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Filiação de integrantes do MBL ao Podemos dá palanque a Moro em SP

Com Arthur do Val e Heni Ozi Cukier, grupo monta chapa com candidato a governador, senador e deputados

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São Paulo

A filiação de membros do MBL (Movimento Brasil Livre) ao Podemos, prevista para esta quarta-feira (26), garante ao presidenciável da legenda, o ex-juiz da Lava Jato e ex-ministro Sergio Moro, um palanque pronto em São Paulo, estado estratégico na corrida eleitoral deste ano.

Surgido nas manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2014, o MBL tem projeto político próprio, participará de sua terceira eleição e já planejava lançar o deputado estadual Arthur do Val (Patriota), o youtuber Mamãe Falei, para o Governo de São Paulo em 2022.

O presidenciável Sergio Moro com integrantes do MBL durante congresso do grupo
O presidenciável Sergio Moro com integrantes do MBL durante congresso do grupo - Divulgação MBL

O grupo agora se associa à campanha de Moro e do Podemos no momento em que o ex-juiz se diz vítima de perseguição pelas tentativas de investigar seus ganhos na iniciativa privada.

O TCU (Tribunal de Contas da União) analisa se atos de Moro como juiz fragilizaram a situação econômica de empreiteiras considerando que, alguns anos depois, ele foi contratado pela empresa Alvarez & Marsal, responsável pela recuperação judicial da maioria delas. O PT estuda propor uma CPI sobre o caso.

Arthur afirma que a CPI "tem claro objetivo político". "Se eu fosse Moro, eu seria entusiasta dessa CPI. Vamos mostrar para todo mundo o que está acontecendo, aí fica claro e escancarado quem está falando besteira."

O evento de filiação será presencial, em um teatro na capital paulista, com a presença do ex-juiz, da presidente do partido, deputada federal Renata Abreu (SP), e do senador Alvaro Dias (Podemos-PR).

Segundo Arthur, a aproximação com Moro foi espontânea, teve início no ano passado, no processo de convencê-lo a ser candidato, e resultou na filiação. "Foi um pedido do Moro, ele que pediu pra gente estar junto no Podemos", diz o deputado estadual à Folha.

Para o Podemos, que definiu São Paulo como um estado prioritário na campanha de Moro, o MBL trouxe um palanque montado de candidatos ao governo, ao Senado, à Câmara e à Assembleia –algo importante para o ex-juiz, considerando que os demais presidenciáveis também terão representantes paulistas.

Da parte do MBL, que já se abrigou no DEM e no Patriota anteriormente, o Podemos é visto como um partido mais estruturado, com mais tempo de TV, por exemplo, e que se comprometeu a dar total liberdade para que o grupo aja de maneira independente –não seja obrigado a seguir orientações da sigla em votações, por exemplo.

Nas eleições municipais de 2020, o grupo lançou seus candidatos pelo Patriota e, para isso, negociou o controle total do diretório municipal do partido, o que não deve ocorrer com o Podemos. Arthur do Val foi candidato a prefeito de São Paulo e terminou em quinto lugar, com 9,78% dos votos.

Segundo Arthur, a migração é necessária porque o Patriota não se comprometeu a apoiar Moro, mas o deputado afirma que sua saída foi amigável e sem brigas.

Uma vez filiados ao Podemos, os membros do MBL prometem seguir com a prática de não usar o fundo eleitoral para financiar suas campanhas, o que elimina um motivo de atrito interno nos partidos.

Além de Arthur como postulante ao Palácio dos Bandeirantes, o grupo quer lançar o deputado estadual Heni Ozi Cukier (Novo) como candidato a senador na mesma chapa. Heni deve migrar para o Podemos na janela partidária, entre março e abril.

O MBL também planeja ter três candidatos a deputado federal no estado –Kim Kataguiri (DEM-SP), que concorrerá à reeleição; o vereador Rubinho Nunes (PSL) e a ativista Adelaide Oliveira.

O grupo tem outros seis nomes indicados para concorrer a deputado estadual. A maior parte dos pré-candidatos será filiada no evento desta quarta-feira.

Com a entrada do MBL, o Podemos projeta aumentar para até sete o número de deputados estaduais e chegar até a nove deputados federais eleitos. O Podemos elegeu três, mas hoje tem dois parlamentares na Câmara. Na Assembleia paulista, há quatro deputados atualmente.

