Bolsonaro ataca Lula e adota tom eleitoral em evento de banco com empresários

Presidente se exalta, pede que pessoas com 'responsabilidade' tomem posição e questiona: 'É isso que queremos para o Brasil?'

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) atacou nesta quarta-feira (23) o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em evento do mercado financeiro, chamou petistas de "bandidos" e provocou "pessoas com responsabilidade" a tomar posição.

Bolsonaro começou sua participação no evento do banco BTG Pactual já em tom exaltado, reconheceu que o país está polarizado, e questiona aos participantes: "Como o Brasil estaria se essas medidas aqui fossem implementadas?".

Então, o chefe do Executivo lê uma lista de 16 itens, como revogar a autonomia do Banco Central, a reforma trabalhista e a da Previdência, interferir na política de preços da Petrobras, até medidas da pauta "de costumes", como campanha para recolher armas e legalização do aborto.

"O outro lado defende exatamente tudo isso aí", em referência à campanha petista. Hoje Lula lidera as pesquisas de intenção de voto.

Bolsonaro durante cerimônia no Planalto - Evaristo Sa/AFP

O presidente segue comparando um eventual futuro do país com os vizinhos, Venezuela, Argentina e Chile. Relembra ainda da distribuição de ministérios, bancos oficiais e comandos de estatais entre aliados.

"É isso que nós queremos pro Brasil? Dá para deixar tudo rolar numa boa?", questionou o mandatário no evento com empresários.

"Isso já não é suficiente para pessoas com responsabilidade tomar posição? Não é com a economia, não. É com a vida, liberdade, futuro do nosso país. Nós sabemos o que vai acontecer com essa pátria se esses bandidos voltarem para cá."

A declaração inflamada do presidente ocorreu ao lado dos ministros Ciro Nogueira (Casa Civil) e Paulo Guedes (Economia). Virtualmente, de outra sala, participou ainda Tarcísio de Freitas (Infraestrutura).

Nogueira, que se tornou um dos principais nomes da gestão Bolsonaro, desde quando entrou no governo em agosto do ano passado, é dirigente do PP, partido que esteve na base dos governos petistas.

Horas antes da declaração do mandatário, o sócio sênior do BTG Pactual, André Esteves, disse que há aspectos positivos nas duas candidaturas, tanto de Lula, quanto de Bolsonaro.

"Prefiro olhar o copo meio cheio dos dois lados dos candidatos líderes."

Na avaliação do executivo, quando Lula assumiu pela primeira vez, em 2003, de mostrou "totalmente palatável" e fez um ótimo governo. Bolsonaro, por sua vez, tem muitas declarações "inapropriadas", mas o seu governo "vai andando".

Em sua fala no evento, o presidente repetiu ainda uma fórmula que tem usado em todos seus discursos em que pede apoio: as futuras indicações para ministros do STF (Supremo Tribunal Federal). No próximo ano, o presidente terá mais duas vagas na corte –um dos principais alvos de Bolsonaro.

Então, o chefe do Executivo atacou, mais uma vez, ministros da corte. "Os ministros têm, Paulo Guedes tem, eu tenho limites. Alguns poucos, dois ou três [referência aos ministros do STF], acham que não têm limites. Podem ficar brincando o tempo todo de nos controlar e desrespeitar nossa Constituição", disse.

Bolsonaro não nomeou, mas faz referência aos ministros Edson Fachin, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes. Os ataques voltaram a escalar na última semana, quando houve troca no comando do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), e Fachin assumiu a presidência.

O chefe do Executivo reagiu a falas do novo presidente da corte eleitoral, chamando-os de "adolescentes". Nesta quarta-feira (23), se queixou da determinação de Moraes de prender aliados, como o deputado Daniel Silveira (PTB-RJ) e o presidente do PTB, Roberto Jefferson. De acordo com o presidente, a liberdade de expressão foi ferida.

Aos empresários, Bolsonaro também jogou dúvidas sobre o sistema eleitoral, motivo de confronto entre ele e os ministros do TSE: "Mais onde vamos chegar? De termos um sistema eleitoral que você pode não comprovar, que não é fraudável, mas você não tem como comprovar também que não pode ser fraudado".

Provocado sobre questões econômicas, Bolsonaro repassou boa parte das respostas ao ministro da Economia, Paulo Guedes, que estava posicionado ao lado do presidente. Em uma de suas intervenções, o ministro indicou que o governo pretende reapresentar programas que pretendem incentivar a geração de postos de trabalho.

As iniciativas chegaram a ser inseridas pela Câmara dos Deputados, em acordo com o governo, em uma MP (medida provisória) ao longo do ano de 2021, mas o texto acabou sendo derrubado pelo Senado Federal, em uma derrota para Guedes e para o ministro Onyx Lorenzoni (Trabalho e Previdência).

Um dos programas buscava desonerar a contratação de jovens de 18 a 29 anos e pessoas com mais de 55 anos. Outro previa a concessão de bolsas de qualificação para os profissionais mais jovens ou que estão há muito tempo fora do mercado de trabalho, sem previsão de pagamento de 13º ou FGTS (Fundo de Garantia por Tempo de Serviço). As medidas foram criticadas por parlamentares pelo risco de fragilização de regras trabalhistas.

Sem dar detalhes, Guedes disse que as medidas devem ser resgatadas pelo governo. "Nós pretendemos reapresentar, e isso pode criar dois milhões de empregos, fora o ritmo de absorção [regular]", disse o ministro da Economia. Segundo ele, sem os programas já há uma expectativa de criação de um milhão de novos postos de trabalho em 2022.

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