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Lula elogia Dilma no aniversário do PT, admite erros, mas defende legado

Ex-presidente diz que petista foi injustiçada e que admite críticas a ela só no partido, não por rivais

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São Paulo e Rio de Janeiro

No aniversário de 42 anos do PT, o ex-presidente Lula acenou com reconhecimento de erros cometidos pelo partido. Mas, ao afirmar que a sigla foi vítima de um golpe, disse que o legado é maior e fez elogios à ex-presidente Dilma Rousseff.

"Nem sempre conseguimos fazer tudo o que queríamos, mas certamente o nosso legado é muito mais importante do que qualquer erro que a gente possa ter [cometido]", afirmou o petista em evento comemorativo, transmitido virtualmente nesta quinta-feira (10).

"Foram tantos acertos que os atrasados desse país se viram obrigados a dar um golpe e derrubar a primeira mulher eleita presidenta do Brasil", seguiu ele, em referência ao impeachment de Dilma.

O ex-presidente Lula em evento de comemoração dos 42 do PT
O ex-presidente Lula em evento de comemoração dos 42 do PT - Reprodução / PT

Lula teceu ainda elogios a Dilma, que não participou presencialmente do evento. Um depoimento gravado da petista foi exibido.

Estiveram ao lado de Lula, em um estúdio em São Paulo, o ex-prefeito Fernando Haddad, que foi apresentado como pré-candidato da sigla ao Palácio dos Bandeirantes, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, e a socióloga e noiva do ex-presidente Lula, Rosângela da Silva, a Janja.

"Poucas vezes nesse país teve uma mulher da qualidade moral, ética e competência técnica da Dilma. E a Dilma é uma das grandes injustiçadas que a elite brasileira resolveu escolher com todas as críticas possíveis, para poder criminalizar o PT, da mesma forma que tentaram me criminalizar", disse.

O ex-presidente seguiu afirmando que críticas a Dilma são permitidas entre petistas, mas não entre adversários da sigla.

"Os irresponsáveis que quebraram esse país tentam jogar nas costas dela e nas do PT a quebradeira do Brasil. Queria te falar, Dilma, que nós do PT, por mais que alguém possa ter divergência com você, eu admito que alguém do PT possa fazer crítica a você. Mas nós do PT não podemos admitir que nenhum inimigo nosso, conservador ou alguém que represente a elite atrasada possa falar mal de você."

"Eu vejo a imprensa, muita gente, tentando criar divergência entre eu e você. E posso dizer para você que o que existe entre eu e você é uma relação de confiança que poucas vezes existiu entre políticos neste país."

Como a Folha mostrou, a cúpula do PT decidiu se vacinar contra críticas à política econômica implementada no governo de Dilma, antecipando debate que deverá marcar a corrida presidencial.

A intenção é esgotar o debate antes que chegue à campanha eleitoral, dissecando as circunstâncias que levaram à crise econômica de 2015 e culminaram no impeachment de Dilma em 2016. A estratégia parte da premissa de que seria improdutivo tentar esconder a petista durante a campanha.

No entanto, apesar da defesa ao seu governo, o partido segue dividido sobre qual será a participação efetiva de Dilma na campanha, uma vez que a crise econômica que antecedeu o impeachment se tornou munição de adversários, entre eles Bolsonaro.

O presidente deverá investir cada vez mais em comparações de seu mandato com o governo de Dilma, como parte de sua estratégia eleitoral contra Lula.

Em seu depoimento gravado, Dilma afirmou que é necessário ir às ruas na campanha deste ano para "lembrar quem precisa ser lembrado do nosso legado".

"Os dois governos Lula e o mandato que consegui exercer inteiramente entre 2011 e 2014 e mesmo durante a sabotagem golpista de parte do Congresso, do mercado e da mídia ao longo de todo 2015 e até maio de 2016 a partir do golpe de Estado. Mesmo assim, conseguimos registrar os maiores avanços da história do nosso país em várias áreas", disse ela.

Dilma também teceu elogios a Lula. "Venceremos porque temos alguém capaz de fazer história junto com a força do povo, de recuperar os nossos valores e, mais do que tudo, refazer o Brasil. E é Luiz Inácio Lula da Silva", disse.

Em um aceno à costura de alianças, Dilma também afirmou que o ex-presidente terá ao seu lado "o partido e fortes aliados".

Desde a semana passada e até a última segunda (7), petistas ainda cogitavam adiar as celebrações do aniversário do partido. Mas prevaleceu a justificativa de que não seria recomendável comemorar em um momento de recrudescimento da pandemia da Covid.

Presidentes de partidos e parlamentares foram procurados desde o começo da semana para gravar depoimentos que seriam transmitidos. Até quarta (9), véspera da comemoração, o partido estava recebendo os vídeos.

Foram exibidos depoimentos de líderes políticos, brasileiros e internacionais, de parlamentares e de presidentes de partidos, entre eles Gilberto Kassab, do PSD.

"Quero cumprimentar todos os petistas de todos os cantos do Brasil pelo aniversário de 42 anos, poucos partidos têm tanta história no mundo, e dizer que todos nós brasileiros temos profundo orgulho das realizações e do legado que o PT nos deixou", afirmou Kassab.

O gesto ocorre na mesma semana em que o ex-ministro se encontrou com o ex-presidente e afirmou que "não é impossível" uma aliança do partido com o PT no primeiro turno, apesar da prioridade de lançar nome próprio à disputa em outubro.

Apesar de o PSD ter o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), como pré-candidato ao Palácio do Planalto, há uma pressão de integrantes do PT e do próprio PSD, como informou a coluna Mônica Bergamo, da Folha, para que a sigla de Kassab embarque na candidatura de Lula já no primeiro turno.

Ainda em seu discurso, carregado de referências à religião e ao amor, Lula descreveu o cenário atual e criticou o governo Jair Bolsonaro (PL), sem citar em nenhum momento o nome do presidente e de adversários políticos, e afirmou que "trouxeram de volta todos os flagelos que havíamos conseguido derrotar".

"Tudo isso em meio a uma pandemia que matou mais de 630 mil brasileiros, devido à atitude criminosa e a negação da ciência por parte do atual governo", continuou. Lula

Sinalizando na crença de uma possível vitória nas eleições, o petista afirmou ainda que "o pesadelo está perto do fim". "É hora de devolver ao povo brasileiro a capacidade de sonhar."

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