Descrição de chapéu Eleições 2022

Petistas famosos sob Lula e Dilma saem dos holofotes e viram até banqueiro

Antes na linha de frente, nomes como Berzoini, Dirceu e Marco Maia estão na retaguarda ou até mudaram de profissão

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Brasília e Rio de Janeiro

O PT comandou o governo federal por mais de 13 anos, de 2003 a 2016, e planeja voltar ao poder com boa parte da equipe que compôs as gestões Lula e Dilma. Há, porém, um grupo que nesses últimos anos optou por abandonar a linha de frente e se dedicar a outras tarefas, inclusive fora do partido.

José Genoino, Marco Maia, Ricardo Berzoini, Tarso Genro, Olívio Dutra, Ideli Salvatti, Paulo Bernardo, João Paulo Cunha, Professor Luizinho, entre outros, tiveram papel nacional de destaque em algum momento nas gestões petistas, mas, por ora, não estão cotados para o staff de um possível novo governo Lula.

Marco Maia posa para foto
O ex-deputado e atual diretor-geral do banco digital LeftBank, Marco Maia - Divulgação/LeftBank

Presidente da Câmara dos Deputados de 2011 a 2013, Marco Maia (RS) não conseguiu se reeleger deputado federal em 2018 e hoje é diretor geral do LeftBank, uma fintech que se propõe ser o banco da esquerda.

Entre os produtos que pretende oferecer, está um cartão personalizado, com fotos de expoentes históricos da esquerda, como Karl Marx e Che Guevara, à escolha do cliente.

Maia disse à Folha que após um período sabático que tirou em 2019, resolveu tentar a nova experiência. Ele ressalta a promessa da ​fintech de empregar parte de seus ganhos em projetos como geração de renda e empoderamento de minorias.

"Sempre tem um debate sobre o papel do mercado, das instituições financeiras no mundo, mas na grande maioria dos casos as pessoas têm entendido bem [sua nova atividade profissional] porque é uma oportunidade de você direcionar seus recursos para algo que possa ter fim social, de apoio a projetos de interesse desse setor progressista", diz o ex-deputado.

Presidente do PT e ministro da Previdência, do Trabalho e das Comunicações nos governos Lula e Dilma, Ricardo Berzoini acabou se estabelecendo em Brasília em razão de questões familiares, e hoje é chefe de gabinete do deputado distrital Chico Vigilante, também do PT.

Ricardo Berzoini na porta da sala que ocupa no gabinete do deputado distrital Chico Vigilante
O ex-ministro e ex-presidente do PT Ricardo Berzoini no gabinete do deputado distrital Chico Vigilante (PT-DF), de quem é chefe de gabinete - Ranier Bragon/Folhapress

Ele mantém a militância interna, nos fóruns de debate da legenda.

"A vantagem agora é que o PT já não é uma alternativa desconhecida, já tem 42 anos de idade, sofreu com seus erros e acertos e vivenciou a dor de um cerco político grande que estourou nossas contradições, mas abusou de prerrogativas para impedir a continuidade do projeto. Temos, talvez, mais maturidade para encarar a possibilidade de presidir a República", afirmou.

Um dos mandachuvas do PT no início do governo Lula, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu sofreu condenações e prisões nos escândalos do mensalão e da Lava Jato. Foi solto em 2019 e, atualmente, atua nos bastidores do PT, mas sem cargo formal.

Aos 75 anos, o ex-ministro tem, inclusive, perfil em um aplicativo que é sucesso entre adolescentes, o TikTok.

"Querem me conhecer melhor? Eu nasci em Passa Quatro [MG]. Muito jovem, com 14 anos, fui para São Paulo. Fui office boy, trabalhei em almoxarifado, fui arquivista, relações públicas, depois fiz assessoria jurídica. E entrei para a PUC, fui líder estudantil, eu lutei contra a ditadura. Por isso fui preso e tive que sair do Brasil", diz o ex-ministro no vídeo em que se apresentou, em julho do ano passado.

José Dirceu

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Vídeo com José Dirceu

O então ministro da Casa Civil José Dirceu, em seu gabinete no Palácio do Planalto, em 2003, e no ano passado, se apresentando aos usuários do aplicativo TikTok - Bruno Stuckert - 10.abr.2003/Folhapress; e José Dirceu no TikTok

Outro dirigente petista que submergiu após o escândalo do mensalão, José Genoino ficou por muito tempo sem atuação política, mas voltou à agenda de debates internos alinhado à ala mais à esquerda no partido --contrária, por exemplo, à possível aliança de Lula com o ex-tucano Geraldo Alckmin.

"Só falo com alguns blogs alternativos, você me desculpe. Para a grande mídia, eu decidi desde 2005 não ser mais fonte, nem falar em off nem falar em on", disse o ex-presidente do PT (de 2003 a 2005) ao receber o telefonema da Folha , citando os jargões jornalísticos "on" e "off" —fontes que são ou não são identificadas na reportagem, respectivamente.

