ou obedecido a um mandante. Em novembro, a PF reabriu a investigação, agora com foco em Zanone Manuel de Oliveira Júnior, um dos advogados de Adélio.

Outro filho do mandatário, o vereador pelo Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos) também destacou o atentado.

"Basta simples olhada nas redes sociais em que o presidente expõe novas consequências da tentativa de assassinato que sofreu!"

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Luiz Eduardo Ramos, pediu nas redes sociais uma corrente de orações por Bolsonaro.

"Conclamo os amigos para uma corrente de oração pelo presidente da República Jair Bolsonaro. Ele está internado, em São Paulo, com obstrução intestinal, ainda como sequela da facada. Com a força de Deus e das nossas orações, prontamente ele estará de volta ao trabalho, que este ano será ainda mais duro".

Fábio Faria, ministro das Comunicações, disse por sua vez que a situação de Bolsonaro é consequência da facada e das cirurgias anteriores motivadas pelo atentado.

"Em oração pela rápida recuperação do presidente Jair Bolsonaro, que está internado em São Paulo com obstrução intestinal", disse Faria.

Ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP) afirmou torcer pela rápida recuperação do presidente.

"Minhas orações se unem às de milhões de brasileiros que torcem pela rápida recuperação do nosso presidente Jair Bolsonaro, que está internado para tratar uma obstrução intestinal. Estou certo de que em breve ele estará de volta para seguir trabalhando pelo povo do nosso país", afirmou.

O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, também disse que a internação é consequência da facada.

"O presidente pelo que eu tenho informação —ainda não tive boletim oficial— mas como vocês sabem, foi vítima de um atentado gravíssimo em 2018 e em função disso ele tem consequência; tem dores abdominais e achou por bem levar para o hospital lá em São Paulo, mas até onde eu sei o presidente está bem", afirmou na manhã desta segunda.

Nos últimos dias, as cenas dos momentos de folga do presidente no litoral catarinense, enquanto a Bahia enfrentava uma crise gerada pelas fortes chuvas, provocaram constrangimento em aliados e membros do governo federal.

Parlamentares da oposição ainda intensificaram as críticas e cobraram do mandatário que suspendesse os dias de praia para liderar a ajuda diante da tragédia na Bahia.

​Bolsonaro viajou a São Francisco do Sul (SC) na segunda-feira (27) para passar o Réveillon com a primeira-dama e a filha mais nova, Laura. Antes do Natal, ficou no Forte dos Andradas, em Guarujá (SP), entre os dias 17 e 23.

O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) retornou nesta segunda a Brasília após o período de ano novo. A previsão é que ele volte a despachar no gabinete da vice-presidência na próxima semana.

Segundo auxiliares, Bolsonaro deve permanecer no exercício da Presidência durante o tempo no hospital —como ocorreu em ocasiões anteriores. Mourão só deve assumir interinamente a Presidência caso Bolsonaro precise se submeter a uma cirurgia que o deixe momentaneamente inconsciente.

"Julgo que [Bolsonaro] continuará a exercer suas funções normalmente", disse o vice, ao ser questionado sobre o assunto.

Com UOL

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