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Aliança entre Ratinho Júnior e líder de Bolsonaro põe Moro em risco no Paraná

Presidenciável do Podemos, ex-juiz da Lava Jato pode acabar isolado em seu próprio domicílio eleitoral

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Rio de Janeiro

A campanha do ex-juiz Sergio Moro (Podemos), pré-candidato à Presidência da República, sofreu um novo golpe no Paraná, com a aproximação entre o governador Ratinho Júnior (PSD) e o deputado federal Ricardo Barros (PP), líder do governo Jair Bolsonaro (PL) na Câmara.

A confirmação do apoio do PP-PR à reeleição de Ratinho, selada no início deste mês, aumentou as especulações de que Moro pode acabar isolado sem um palanque forte em seu próprio domicílio eleitoral, de onde despachava os processos da operação Lava Jato.

Eleito com apoio de Bolsonaro, Ratinho recebeu importantes investimentos federais para o Paraná em sua administração. Ao mesmo tempo, o Podemos de Moro compõe a base de seu governo e formou a chapa de sua campanha em 2018, com o senador Oriovisto Guimarães.

O governador Ratinho Júnior ao lado dos então aliados, Jair Bolsonaro e seu ministro Sergio Moro, em 2019 - Rodolfo Buhrer/La Imagem/Fotoarena/Agência O Globo

Desde o ano passado, Ratinho tem evitado falar publicamente sobre alianças, testando a possibilidade de oferecer palanque para mais de um candidato à Presidência e ganhando tempo até ser obrigado a se decidir por um lado.

Bolsonaro já sinalizou que não aceitará um palanque duplo com Moro na aliança do governador ou apoiará um candidato ao Senado ungido pelo ex-juiz.

Já o senador Alvaro Dias, principal articulador do Podemos no Paraná, também afirmou que o partido não abre mão do Senado na chapa de Ratinho —vaga que ele próprio pretende ocupar.

As condições apresentadas por Bolsonaro e Moro mostram que dificilmente haverá espaço para os dois na mesma chapa.

Conforme se aproxima o período da janela partidária, trocas de partido muitas vezes necessárias para a formação de alianças, também cresce a pressão para que Ratinho decida quem estará com ele nas eleições.

Nos últimos dias, o governador se reuniu com a família Barros para selar um acordo.

Estiveram no encontro o deputado federal Ricardo Barros, sua filha, a presidente do PP do Paraná, deputada estadual Maria Victoria Barros, e sua mulher, ex-governadora do estado e conselheira na Itaipu, Cida Borghetti (PP).

Na reunião, a família reforçou o compromisso em apoiar a reeleição de Ratinho e sugeriu que a vaga ao Senado na chapa pudesse ser ocupada pelo deputado estadual Guto Silva, ex-chefe da Casa Civil e aliado próximo do governador. Nesse arranjo, Guto deixaria o PSD e se filiaria ao PP.

O oferecimento do Senado a um aliado de Ratinho foi lido como um gesto de que Bolsonaro, na figura de Barros, está aberto ao diálogo para atrair o governador e construir uma aliança forte no estado.

Procurado pela Folha, Barros afirmou que "nós o apoiamos [Ratinho] para fortalecer o palanque de Bolsonaro".

Em nota enviada à reportagem, o PP do Paraná disse que já havia anunciado ao governador que pretendia um espaço na chapa, sendo na vice ou no Senado.

Além de Guto Silva, outros possíveis nomes, segundo a legenda, são o da deputada Maria Victoria, do prefeito de Londrina, Marcelo Belinati, do deputado federal Dilceu Sperafico, do deputado estadual Luiz Carlos Martins ou do ex-prefeito de Maringá, Silvio Barros II.

"A aliança é vista como natural, uma vez que ocorreu em vários municípios em 2020. Há consenso entre as duas siglas de que o clima de estabilidade política alcançado pelo Paraná deve ser priorizado em torno de uma aliança que seja melhor para o estado", diz a nota do PP.

