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Alckmin confirma filiação ao PSB e fica mais perto da vice de Lula

Ex-governador deve se filiar na próxima semana após ter considerado propostas do PV e Solidariedade

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São Paulo

O ex-governador Geraldo Alckmin confirmou, nesta sexta-feira (18), sua filiação ao PSB, movimento esperado para viabilizar sua candidatura a vice-presidente na chapa do ex-presidente Lula (PT). A filiação, como mostrou a Folha, foi acertada em reunião com a cúpula do partido na semana passada.

O evento de filiação está marcado para a próxima quarta-feira (23), em Brasília. Já o lançamento da pré-candidatura de Lula ao Planalto deve ocorrer em abril.

Geraldo Alckmin e Lula durante jantar do Grupo Prerrogativas, em São Paulo, em dezembro - Ricardo Stuckert/AFP

"O tempo da mudança chegou! Depois de conversar muito e ouvir muito, eu decidi caminhar com o Partido Socialista Brasileiro - PSB. O momento exige grandeza política, espírito público e união", afirmou o ex-governador pelo Twitter.

"A política precisa enxergar as pessoas. Não vamos deixar ninguém para trás. Nosso trabalho para ajudar a construir um país mais justo e pronto para o enfrentamento dos desafios que estão postos está só começando", completou.

Na publicação, Alckmin destaca frase do ex-governador Eduardo Campos, maior líder do PSB e morto na campanha presidencial de 2014. "Não vamos desistir do Brasil", cita.

O evento em Brasília marcará a filiação de cerca de 40 pessoas ao PSB, incluindo o vice-governador Carlos Brandão (PSDB), que disputará o Governo do Maranhão, e o senador Dario Berger (MDB), que concorre ao Governo de Santa Catarina.

De seu grupo no tucanato, Alckmin deve levar ao PSB os ex-presidentes do PSDB-SP Silvio Torres e Pedro Tobias, além do ex-deputado Floriano Pesaro.

O anúncio de filiação vem em uma semana em que Alckmin esteve no centro de investigações e movimentos da Justiça. A Folha revelou que a Polícia Federal investigava um suposto pagamento de R$ 3 milhões em caixa 2 a Alckmin.

A afirmação sobre o caixa 2 foi feita em delação por Marcelino Rafart de Seras, ex-presidente da Ecovias, concessionária responsável pelo sistema Anchieta-Imigrantes. O ex-executivo teve acordo de não persecução cível homologado pelo Ministério Público paulista nesta terça-feira (15).

No último dia 10, a Justiça Eleitoral mandou arquivar inquérito para apurar o suposto recebimento de caixa 2 para uso em campanhas eleitorais. Na área cível, porém, esse arquivamento não compromete o acordo do ex-presidente da Ecovias e da concessionária com a Promotoria do Patrimônio Público

Alckmin afirmou não conhecer os termos da delação, mas lamentou que, "depois de tantos anos, mas em novo ano eleitoral, o noticiário seja ocupado por versões irresponsáveis e acusações injustas". O ex-governador também foi defendido por petistas.

Já nesta quinta (17), a Justiça Eleitoral decidiu ratificar uma outra denúncia, na qual Alckmin é acusado de receber R$ 11,3 milhões em caixa 2 da Odebrecht.

A decisão rejeita a absolvição sumária pleiteada pela defesa do ex-governador em relação à acusação de recebimentos ilegais nas campanhas eleitorais de 2010 e 2014, na disputa ao Governo de São Paulo.

Segundo a Promotoria, Alckmin recebeu R$ 2 milhões em espécie da Odebrecht na campanha de dez anos atrás e R$ 9,3 milhões quando disputou a reeleição. Ele foi eleito nas duas ocasiões.

A defesa do ex-governador afirma que a acusação é "baseada exclusivamente em delação premiada, cujo teor é improcedente". "A decisão permitirá que o procedimento prossiga e novamente fique evidenciada injustiça da acusação", completa.

Em dezembro, Alckmin se desfiliou do PSDB, partido que ajudou a fundar e onde militou por 33 anos. A princípio, o ex-governador estava em busca de uma sigla para concorrer ao Palácio dos Bandeirantes, depois que o governador João Doria (PSDB), seu afilhado político e agora rival, bloqueou sua candidatura pelo partido.

Mas, como revelou a coluna Mônica Bergamo em novembro, Fernando Haddad (PT) e Márcio França (PSB), ambos pré-candidatos ao Governo de São Paulo, deram início a conversas para a formação da chapa Lula-Alckmin.

O ex-governador também considerou a filiação ao PV ou ao Solidariedade para viabilizar a aliança, mas acabou optando pelo PSB.

Como mostrou a Folha, Alckmin tem usado cafezinhos em padarias para conversas com aliados políticos e movimentos sociais a fim de formatar seu papel na candidatura ao Planalto e em um eventual governo.

Ele tem adotado o discurso de união para justificar a aliança com o PT, seu antigo rival. A avaliação é a de que é preciso construir uma frente ampla para derrotar o presidente Jair Bolsonaro (PL).

Alckmin encaminhou a filiação em uma reunião em hotel de São Paulo, no último dia 7, com a participação do presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, do prefeito do Recife, João Campos, do ex-governador Márcio França (SP) e do ex-prefeito de Campinas Jonas Donizete. O acerto da filiação foi revelado pelo portal G1.

A aliança com Alckmin enfrenta resistência de um grupo minoritário dentro do PT. Em reunião no último dia 4, dirigentes de correntes de esquerda do partido decidiram levar ao diretório nacional sua objeção à escolha do ex-governador como vice.

Convidados a participar da reunião virtual, o deputado federal Rui Falcão (SP) e o ex-deputado José Genoino —dois ex-presidentes da sigla— criticaram a trajetória política do ex-tucano. No encontro virtual, que chegou a reunir 342 pessoas, Falcão chamou de temerária a eventual escolha de Alckmin.

Segundo interlocutores, Lula já afirmou que, com o ex-tucano de vice, poderia dormir tranquilo: Alckmin, que foi quatro vezes governador, teria experiência e estatura política. E não transformaria a vice em um centro de conspiração e sabotagem para desestabilizar o governo.

Os dois já se encontraram diversas vezes reservadamente e, em dezembro de 2021, eles fizeram a primeira aparição pública juntos no jantar do grupo Prerrogativas, em um restaurante de São Paulo.

No dia 19 de janeiro deste ano, o ex-presidente defendeu a união com Alckmin em torno de sua candidatura. "Da minha parte não existe nenhum problema de fazer aliança com Alckmin e ter ele de vice. Nós vamos construir um programa de interesse para a sociedade brasileira", afirmou na ocasião.

A aproximação entre Lula e o ex-governador de São Paulo é uma novidade na longa relação política entre os dois. Alckmin comandou o governo paulista entre os anos de 2001 a 2006 e entre os anos 2011 a 2018, por quatro mandatos. Lula foi presidente do Brasil por dois mandatos, entre 2003 e 2010.

Com isso, eles conviveram institucionalmente por quase quatro anos. Os dois também disputaram as eleições de 2006, vencida pelo petista em um segundo turno contra, justamente, o ex-tucano.

Mesmo antes do período eleitoral daquele pleito, a troca de declarações entre os dois foi pautada mais por rusgas e ataques do que pelos elogios que agora eles fazem, reciprocamente, em público.

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