Bolsonaro cita Nordeste para atacar PT e diz que partido de Lula usou região

Presidente aproveita discursos em inaugurações em São Paulo para disparar contra rival nas eleições

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São Paulo e Recife

O presidente Jair Bolsonaro (PL) usou inaugurações no estado de São Paulo nesta quinta-feira (24) como palanque para sua reeleição e para a candidatura do ministro Tarcísio de Freitas a governador, com discursos contra a esquerda e ataques aos governos do PT, partido de seu rival Luiz Inácio Lula da Silva.

Bolsonaro, que teve cerimônias pela manhã em São José do Rio Preto e à tarde na capital paulista, disse no segundo evento que as gestões petistas olhavam para os nordestinos "como uma fonte de receita para a sua quadrilha", reiterando sua estratégia de reduzir o apoio ao ex-presidente na região.

O presidente Jair Bolsonaro fala com apoiadores ao deixar inauguração de piscinões na capital paulista, nesta quinta-feira (24) - Zanone Fraissat/Folhapress

Bolsonaro fez a afirmação após acusar os governos Lula e Dilma Rousseff de desvios na Petrobras e de utilização do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para financiar obras em países como Cuba e Venezuela, em vez de priorizar, por exemplo, a transposição do rio São Francisco.

"Outras pessoas que diziam que olhavam pelos nordestinos olhavam talvez como uma fonte de receita para a sua quadrilha, e não uma fonte de recursos, no caso BNDES e Petrobras, para ajudar ao seu povo", disse, após comentar que a capital é "a cidade que tem mais nordestino do Brasil".

O mandatário amarga no Nordeste seus maiores índices de rejeição e percentuais de intenção de voto inferiores aos de Lula.

No início do mês, o atual presidente fez viagens pela região e criticou a demora na conclusão da transposição, iniciada em 2007, no segundo mandato do petista.

Nesta quinta, na inauguração de um piscinão para evitar enchentes na zona sul de São Paulo, Bolsonaro afirmou que na época do PT houve "corrupção generalizada" e "interferências as mais variadas possíveis", citando dados de endividamento da Petrobras no período e de empréstimos do BNDES ao exterior.

"Vocês sabiam que nós fizemos três hidrelétricas fora do Brasil? Portos, aeroportos? Sabia que BH [Belo Horizonte] não tem metrô, mas Caracas [na Venezuela] tem um metrô construído com o dinheiro de vocês? E obviamente a dívida não foi paga, bem como tantas outras obras e questões", disse à plateia.

Olhando para papéis no púlpito enquanto discursava, ele afirmou que a soma da dívida da Petrobras e do BNDES chegou a R$ 1,4 trilhão, valor "suficiente para nós construirmos cem transposições do rio São Francisco".

As acusações são tema frequente na retórica bolsonarista, embora sejam questionadas.

Bolsonaro não fez menção direta a Lula ou ao PT em sua fala, mas citou "cores partidárias" que predominaram "no Brasil de 2003 a 2015". Em alusão aos governos do partido adversário, disse que estava apresentando ao público "um breve retrato 3x4 do que era o Brasil há pouco tempo".

O ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, que falou antes do presidente na cerimônia, também acenou ao eleitorado nordestino —ele tem base política no Rio Grande do Norte— e atacou financiamentos do BNDES a países alinhados ideologicamente ao petismo.

Marinho sugeriu que foram desviados para o exterior recursos que deveriam ter sido aplicados no Brasil, tese que é rebatida pelo PT ao defender as políticas do banco naquele período e a legalidade dos atos.

"Historicamente, no passado recente, não faltou recurso para obras estruturantes [...], mas eram obras que eram feitas em Cuba, em Moçambique, na Venezuela, em Angola. Recursos do povo brasileiro em detrimento das necessidades da nação, que ficou deixada de lado", disse.