Após o anúncio do acordo com a família Barros, Ratinho Júnior viajou a Brasília. A aliança com o PP foi firmada uma semana depois que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que apoiará o ex-governador Roberto Requião (sem partido), principal adversário de Ratinho no próximo pleito.

A aproximação com o PP do Paraná também ocorreu duas semanas depois que o deputado federal Filipe Barros (PSL) anunciou que poderia ser candidato ao governo paranaense para oferecer palanque a Bolsonaro.

Aliado do presidente, o parlamentar afirma ter sido procurado por membros da equipe de Bolsonaro, que teriam questionado se ele aceitaria colocar seu nome à disposição em caso de necessidade.

"O Paraná foi um dos estados mais atendidos pelo governo federal nesses últimos três anos e meio, e infelizmente o governador não se posiciona. (...) A determinação é que temos que ter palanque [para Bolsonaro]. Não havendo composição com Ratinho, será o meu", diz o deputado.

"Não nos interessa palanque duplo, não é um bom acordo. Não teremos vantagem alguma em dividir um palanque com o Moro e com o candidato a senador apoiado por ele. Interessa, sim, termos um candidato ao Senado apoiado pelo Bolsonaro e uma boa bancada de deputados federais, num palanque do presidente."

A entrada do parlamentar na disputa foi lida como uma forma de pressionar o governador para que ele escolha entre Moro e o presidente.

Interlocutores de Ratinho afirmam que, ao tomar essa decisão, ele precisará calcular qual será o menor prejuízo à sua campanha. De fora da chapa do governador, tanto Moro quanto Bolsonaro precisarão de um candidato próprio para ofertar um palanque no estado.

Assim, Ratinho terá que avaliar qual desses dois candidatos virtuais poderão oferecer maior risco à sua reeleição.

Para aliados, qualquer nome apoiado pelo presidente já arranca com um percentual mais consolidado, já que os eleitores de Bolsonaro são mais fidelizados. No caso do Podemos, é preciso saber quem de fato seria o candidato escolhido pelo partido se Moro ficasse de fora da aliança do governador.

O senador Alvaro Dias respondeu ao encontro entre Ricardo Barros e Ratinho afirmando que ele próprio poderá concorrer ao governo se a aliança que vinha construindo com o governador naufragar.

O senador Alvaro Dias, do Podemos-PR, ao lado de Sergio Moro no Senado - Saulo Rolim/Podemos

Há dúvidas, porém, se Dias realmente correria o risco de concorrer isolado, com poucos segundos de propaganda eleitoral na TV e com pouca estrutura partidária. Se perdesse, ele não teria nem o governo nem o Senado, ficando sem mandato após décadas de carreira política.

Ele diz à reportagem que outra opção para o governo, se um plano B for necessário, é o nome do senador Flávio Arns (Podemos).

"Estamos preservando uma coligação [com Ratinho], mas, se for rompida por alguma força estranha, aí teremos candidato ao governo e ao Senado", afirma.

"O partido mais expressivo do Paraná é o Podemos. Tem três senadores, Moro candidato a presidente, Deltan Dallagnol [ex-procurador] que é nome nacional. Tem que ser protagonista."

A insistência de Dias em compor com Ratinho, pretendendo a vaga ao Senado na chapa, gerou desentendimentos no próprio Podemos.

Defensor de uma candidatura própria ao governo, o ex-prefeito de Guarapuava, Cesar Silvestri Filho, deixou o comando estadual da legenda e filiou-se ao PSDB. Agora, concorrerá ao governo do Paraná, fornecendo um palanque ao tucano João Doria.

Silvestri era tratado como uma alternativa do Podemos ao governo, caso a aliança com Ratinho não se consolidasse. "Eu não me submeti a ser usado como simples moeda de troca ou instrumento de pressão", afirmou.

As dificuldades encontradas por Moro para estabelecer um palanque forte no Paraná se repetem em outros seis estados com o maior número de eleitores no país, como adiantou a Folha.

Ex-ministro de Bolsonaro, ele anunciou sua candidatura em novembro, quando diferentes alianças regionais já estavam estabelecidas.

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