Em debate que participou na TV Fórum, ele comentou seu novo estilo. "Eu não estou brincando de radicalismo. Radical é a crise, que é ampla, múltipla e sistêmica."

Presidente da Câmara de 2003 a 2005, João Paulo Cunha também saiu de cena após sua condenação e prisão no mensalão —o Supremo Tribunal Federal perdoou sua pena em 2016—, mas prepara a volta.

João Paulo Cunha

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João Paulo Cunha preside sessão da Câmara
João Paulo Cunha tira selfie com simpatizantes

O então presidente da Câmara, João Paulo Cunha, em fevereiro de 2003, e em dezembro do ano passado - Sérgio Lima - 10.abr.2003/Folhapress; e João Paulo Cunha no Facebook

Ele promoveu evento de confraternização política em Osasco no final do ano cujo mote foi "a esperança de um Brasil melhor, com Lula e João Paulo", uma espécie de lançamento de sua pré-candidatura a deputado federal.

"Em 2022 eu estou muito seguro de que vai ser uma disputa político-ideológica. Para as pessoas mais pobres, para os evangélicos, além da gente falar da Bíblia, da crença em Deus, nós precisamos falar da situação concreta das pessoas. As pessoas empobreceram!", discursou na ocasião.

Outro que pretende voltar como candidato a deputado federal é o ex-ministro do Desenvolvimento e ex-governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel. Ele ficou fora do segundo turno na sua tentativa de se reeleger ao governo de Minas, em 2018.

"Eu não estava pensando em me candidatar, mas o Lula me chamou para conversar, ele está empenhado em fazer uma bancada forte na Câmara dos Deputados. E eu tenho um recall forte por ter sido governador. Não consegui ser reeleito em 2018, mas recebi 2,2 milhões de votos", afirmou Pimentel, que já teve alguns encontros com Lula, o último deles na última quinta-feira (27), em São Paulo.

Uma das mais combativas parlamentares e ministras da era PT, a ex-senadora Ideli Salvatti hoje tem um programa no canal do partido no YouTube em que entrevista prefeitos da legenda.

Ministra da Pesca, das Relações Institucionais e de Direitos Humanos no governo Dilma, Ideli descarta a hipótese de disputar um cargo eletivo.

"Vou fazer 70 anos. Lulinha vem com aquela de corpinho de 30 e tesão de 20. Isso é com ele. Não tenho condições físicas e emocionais", diz.

Ideli Salvatti

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Banner do programa de entrevistas da ex-ministra Ideli Salvatti

A ex-senadora e ex-ministra Ideli Salvatti, uma das principais defensoras dos governos do PT no Congresso, e que hoje apresenta um programa de entrevistas de prefeitos no canal do partido no YouTube - Danilo Verpa - 27.mar.2015/Folhapress e @idelioficial no Facebook

Aposentada pelo Senado, ela defende a renovação. "Foi uma decisão pessoal. Tenho quatro netos, dois filhos e um marido. Estou a mil trabalhando na secretaria nacional de assuntos institucionais [do PT]."

Um dos que praticamente desapareceram da cena política foi o ex-ministro do Planejamento Paulo Bernardo, ex-marido da atual presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Em 2016 ele ficou preso por seis dias, sob suspeita de desvio de recursos do Planejamento. O processo não avançou. Hoje aposentado pelo Banco do Brasil, Paulo Bernardo refugiou-se em um primeiro momento na casa da mãe, em Ribeirão Preto (SP). Atualmente vive em Brasília.

Outro que também "sumiu do mapa" foi o ex-deputado Professor Luizinho (SP), líder do governo Lula na Câmara em 2004 e 2005.

Ele não conseguiu se reeleger em 2006 e, dois anos depois também fracassou na tentativa de virar vereador em Santo André. Hoje coordena a pré-campanha a deputado federal do ex-prefeito de São Bernardo do Campo Luiz Marinho.

Ministro da Justiça, das Relações Institucionais e da Educação do governo Lula, o ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro, 74, se diz "petista de carteirinha" desde o início dos anos 80, mas nunca quadro "profissionalizado" do partido.

"Depois que presidi o partido na chamada 'crise do mensalão' fui, paulatinamente, reduzindo a minha atuação nas instâncias mais formais do PT e aumentando a minha participação em grupos internos informais do partido, das suas diversas correntes, e também participando de debates em partidos 'irmãos'", afirmou.

Atuando como advogado consultor em três escritórios, Tarso diz, porém, que nunca vai desativar a militância política.

Um dos fundadores do PT, ex-ministro das Cidades e ex-governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, 80, é membro da confraria dos bibliófilos e concilia seu tempo entre a militância e os cerca de 5.000 exemplares de sua biblioteca, situada dois pisos acima do apartamento onde vive com a mulher.

"Meu déficit de leitura é muito grande. Só agora li 'Guerra e Paz'", afirma.

