Bolsonaro fala em interferências no Executivo horas antes de depoimento à PF

Ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou que presidente compareça à Polícia Federal nesta sexta-feira

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Brasília

A poucas horas do prazo determinado pelo STF para prestar depoimento à Polícia Federal (PF), o presidente Jair Bolsonaro (PL) falou em "interferências" no Poder Executivo.

"[Em 2021] enfrentamos também outras atribulações. Interferências no Executivo, as mais variadas possíveis", disse o presidente, em cerimônia nesta sexta-feira (28) no Palácio do Planalto.

"Sempre, da nossa parte, jogando com aquilo que nós temos e aquilo que nós juramos respeitar por ocasião da nossa posse, a nossa Constituição", completou Bolsonaro.

O presidente Jair Bolsonaro em evento nesta sexta-feira no Palácio do Planalto
O presidente Jair Bolsonaro em evento nesta sexta-feira no Palácio do Planalto - Pedro Ladeira/Folhapress

Ao falar em interferências, Bolsonaro comentava os desafios enfrentados pelo governo nos últimos anos. Ele não citou diretamente quem estaria realizando essas interferências, mas em outros momentos acusou o STF (Supremo Tribunal Federal), em especial o ministro Alexandre de Moraes, de fazê-lo.

Moraes é relator de inquéritos que tem Bolsonaro e seus aliados como alvo.

Nesta quinta-feira (27), o ministro do STF determinou que o presidente deponha na superintendência da Polícia Federal de Brasília no âmbito da apuração sobre vazamento de inquérito sigiloso do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) em live do presidente.

De acordo com o ministro, como Bolsonaro não indicou local, dia e horário dentro do prazo para ser ouvido pelos policiais, ele terá que comparecer na PF às 14h para o interrogatório. Caso não compareça, o presidente descumprirá uma ordem judicial. Caberá a Moraes definir medidas, ainda não especificadas.

No ano passado, Bolsonaro patrocinou uma crise entre Poderes, em especial por seus ataques à Justiça Eleitoral e a ministros do Supremo, sendo Moraes um dos principais alvos.

Em ato em São Paulo no 7 de Setembro, por exemplo, Bolsonaro chegou a dizer que não cumpriria decisões do Supremo e chamou Moraes de "canalha".

Diante das reações dos demais Poderes a aquelas ameaças, dias depois Bolsonaro deu um passo atrás diante de suas manifestações de cunho golpista e disse que nunca teve nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes —o texto de recuo foi redigido com a ajuda do ex-presidente Michel Temer (MDB).

Aquela mudança de tom de Bolsonaro, porém, apesar de elogiada pelos presidentes do Senado e da Câmara, sempre foi vista com ceticismo, em especial pelos magistrados do Supremo.

O depoimento marcada para esta sexta-feira está relacionado a inquérito para saber como vazou investigação sobre o ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral e que foi utilizada por Bolsonaro em agosto do ano passado para levantar a tese de fraude na eleição de 2018.

Além da responsabilidade pela divulgação dos documentos, a PF pretendia apurar como o deputado Filipe Barros (PSL-PR), relator da PEC do voto impresso, soube da existência do caso sigiloso em andamento no órgão.

A apuração foi solicitada pelo TSE e sua abertura foi ordenada por Moraes. O ministro do STF entendeu que o caso tem relação com o inquérito das fake news e se manteve como relator do caso.

O inquérito apura o vazamento de dados sigilosos.

Bolsonaro acessou e divulgou as informações sobre o ataque ao sistema do TSE após Filipe Barros, na condição de autoridade como parlamentar, pedir acesso à investigação ao delegado Victor Feitosa Campo, da superintendência da PF no Distrito Federal. O pedido foi atendido.

Na cerimônia desta sexta-feira, pela primeira vez, o presidente do PL, Valdemar Costa Neto, esteve no palco com o presidente. Bolsonaro filiou-se ao partido do centrão no ano passado para disputar a sua reeleição.

Líder do centrão e presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto participa de cerimônia no Planalto
Líder do centrão e presidente nacional do PL, Valdemar da Costa Neto participa de cerimônia no Planalto - Pedro Ladeira/Folhapress
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