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Eleições 2022 Governo Bolsonaro

Bolsonaro põe a cara no fogo por ministro, mas não a reeleição

Saídas de Milton Ribeiro do MEC e do general Silva e Luna da Petrobras visam evitar estrago eleitoral ainda maior

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Brasília

Quatro dias depois de afirmar que não colocaria só a mão mas a cara inteira no fogo por seu ministro da Educação, Jair Bolsonaro (PL) deu nesta segunda-feira (28) uma demonstração de que suas supostas convicções pessoais não estão acima de sua busca pela reeleição.

Não só a exoneração de Milton Ribeiro do MEC, mas também o anúncio quase simultâneo da saída do general Joaquim Silva e Luna da Petrobras têm a mesma motivação, a tentativa de evitar uma maior corrosão eleitoral em decorrência do escândalo dos pastores-lobistas e da inflação.

Jair Bolsonaro recebe um beijo do filho Flavio durante evento realizado pelo PL no domingo (27), em Brasília - Evaristo Sá/AFP

Ribeiro deu sequência ao descalabro promovido pelos antecessores na gestão do MEC e deixa para o próximo, o quarto a ocupar a cadeira, um legado de ausência de resultados e de políticas públicas estruturantes, esvaziamento técnico e contaminação ideológica.

Não foi por nenhum desses motivos, porém, que Ribeiro perdeu o cargo.

Jair Bolsonaro e aliados têm procurado emplacar o discurso eleitoral de que não houve corrupção em seu governo, uma afirmação impossível de ser atestada.

Além disso, ela precisa ser inserida em um contexto de reiteradas manifestações e ações contrárias a investigações que possam respingar nele e em familiares, da blindagem do centrão no Congresso e da atitude amistosa do procurador-geral da República, Augusto Aras.

Nesse cenário de narrativas, não é nada agradável para a campanha presidencial a revelação de indícios de um esquema informal de obtenção de verbas envolvendo dois pastores sem cargo público, o que incluía pagamento de propina —e com áudio do ministro dizendo que beneficiava um dos lobistas a mando de Bolsonaro.

Milton Ribeiro foi exonerado sete dias após a Folha divulgar o áudio.

Longe da disputa eleitoral, o então ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antonio ficou dois anos no cargo, em 2019 e 2020, mesmo indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público no caso das candidaturas laranjas, revelado pela Folha.

A saída de Silva e Luna da Petrobras, que deve se concretizar no próximo dia 13, também deixa mais uma vez claro que o discurso liberal na economia e eventuais interesses do mercado também não irão se sobrepor às estratégias eleitorais.

O tema combustível foi o primeiro abordado pelo adversário Luiz Inácio Lula da Silva na propaganda partidária nacional que o PT começou a veicular no rádio e na TV.

"Meus amigos e minhas amigas, alguém aí na sua casa ganha em dólar? Seu salário sobe quando o dólar sobe? Então por que a Petrobras está reajustando o preço dos combustíveis em dólar", pergunta Lula no vídeo.

A estratégia do PT não é feita ao acaso, como nada é feito ao acaso no ambiente das grandes campanhas políticas nacionais. Tudo se ampara em pesquisas qualitativas, aquelas em que a reação de grupos de eleitores a determinados discursos é medida de forma metódica.

Apesar da longa tentativa do presidente e de sua máquina de propaganda nas redes sociais de atribuir a governadores e a adversários que estiveram no poder antes dele a culpa pela alta do preço da gasolina, do diesel e do gás de cozinha, o Datafolha mostrou na tarde desta segunda-feira que quase 70% dos brasileiros atribuem essa culpa a ele mesmo, Bolsonaro.

Pouco mais de quatro horas depois, às 19h15, o Ministério de Minas e Energia divulgava uma nota oficial confirmando a decisão de remover o general do comando da Petrobras, indicando para seu lugar um economista que já teria defendido a proposta que soa como música aos ouvidos da campanha bolsonarista, a de não repassar a volatilidade do preço do petróleo para o consumidor.

Como informa o colunista da Folha Vinicius Torres Freire, para avançar além da troca do comando no sentido eleitoreiro de forçar uma intervenção nos preços da estatal, por exemplo, Bolsonaro teria que passar por cima de regras e estatutos e "cometer uns crimes e contravenções".

Mais do que isso, "teria de convencer a nova direção da empresa a ser cúmplice".

Como mostrou a queda do ministro em relação ao qual se colocaria mão, braço e cabeça no fogo, o risco de se chamuscar aqui e ali parece já estar precificado para quem, como o próprio Bolsonaro disse no comício fora de hora que promoveu em Brasília, no domingo, quer entregar o Brasil ao sucessor somente "bem lá na frente".

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