Bancário aposentado pelo INSS, Olívio diz acreditar que política não é profissão, mas" compromisso e missão".

Dedicando-se a reuniões políticas e palestras, Olívio vai de vez em quando de ônibus ao município de São Luiz Gonzaga, onde ele e os irmãos costumam jogar bocha na propriedade rural que dividem. "Temos uma 'canchinha' sob as árvores. É lazer. Jogo com os amigos."

Petistas que saíram dos holofotes ou que até mudaram de profissão

Nome Cargos durante as gestões do PT O que faz hoje
José Dirceu Chefe da Casa Civil no governo Lula 75 anos. Sofreu condenações e prisões nos escândalos do mensalão e da Lava Jato. Foi solto em 2019 após o STF voltar atrás na questão do cumprimento da pena após a segunda instância. Participa informalmente das discussões internas do PT
Marco Maia Presidente da Câmara dos Deputados de 2011 a 2013 Diretor-geral do LeftBank, uma fintech que se propõe ser o banco da esquerda. Entre os produtos oferecidos, a fintech promete ofertar cartões personalizados, com fotos de expoentes históricos da esquerda
João Paulo Cunha Presidente da Câmara de 2003 a 2005 Organizou um ato político no fim de ano em Osasco, com a presença de 500 pessoas, e manifestou a possibilidade de concorrer a deputado federal. O banner do evento trazia a inscrição: "Esperança de um Brasil melhor, com Lula e João Paulo"
Paulo Bernardo Ministro do Planejamento e das Comunicações nas gestões Lula e Dilma Afastado do dia a dia do PT
José Genoino Ministro do Planejamento e das Co Deputado federal e presidente nacional do PT Depois de um tempo de afastamento da política, voltou a participar dos debates internos do partido, sem cargo formal, alinhado à ala mais à esquerda
Ricardo Berzoini Presidente do PT e ministro da Previdência, do Trabalho e das Comunicações nos governos Lula e Dilma Chefe de gabinete do deputado distrital Chico Vigilante (PT)
Professor Luizinho Líder do governo na Câmara em 2004 e 2005 Coordena a pré-campanha a deputado federal do ex-prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho
Guido Mantega Presidente do BNDES e ministro do Planejamento e da Fazenda nos governos Lula e Dilma Faz parte da equipe de aconselhamento de Lula na área econômica
Tarso Genro Presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, presidente do PT e ministro da Educação, Relações Institucionais e Justiça na gestão Lula. Foi também governador do Rio Grande do Sul de 2010 a 2014 Participa de debates internos da militância
José Eduardo Cardozo Presidente da Câmara Municipal de São Paulo durante a gestão de Marta Suplicy, deputado federal, ministro da Justiça e Advogado-Geral da União na gestão Dilma advogado; fora da militância
Fernando Pimentel Ministro do Desenvolvimento na gestão Dilma e governador de Minas Gerais de 2015 a 2018 Submergiu após não conseguir nem ir ao segundo turno na tentativa de reeleição em Minas, em 2018. Pretende concorrer a deputado federal
Olívio Dutra Ministro das Cidades no governo Lula. Antes, havia sido prefeito de Porto Alegre e governador do Rio Grande do Sul Aposentado
Ideli Salvatti Líder do PT e do governo no Senado, também foi ministra da Pesca, das Relações Institucionais e dos Direitos Humanos Apresenta um programa de entrevistas de prefeitos no canal do PT no YouTube

Mortes nos últimos anos de figuras relevantes para o partido

Ano

Nome e cargos nas gestões do PT

Causa da morte

2013 Luiz Gushiken - ministro da Secretaria de Comunicação de Governo na gestão Lula Vítima de câncer, aos 63 anos
2013 Marcelo Déda, governador de Sergipe Aos 53 anos, vítima de um câncer
2014 Márcio Thomaz Bastos, ministro da Justiça no governo Lula Aos 79 anos, vítima de problemas pulmonares
2015 José Eduardo Dutra - presidente do PT e presidente da Petrobras Vítima de câncer, aos 58 anos
2017 Marco Aurélio Garcia - Assessor da Presidência da República Aos 76 anos, de infarto
2017 Marisa Letícia, mulher de Lula Aos 66 anos, em decorrência de um AVC
2018 Sigmaringa Seixas - advogado, deputado federal e amigo de Lula Aos 74 anos, de parada cardíaca enquanto estava internado em decorrência de uma cirurgia para transplante de medula
2018 Waldir Pires - ministro da CGU e da Defesa na gestão Lula Aos 91 anos, em decorrência de uma pneumonia
2020 José Mentor, ex-deputado federal Aos 71 anos, vítima da Covid-19
2021 Duda Mendonça, marqueteiro da eleição de Lula em 2002 Aos 77 anos. Ele se tratava de um câncer e havia sido diagnosticado com Covid-19 ​
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