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Reviravolta de Eduardo Leite sobre reeleição gera crítica e muda xadrez da disputa no RS

Gaúchos não têm tradição de reeleger governador; tucano, que descartava tentativa, agora admite possibilidade

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Geórgia Santos
Porto Alegre

A sinalização de que Eduardo Leite (PSDB) pode concorrer à reeleição no Rio Grande do Sul gerou surpresa e crítica em adversários e em partidos da base que já trabalhavam com a ideia de candidatura própria no estado.

Depois de se dizer contra a reeleição em diversas ocasiões, inclusive em campanha, o tucano admitiu a possibilidade de tentar um segundo mandato durante evento do PSDB em Porto Alegre, no último sábado (12).

"Eu não me furtarei de cumprir o meu papel neste processo", disse na ocasião.

homem de barba e camisa sentado em frente a quadros
O governador Eduardo Leite (RS), durante visita à Folha - Zanone Fraissat - 8.nov.21/Folhapress

O Rio Grande do Sul nunca reelegeu governadores e, no período democrático, um mesmo partido nunca venceu duas eleições seguidas.

É o único estado no país que não reconduziu um governante ao cargo desde que a reeleição foi instituída, em 1998. Essa é uma estatística que poderia afastar Eduardo Leite da ideia.

A tentativa de reeleição tem "queimado" políticos gaúchos.

Olívio Dutra (PT), eleito governador em 1998, quis se reeleger, mas perdeu as prévias no partido para Tarso Genro, que saiu derrotado por Germano Rigotto (MDB), em 2002.

Em 2006, Rigotto ficou em terceiro lugar, de fora da disputa pelo segundo turno na tentativa de reeleição, e Yeda Crusius (PSDB) se tornou governadora.

Na tentativa de se reeleger, a tucana perdeu para Tarso Genro (PT), eleito em primeiro turno em 2010.

Em 2014, quando tentou o segundo mandato, o petista foi derrotado por José Ivo Sartori (MDB). E o emedebista, por sua vez, foi vencido por Eduardo Leite, que, contrariando expectativas, chega na disputa com força.

Depois de regularizar o pagamento dos servidores após 57 meses de salários parcelados, Leite está entre os 13 governadores que concederam, neste ano de eleições, reajuste salarial a uma categoria ou mais de servidor estadual, segundo levantamento da Folha.

​Pré-candidato do PT ao governo do RS, deputado estadual Edegar Pretto disse que a mudança de opinião do tucano não o surpreende.

"Na campanha, quando candidato, um discurso que ele fez no segundo turno para pegar votos do nosso campo democrático foi garantir que ele não privatizaria a Corsan [Companhia Riograndense de Saneamento, privatizada no ano passado]", disse Pretto.

"Então, tem esse calote eleitoral na palavra. Não me surpreende agora ele de novo voltar atrás e dizer que pode concorrer. Vindo dele, é compreensível".

O petista disse ter já garantido o apoio formal do PV e que está em tratativas com PC do B, PSOL, PDT e PSB. Este último que fez parte da base do governo Leite e que tem pré-candidato.

O ex-deputado Beto Albuquerque (PSB) criticou publicamente a possibilidade de o tucano ter mudado de ideia.

"Então temos agora uma nova vertente na política do RS. Movimento e pressão, inclusive da mídia, para que seu político descumpra a sua palavra! É incrível a normalização da perda dos valores em se tratando de poder", escreveu no Twitter.

"Eduardo Leite MENTE! Depois das promessas vazias de campanha, ele está cogitando voltar atrás em outra promessa: não tentar a reeleição. Depois que não conseguiu ser pré candidato à presidência, agora interessa tentar mais um mandato no RS. Como confiar em uma pessoa sem palavra?", postou em uma rede social a deputada estadual Juliana Brizola (PDT).

Os partidos da base que trabalham com a ideia de candidatura própria foram pegos de surpresa. "Surpreendeu porque ele era o primeiro a dizer que era contra o instituto da reeleição", explicou Celso Bernardi, presidente do Progressistas no estado.

Mas a notícia não muda os planos da sigla, que deve apostar na candidatura do senador bolsonarista Luis Carlos Heinze (PP-RS) para o governo do estado. "Nossa decisão é irreversível", afirmou Bernardi.

Segundo ele, o que separa as duas candidaturas é o projeto nacional. "Nós temos compromisso com a candidatura do Presidente Bolsonaro."

Já o MDB, outro partido importante da base de Eduardo Leite, pode abrir mão da candidatura própria, embora essa não seja a posição oficial.

Há poucas semanas, a sigla estava dividida entre os nomes do deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS) e do deputado estadual Gabriel Souza, mas decidiu-se que uma disputa racharia o partido.

O presidente em exercício da sigla no estado e prefeito de Rio Grande, Fábio Branco, disse que a convenção do partido foi antecipada para o próximo domingo (20) para que o novo diretório possa conduzir esse processo.

Segundo ele, é cedo para comentar as declarações do governador. "Eu vejo mais como um apelo do que uma manifestação dele", disse.

Internamente, porém, as falas de Eduardo Leite já causam burburinhos e a opinião que prevalece é a de que o MDB não consegue vencer as eleições sem o apoio do PSDB, o que reforça a possibilidade de o partido, possivelmente, indicar o vice.

O presidente do PSDB no estado, deputado federal Lucas Redecker (PSDB-RS), afirma que o partido vai trabalhar até o último momento para que Leite concorra a reeleição.

"A gente respeita a posição dele, de não concordar com o instituto da reeleição, mas ele não tem poder de mudar isso, quem muda é o Congresso Nacional. E se a reeleição é válida, ela se torna importante para a continuidade do trabalho" disse.

​Eduardo Leite deve decidir se concorre, ou não, até o final de março. A assessoria do governador disse que o tucano "não falou em nenhum momento sobre concorrer à reeleição".

"Leite tem recebido, de parcela representativa da sociedade e dos seus apoiadores, manifestações e apelos para que concorra. O governador apenas referiu que não se eximirá no processo e atuará, como líder político, em favor da continuidade da gestão que superou a crise e que está transformando o estado", encerra a assessoria.

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