Indefinição de Pacheco embaralha formação de palanques em Minas

Segundo maior colégio eleitoral do país, estado é alvo da ofensiva de nomes da terceira via

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Brasília

Considerado um dos estados-chave na eleição presidencial de outubro, Minas Gerais começa 2022 ainda como uma incógnita em relação aos palanques para os atuais líderes na intenção de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual mandatário, Jair Bolsonaro (PL).

Um dos principais motivos é a indefinição do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que é largamente apontado como candidato ao Palácio do Planalto, mas ainda não dá indicações de quando pretende colocar seu bloco na rua —a ponto de alguns no mundo político considerarem que seu momento já passou.

A indefinição do mineiro barra a movimentação de outras peças, o que acaba sendo um trunfo nas mãos do senador e também do presidente de seu partido, Gilberto Kassab.

O presidente do senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG) - Pedro Ladeira/Folhapress

A ofensiva de nomes da terceira via em Minas não é exclusividade dos pessedistas. Outros partidos apostam em alianças para montar uma estrutura no estado, seja para impulsionar candidaturas ou apenas para adquirir poder e barganhar composições de chapa.

Minas Gerais é o segundo maior colégio eleitoral do país. Segundo dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), nas eleições de 2020, eram 15,8 milhões os mineiros aptos a votarem, o que representava na ocasião 10,7% do total de eleitores brasileiros.

Isso naturalmente levaria os principais candidatos à Presidência a correrem para fechar alianças com os favoritos no estado, mas a situação segue bastante indefinida.

Os dois nomes favoritos para disputar o governo mineiro são os do atual governador Romeu Zema (Novo) e do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD). No entanto, nenhum dos dois consegue fechar alianças nacionais.

Kalil é o mais afetado com a indefinição de Pacheco. O prefeito da capital mineira já esteve em conversas para alianças com o PDT de Ciro Gomes e o PT de Lula em troca de palanque aos presidenciáveis. No entanto, se veria obrigado a apoiar o presidente do Senado, caso ele efetivamente lançasse sua candidatura.

"O PSD é sem dúvida o maior partido de Minas, com 10 deputados, 2 senadores, muita capilaridade, tem o prefeito de Belo Horizonte. Com certeza o PSD terá projeto próprio e o Kalil é competitivo", afirma o presidente estadual da legenda, Alexandre Silveira.

"Sobre Pacheco, é mais do que natural, tendo em vista que é presidente do Congresso, que ele seja prudente na sua avaliação sobre discutir política eleitoral, o que é super normal. As candidaturas só se colocarão de forma definitiva no final de março, princípio de abril", completa.

Pacheco foi eleito presidente do Senado em seu primeiro mandato e ganhou notoriedade ao liderar ações de enfrentamento à pandemia, em um momento em que o governo optava por propagar o negacionismo. Ao trocar o DEM pelo PSD, no fim de outubro, seu nome entrou nos cenários da disputa pelo Planalto.

No entanto, na mesma medida, ganhou força nos bastidores a versão de que sua candidatura serviria apenas para o PSD ganhar poder de barganha e indicar o vice —como o próprio Kassab— para compor chapa.

No fim de 2021, muitos caciques partidários apontaram que o nome de Pacheco perdera força e que ele próprio estava mais discreto em relação às eleições, parando de criticar publicamente o governo federal e o próprio presidente Jair Bolsonaro.

Neste mês, durante o recesso, ele continua optando pela discrição, enquanto os principais candidatos têm participado de eventos, de transmissões na internet e de entrevistas. Os líderes do PSD, no entanto, garantem que o partido terá candidato, seja Pacheco ou outro.

Seus aliados relatam que o presidente do Senado apenas optou por recuperar as energias, após um primeiro ano desgastante à frente do Congresso Nacional. A interlocutores mais próximos, Pacheco tem dito que segue com planos de lançar sua candidatura, mas aguarda para fazer uma análise mais completa do cenário.

Acrescenta que dificilmente vai largar a possibilidade de ser reeleito presidente do Senado, em fevereiro de 2023, se considerar que o ônus de uma candidatura seja maior que os benefícios.

Enquanto aguarda, no entanto, o presidente do Senado mantém seu poder de barganha e trava as alianças em Minas Gerais, não apenas a de Kalil.

Políticos mineiros apontam que o próprio Zema aguarda uma definição de Pacheco, para definir a quem vai ceder palanque, e que por isso se encontra numa situação difícil. Embora possa lucrar com o apoio de um candidato favorito a nível nacional, também teria muito a perder caso optasse por estar ao lado do adversário de um candidato a presidente de Minas Gerais, que faz questão de exaltar a sua mineirice e que optou por fazer o ato de filiação ao PSD no memorial Juscelino Kubitschek.

Adversários de Zema também apontam que o governador vive uma crise, entre estar ao lado ou não de Jair Bolsonaro. Ao mesmo tempo, Zema recebeu em Belo Horizonte o ex-ministro Sérgio Moro (Podemos) para discutir apoio.

"Bolsonaro em Minas decidiu apostar na candidatura de Romeu Zema. E depois, já governador, frequentou o Palácio do Planalto, uma vez por mês, pelo menos. Com a queda de popularidade, o que acontece? Ele começou a fugir do presidente", afirma o senador Carlos Viana (MDB-MG), que recentemente deixou o PSD e se tornou um dos nomes para o governo de Minas, de olho no eleitorado conservador.

A eventual candidatura de Viana também representa o avanço em Minas de outra sigla que lançou nome para o Palácio do Planalto no campo da terceira via, mas que também mantém aberta a possibilidade de compor chapa e por isso busca ativos políticos nos estados. O MDB lançou a senadora Simone Tebet (MDB-MS), mas seu nome já vem sendo associado a dobradinhas com o candidato do PSDB, o governador João Doria, e também com o ex-juíz Moro.

"O MDB está decidido a ter candidatura própria em Minas, até por uma questão de fortalecer a chapa para deputados federais", afirma o senador, que avalia que o fator travando as alianças está mais relacionado com o voto dos conservadores, que teriam ficado órfãos com o esfriamento da relação entre Zema e Bolsonaro.

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