Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Bolsonaro acumula frases preconceituosas contra diferentes alvos; relembre

Presidente já atacou nordestinos, indígenas, mulheres, LGBTs e japoneses e já foi condenado por falar em 'arroba' de negros

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São Paulo

O presidente Jair Bolsonaro (PL) tem acumulado frases preconceituosas contra diferentes alvos.

Nesta quarta-feira (5), durante uma live, Bolsonaro o analfabetismo no Nordeste para tentar explicar a derrota sofrida para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na região.

"Lula venceu em nove dos 10 estados com maior taxa de analfabetismo. Você sabe quais são esses estados? No nosso Nordeste. Não é só taxa de analfabetismo alta ou mais grave nesses estados. Outros dados econômicos agora também são inferiores na região", disse.

O presidente Jair Bolsonaro - Lucio Tavora - 4.fev.22/Xinhua

O mandatário culpou as gestões petistas na região pelos baixos índices de desenvolvimento.

"Esses estados do Nordeste estão há 20 anos sendo administrados pelo PT. Onde a esquerda entra, leva o analfabetismo, leva a falta de cultura, leva o desemprego, leva a falta de esperança. É assim que age a esquerda no mundo todo", afirmou em transmissão ao vivo nas redes sociais.

O Nordeste foi a região em que os dois principais candidatos tiveram a maior diferença de votos. Lula fez 67%, contra 26,8% de Bolsonaro.

Sobre as mulheres, já disse, por exemplo: "Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens. A quinta eu dei uma fraquejada e aí veio uma mulher".

Um dos casos aconteceu durante o debate presidencial no dia 28 de agosto.

O presidente Jair Bolsonaro atacou a jornalista da TV Cultura Vera Magalhães, que o questionou sobre vacinação.

"Acho que você dorme pensando em mim, você não pode tomar partido num debate como esse. Você é uma vergonha para o jornalismo", disse Bolsonaro exaltado.

Simone Tebet (MDB) saiu em defesa da jornalista e acusou o presidente de atacar mulheres. Bolsonaro, então, passou a mirar Tebet.

"A senhora é uma vergonha para o Senado, não vem com essa historinha de que eu ataco mulheres, de se vitimizar".

Ao longo dos últimos anos, frases com termos racistas também são comuns. Bolsonaro já disse que negros são pesados em arrobas.

Em conversa publicada nas redes sociais, ele lembrou que "já foi processado por isso" e voltou a usar a expressão que o levou a ser denunciado pela PGR (Procuradoria-Geral da República) pelo crime de racismo.

"Conseguiram te levantar, pô? Tu pesa o quê, mais de 7 arrobas, não é?", disse a um apoiador que aparece brevemente em gravação no Palácio da Alvorada, mas não é identificado.

No mês de julho, fez um discurso carregado na pauta de costumes, com expressões homofóbicas e transfóbicas, em Imperatriz (MA), ao receber uma comenda em um evento evangélico —segmento que é uma de suas apostas na campanha pela reeleição.

Ele defendeu que "o Joãozinho seja Joãozinho a vida toda", que "a Mariazinha seja Maria a vida toda" e repetiu que o seu modelo de família é composto por "homem, mulher e prole".

Ao defender barrar projetos de lei que não sejam conservadores, disse que no governo Lula (PT) houve tentativa de "desconstrução da heteronormatividade".

"O que nós queremos é que o Joãozinho seja Joãozinho a vida toda. A Mariazinha seja Maria a vida toda, que constituam família, que seu caráter não seja deturpado em sala de aula."

O presidente tem histórico de falas preconceituosas. Em janeiro de 2020, durante transmissão em suas redes sociais, ele mirou os indígenas. "Com toda a certeza, o índio mudou. Está evoluindo. Cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós", afirmou.

Antes disso, em ataque a uma jornalista, Bolsonaro acabou acertando outro alvo: a comunidade de japoneses e descendentes no Brasil.

Ao criticar a jornalista Thaís Oyama, que havia lançado um livro sobre o primeiro ano do presidente no Palácio do Planalto, Bolsonaro afirmou que, no Japão, ela morreria de fome com jornalismo. Descendente de japoneses, Thaís é brasileira. O presidente afirmou não saber o que ela faz no Brasil.

RELEMBRE ALGUMAS FRASES PRECONCEITUOSAS DO PRESIDENTE:

O que nós queremos é que o Joãozinho seja Joãozinho a vida toda. A Mariazinha seja Maria a vida toda, que constituam família, que seu caráter não seja deturpado em sala de aula

em fala homofóbica a evangélicos, em jul.2022

Conseguiram te levantar, pô? Tu pesa o quê, mais de 7 arrobas, não é

ao se dirigir a um apoiador, em mai.2022

Está cheio de pau de arara aqui e não sabem que cidade fica padre Cícero?