O ministro bolsonarista afirmou que o atual governo "respeita quem paga imposto nesse país", canaliza os recursos "de forma correta" e "leva em consideração os interesses do Estado, e não de corporações ou de quem quer que seja que estava historicamente se apropriando do Estado brasileiro".

Ainda no ato, o chefe do Executivo fez a entrega simbólica de uma parcela do Auxílio Brasil a uma moradora da capital paulista, que posou ao lado do presidente com uma réplica aumentada de um cartão. O programa é uma das apostas dele para turbinar seus índices de popularidade.

Os ministros João Roma (Cidadania) e Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional) e o presidente Bolsonaro no ato na capital paulista; ao fundo (de terno preto e máscara), o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite - Zanone Fraissat/Folhapress

Mais cedo, no interior, Bolsonaro estava acompanhado também do titular do Ministério da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, que deve ser lançado pelo grupo político do presidente para concorrer ao governo do estado em outubro.

O ministro foi aplaudido pelos bolsonaristas em seu discurso na inauguração de um complexo viário na BR-153. Uma parte da plateia proferiu gritos de "fora, Doria" no momento em que ele falava, reforçando a oposição ao governador de São Paulo, João Doria, hoje presidenciável do PSDB.

Em recado a Lula, Bolsonaro disse que o Brasil não caminhará para a esquerda a partir do pleito deste ano. "Nós jamais iremos para a esquerda no Brasil. Comunismo é um fracasso, socialismo é uma desgraça. Somos a maioria e vamos mudar o destino do Brasil", assinalou.

"Não têm sido fáceis os nossos últimos meses. Podem ter certeza, nós venceremos", acrescentou.

Os ministros da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres, e da Cidadania, João Roma, também fizeram parte da comitiva nos dois compromissos. Tarcísio só participou do ato no interior.

Na capital paulista, Bolsonaro manteve clima amistoso com o prefeito Ricardo Nunes (MDB), que participou da inauguração dos dois piscinões (reservatórios) no córrego do Ipiranga, na zona sul da cidade. As intervenções para prevenir enchentes receberam recursos dos governos federal e municipal.

Nunes, que ficou no palco ao lado do presidente e seus aliados, agradeceu no discurso "pela sensibilidade" dele ao trabalhar pelo acordo que deve encerrar a histórica disputa judicial da Prefeitura de São Paulo com a União em relação ao Campo de Marte, aeroporto na zona norte da cidade.

Bolsonaro, por sua vez, disse que a capital "está a poucos dias de realizar um sonho", com uma solução para o caso que "interessa em definitivo para a União e para a prefeitura".

Dirigindo-se a Nunes, ele afirmou: "Vai ser feito no tempo que você esperava, tendo em vista que você vai ter mais vantagens nesse negócio e você merece, ou melhor, o povo paulistano merece".

O presidente disse ainda que o desfecho do imbróglio sobre a propriedade e o uso da área é resultado de entendimento e conversa. "Não interessa qual seja o partido dele [ou] o meu", destacou.

O MDB tem como presidenciável a senadora Simone Tebet (MS), detratora de Bolsonaro e de Lula.

Na passagem pelo estado, Bolsonaro ignorou apelos de jornalistas para dar entrevista e comentar a guerra na Ucrânia, depois dos atropelos diplomáticos causados por sua visita ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, em Moscou, na semana passada, quando falou que o Brasil "é solidário" ao país.

O mandatário deixou a capital paulista sem falar sobre o assunto, mas uma mensagem sua a respeito da questão foi postada no momento em que deixava o compromisso. No texto, ele evitou comentar o conflito em si e disse apenas estar "totalmente empenhado" em proteger brasileiros na região.

Os repórteres que cobriam o evento acenaram para o presidente e o questionaram sobre a guerra enquanto ele abraçava e tirava fotos com apoiadores, já na saída. A imprensa estava separada dele por uma grade e não podia abordá-lo diretamente. Ele deixou o local sem responder a perguntas.

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