Arthur afirma que Moro é a verdadeira terceira via, que rejeita o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL).

"A gente estava na nossa trincheira e, quando olhávamos para o lado, o cara estava lutando igual a gente. Repudiando projetos personalistas, com um histórico ilibado, defendendo o combate à corrupção. E estamos descobrindo no Moro uma defesa dos princípios liberais", diz.

O pré-candidato a governador afirma que o combate à corrupção não deve ser pauta única de Moro e lembra que o próprio MBL tem uma plataforma que vai além disso, defendendo reformas e enxugamento do estado.

Para Arthur, Moro não tem um projeto pessoal de poder –ou desistiria no primeiro revés, como a investigação sobre sua atuação no setor privado.

Em entrevista na segunda (24), Moro afirmou que a empresa de consultoria Alvarez & Marsal, que fica nos EUA, o contratou para atuar em uma área separada e sem relação com a atuação da mesma consultoria no Brasil, que atende a Odebrecht, construtora investigada na Lava Jato.

Arthur lembra que Lula, ao sair do Planalto, também multiplicou seu patrimônio dando palestras a empreiteiras que tinham contratos com o governo federal e rechaça a relação entre a atuação de Moro na Lava Jato e no setor privado.

"Quer dizer que o cara mobilizou o Ministério Público do país inteiro, fez a operação anticorrupção mais famosa do Brasil e conhecida mundialmente e prendeu um ex-presidente só para anos depois ficar alguns meses prestando serviço para uma empresa que tem como uma das funções a recuperação judicial?", questiona.

Arthur afirma ainda que sua candidatura é competitiva, e aliados lembram que ele ganhou musculatura com a eleição municipal, quando terminou à frente de nomes como Jilmar Tatto (PT) e Joice Hasselmann (PSL, de saída para o PSDB).

"Pela primeira vez nos últimos quase 30 anos, o PSDB tem chance de perder a eleição em São Paulo. A esquerda está rachada, e a direita bolsonarista também. São Paulo é o estado que mais rejeita Lula e Bolsonaro", diz o deputado.

"Temos um projeto completo, com chapa completa. É uma proposta muito sólida para São Paulo e um time muito unido", afirma Heni, que deve deixar o Novo devido a divisões internas e a adesões ao bolsonarismo em parte da legenda.

"O MBL talvez seja a maior força política organizada, com militantes e não populista do Brasil. E Moro está muito alinhado com aqueles que estão frustrados com o populismo. Não temos opções de grandes lideranças que conseguem falar com Brasil inteiro, e Moro tem a vantagem de transmitir ser uma pessoa ética, que quer trazer justiça", completa.

Além de Arthur em São Paulo, o Podemos por enquanto deve lançar candidatos a governador no Distrito Federal, Tocantins e Rondônia. Mas a campanha paulista é a mais estratégica.

Renata Abreu mira o Sul e o Sudeste como as principais regiões para alavancar a candidatura de Moro. O ex-juiz já tem uma rodada de viagens pelo interior de São Paulo programada para a próxima semana.

Segundo a presidente do Podemos, São Paulo é onde o partido tem uma de suas maiores forças, com 22 prefeituras, sendo cinco consideradas grandes: Osasco, Mogi das Cruzes, Rio Grande da Serra, Taboão da Serra e Itapevi.

"Se cresce 2% em São Paulo, cresce muito. Tem de fazer a construção muito bem nessas regiões. É melhor começar por onde o Podemos está bem construído e já tem grandes apoiadores", afirmou Abreu à Folha.

Segundo a pesquisa Datafolha de dezembro, Moro tem 9% das intenções de votos, atrás de Lula, com 48%, e de Bolsonaro, com 22%.

Moro tem mantido conversas também com a União Brasil, partido resultante da fusão entre DEM e PSL. Como mostrou a Folha, porém, a aliança ainda depende do desempenho do ex-juiz em pesquisas eleitorais e esbarra em candidaturas estaduais da nova sigla.

Os palanques regionais são um empecilho ainda maior para o avanço de conversas para um cenário considerado atualmente remoto: uma possível migração de Moro, que se filiou em novembro ao Podemos, ao novo partido.

Em São Paulo, por exemplo, a União Brasil já declarou apoio ao candidato do PSDB, o vice-governador Rodrigo Garcia, que por sua vez apoiará o governador João Doria (PSDB) para o Planalto.

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