Para se referir a nordestinos, em fev.2022

[Um estado com] governo do Partido Comunista do Brasil. Já repararam que os países comunistas geralmente o chefe é gordo? Coreia do Norte? Venezuela? É gordinho, né? Maranhão

em jan.2022, sobre o governador do Maranhão, Flavio Dino

Com toda a certeza, o índio mudou. Está evoluindo. Cada vez mais o índio é um ser humano igual a nós

em jan.2020, durante live em rede social

Esse é o livro dessa japonesa, que eu não sei o que faz no Brasil, que faz agora contra o governo

em jan.2020, referindo-se à jornalista Thaís Oyama, que é autora do livro "Tormenta" e brasileira

O Hélio vai para a China comigo. Eu falei: 'Tem algum problema? É só você fazer assim [puxando as pálpebras para os lados] que ninguém vai te achar na multidão

em out.2019, durante live em rede social, com o deputado Hélio Lopes (PSL-RJ), que é negro, a seu lado

Daqueles governadores de paraíba, o pior é o do Maranhão [Flávio Dino, do PC do B]. Tem que ter nada com esse cara

em jul.2019, em conversa com o ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, durante café da manhã com jornalistas

Tudo pequenininho aí?

em mai.2019, ao posar para foto com estrangeiro de feição asiática; presidente fez gesto com os dedos, em insinuação sobre órgão sexual

Quem quiser vir aqui [ao Brasil] fazer sexo com uma mulher, fique à vontade. O Brasil não pode ser um país de turismo gay. Temos famílias

em abr.2019, durante café da manhã com jornalistas

Podemos perdoar, mas não podemos esquecer [o Holocausto]. E é minha essa frase: quem esquece seu passado está condenado a não ter futuro

em abr.2019, durante encontro com evangélicos no Rio de Janeiro

A criação de campos de refugiados, talvez, para atender aos venezuelanos que fogem da ditadura de seu país. Porque do jeito que estão fugindo da fome e da ditadura, tem gente também que nós não queremos no Brasil

em nov.2018, já eleito presidente, durante evento militar no Rio de Janeiro

No Japão tem pena de morte. Tinha um japa gordo, de uns 8 arrobas, que foi pego uns dez anos atrás botando gás sarin no metrô. Foi executado no ano passado

em ago.2018, durante ato da campanha eleitoral no Rio de Janeiro

Fui num quilombola em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas. Não fazem nada. Eu acho que nem para procriador ele serve mais

em abr.2017, na mesma palestra no Rio

Eu tenho cinco filhos. Foram quatro homens. A quinta eu dei uma fraquejada e aí veio uma mulher

em abr.2017, na mesma palestra no Rio

O que a lei diz

Racismo
A lei nº 7.716, de 1989, que dispõe sobre os crimes de discriminação, considera racismo o ato amplo de preconceito, que atinge uma coletividade indeterminada de indivíduos. A maioria das situações descritas na lei envolve condutas como impedir alguém de frequentar um estabelecimento ou negar emprego por causa da cor da pele. As punições variam conforme o ato, mas vão de um a cinco anos de reclusão

Homofobia
Embora não haja na legislação brasileira a criminalização da homofobia e da transfobia, ela é possível devido a uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), que equiparou ambas as condutas ao crime de racismo até que o Congresso Nacional aprove uma legislação sobre o tema

Injúria racial
Previsto no Código Penal, o crime consiste em "injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro" (pena de multa e detenção de um a seis meses). Quando a ofensa faz referências a raça, cor, etnia, religião, origem ou condição de pessoa idosa ou com deficiência, a pena é aumentada (o tempo máximo de reclusão passa para três anos)

Xenofobia
Falas e gestos que denotam aversão a estrangeiros entram na previsão de injúria. O parágrafo do Código Penal que especifica os agravantes cita origem da pessoa ofendida como um dos fatores que podem aumentar a pena, em caso de condenação do agressor (o tempo máximo de reclusão é de três anos). A lei 7.716 também assegura punição aos crimes de discriminação em razão de procedência nacional

Decoro
A lei nº 1.079, de 1950, que tipifica o impeachment, define como crime de responsabilidade todos os "atos do presidente da República que atentarem contra a Constituição Federal", especialmente contra a probidade na administração e outros pontos. E, entre os crimes contra a probidade na administração, está "proceder de modo incompatível com a dignidade, a honra e o decoro do cargo"

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