Ataques à imprensa avançam no Brasil, aponta relatório; Bolsonaro lidera em ofensas

Principais ofensas em 2021 partiram de Bolsonaro; levantamento da Abert mostra ocorrência de 4.000 ataques virtuais por dia à imprensa

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Brasília

Um relatório da Abert (Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão) sobre violações à liberdade da expressão mostra um aumento de profissionais de imprensa vítimas de atentados, agressões, ameaças, ofensas e intimidações em 2021, na comparação com o ano anterior.

Pelo menos 230 profissionais e veículos de comunicação sofreram algum tipo de ataque, 22% a mais do que em 2020.

O principal autor das ofensas ao longo de 2021 foi o presidente Jair Bolsonaro (PL). O relatório da Abert, divulgado na manhã desta terça-feira (22), lista 46 ofensas à imprensa por parte do chefe do Executivo.

apoiadores do presidente foram responsáveis por oito episódios de agressão, cinco de ameaça e cinco de intimidação, o que é compreendido como uma resposta ao estímulo a ataques à imprensa por parte de Bolsonaro.

O presidente Jair Bolsonaro (PL), líder em ataques à imprensa
O presidente Jair Bolsonaro (PL), líder em ataques à imprensa - Adriano Machado-21.mar.22/Reuters

"É fundamental que nossas principais autoridades, o próprio presidente, a maior autoridade do país, tenham muita tranquilidade nesses momentos para que não guiem nos apoiadores o discurso de ódio", afirmou o presidente da Abert, Flávio Lara Resende.

"Não há nenhuma dúvida de que as autoridades têm de ter muito cuidado e equilíbrio, especialmente num ano eleitoral", completo Lara Resende.

A entidade espera um aumento dos ataques à imprensa em 2022, em razão da disputa eleitoral. Isto deve ocorrer tanto em relação à disputa presidencial quanto nas guerras políticas travadas nos estados.

O levantamento da Abert sobre violações à liberdade de expressão é feito há dez anos.

O relatório referente a 2021 aponta a ocorrência de 4.000 ataques virtuais por dia à imprensa, ou 167 ataques por hora, quase três por minuto.

O relatório identificou 1,5 milhão de posts pejorativos, com palavras de baixo calão e expressões depreciativas. Em relação a 2020, houve uma redução de 54% nos ataques virtuais.

Oito profissionais de comunicação foram vítimas de atentados em 2021, o dobro do registrado em 2020. "Os autores agem com a clara intenção de dar fim à vida dos profissionais da imprensa", afirma o relatório. Em quatro casos, houve uso de armas de fogo.

O documento não registra assassinato de jornalistas em 2021. Isto só não ocorreu também no ano de 2019, conforme a Abert.

No caso de agressões, 61 profissionais foram vítimas de chutes, pontapés, socos ou tapas, um aumento de 3% em relação ao ano anterior. As equipes de TV foram as mais agredidas.

Houve menos casos de ofensas, mas uma maior quantidade de vítimas em 2021: 89 profissionais e veículos de comunicação. O aumento foi de 31%.

Também houve mais jornalistas intimidados. O relatório registra que 43 profissionais tiveram o trabalho interrompido ou foram recebidos aos gritos em coberturas, um incremento de 43% em relação ao ano anterior. Outros 15 foram ameaçados, também um aumento em relação ao levantamento feito em 2020.

O relatório registra ainda episódios de censura e de mobilização na Justiça como forma de intimidação ao trabalho da imprensa. A Abert mapeou 29 decisões judiciais referentes ao trabalho jornalístico, das quais 14 foram contrárias à imprensa. Parte foi revertida na segunda instância da Justiça em 2022, segundo a entidade.

O documento lembra que, pela primeira vez em 20 anos, o Brasil passou para a "zona vermelha" do ranking mundial de liberdade de imprensa, organizado pela Repórteres sem Fronteiras. O país caiu quatro posições em 2021, passando de 107ª para 111ª, a pior posição em 20 anos.

O relatório documenta diversos ataques à Folha e a profissionais do jornal. As principais ofensas partiram de Bolsonaro.

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