Bolsonaro resiste a demitir Milton Ribeiro, e aliados temem efeitos na eleição

Auxiliares avaliam risco de afetar discurso anticorrupção, mas por ora minimizam crise no MEC

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Brasília

Enquanto o presidente Jair Bolsonaro (PL) diz que colocaria a cara no fogo pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro, aliados admitem, reservadamente, que o caso é ruim para a imagem do mandatário e temem que possa afetar a campanha eleitoral.

Um aliado disse à Folha que o presidente precisará tomar providências diante da avaliação de que o escândalo escalou de forma rápida.

Em outra frente, evangélicos aliados do Planalto defendem que o ministro se licencie do cargo enquanto as investigações estão em andamento. O pastor Silas Malafaia disse à Folha que este seria um "caminho bom".

"Se ele não tem nada, volte [ao cargo]. Se tem alguma coisa, que pague o preço. Acho que não tem nenhum problema ele se licenciar enquanto se vê isso", disse.

Apesar de admitir que é grave a crise no MEC, o entorno do Bolsonaro avalia que dificilmente Ribeiro deixará o comando da pasta.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ministro Milton Ribeiro (Educação). - Evaristo Sá/AFP

Uma das principais bandeiras da campanha de Bolsonaro é dizer que não houve corrupção em seu governo. Interlocutores minimizam o caso ao colocá-lo em perspectiva com outros que consideram mais delicados, como o petrolão.

Dizem, porém, que terão de acompanhar o desdobramento das acusações diariamente.

Há a preocupação de passar a imagem de que o Planalto reconheceu eventuais irregularidades, o que, de acordo com auxiliares de Bolsonaro, ainda não está comprovado. O caso está sob apuração da PF (Polícia Federal).

Além disso, o ministro conta com a confiança da família presidencial, em especial da primeira-dama Michelle Bolsonaro.

Ribeiro ganhou sua confiança ao dar atenção a temas caros, como projetos ligados a deficientes auditivos, segundo relatos de integrantes do governo.

Quem conversou com o ministro nos últimos dias disse não ter sentido dele nenhuma disposição de pedir demissão ou entrar em licença. Integrantes do governo não descartam, porém, que a escalada da crise aumente a pressão, sobretudo no núcleo familiar do ministro, que o leve a pedir para sair.

A licença, avaliam integrantes do segmento evangélico, seria uma forma de dar uma saída honrosa a Ribeiro. Eles reconhecem, porém, que licença seria apenas um outro nome dado à demissão e que o ministro não retornaria à pasta.

Junto ao presidente, o ministro representa um importante filtro ideológico na pasta. De acordo com palacianos, durante sua gestão, ele levou nome a nome das indicações de reitores com suas fichas corridas a Bolsonaro para analisarem juntos quem estaria de acordo com os critérios.

Na festa de aniversário de Bolsonaro no Palácio do Planalto, nesta semana, depois que o caso dos pastores já tinha surgido, Ribeiro fez uma oração pelo presidente ao microfone.

Na transmissão semanal desta semana, na quinta-feira (24), o chefe do Executivo disse que é "covardia" o que estão fazendo com o ministro.

"O Milton, coisa rara de eu falar aqui: eu boto minha cara toda no fogo pelo Milton. Estão fazendo uma covardia contra ele", disse, durante sua live.

Esta foi a primeira vez que Bolsonaro se manifestou sobre o tema.

Em entrevistas na quarta-feira, Ribeiro disse que conversou com o mandatário logo depois que a Folha revelou gravação em que o ministro diz priorizar pedidos dos pastores Arilton Moura e Gilmar dos Santos, por solicitação do presidente.

Segundo o ministro, Bolsonaro teria dito não ter visto nada demais na gravação.

Outro ponto levantado por auxiliares é que, se o ministro deixasse a pasta, poderia deflagrar uma guerra na base aliada pelo comando no ministério, em especial com aliados evangélicos.

Defensores da manutenção de Ribeiro dizem ainda que chegar ao quarto ministro da Educação em um mandato seria muito desgastante.

Além disso, as denúncias apresentadas pelo ministro à CGU (Controladoria-Geral da União) deram sobrevida a Ribeiro.

A conclusão das investigações, que terminaram no começo deste mês, dão conta de que não houve envolvimento de agentes públicos em irregularidades, mas sim de terceiros.

Diante das novas revelações desta semana, a CGU disse em nota ter decidido reabrir as apurações. A ordem é para que a controladoria ouça todos os prefeitos que vierem a apresentar denúncias contra os pastores.

Ribeiro disse, na quarta-feira, que acionou a controladoria em agosto do ano passado.

Porém continuou recebendo os pastores e liberando verbas por eles intermediadas. Segundo ele, orientado pela CGU, para não levantar suspeitas das investigações.

De acordo com registros da agenda oficial, o ministro recebeu em seu gabinete ao menos três prefeitos acompanhados por Arilton —ele atua em conjunto com o pastor Gilmar.

Um desses prefeitos, Gilberto Braga (PSDB), do município de Luís Domingues (MA), disse que houve pedido de 1 kg de ouro como propina por um dos pastores para a liberação de verba. Ele disse não ter aceito a transação. A informação foi divulgada pelo jornal O Estado de S. Paulo e confirmada pela Folha.

Depois disso, houve empenho de dinheiro público e desbloqueio de ações que favoreceram esses municípios. No áudio revelado pela Folha, Ribeiro menciona pedidos de apoio que seriam supostamente direcionados para construção de igrejas —o que, posteriormente nas entrevistas, ele nega e fala em apoio simbólico.

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