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Deputados do PL, partido de Bolsonaro, são alvos de operação da Polícia Federal

Parlamentar Josimar Maranhãozinho (MA) é atingido por ação da PF pela terceira vez

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Brasília

A Polícia Federal deflagrou na manhã desta sexta-feira (11) uma operação contra deputados federais do PL, atual partido do presidente Jair Bolsonaro. Entre os alvos está Josimar Maranhãozinho (MA), esse pela terceira vez.

A PF apura suspeitas envolvendo desvios de emendas parlamentares. Há indícios, segundo os policiais, de propina em valor equivalente a 25% das verbas enviadas ao Maranhão por meio de emendas.

A investigação de agora teve origem em uma outra iniciada naquele estado em 2020.

Com 195 mil votos, Josimar Maranhãozinho (PL) foi o deputado federal mais votado do Maranhão em 2018 Imagem: Divulgação/Facebook
Com 195 mil votos, Josimar Maranhãozinho (PL) foi o deputado federal mais votado do Maranhão em 2018 - Reprodução/Facebook

A operação cumpriu mandados de busca a apreensão em endereços residenciais e em empresas, autorizados pelo ministro Ricardo Lewandowski, relator do caso no STF (Supremo Tribunal Federal).

Os outros parlamentares investigados são Pastor Gil (PL-MA) e Bosco Costa (PL-SE). A PF chegou a pedir buscas nos gabinetes dos deputados na Câmara, mas o STF indeferiu.

Os investigadores contabilizam mais de R$ 1,6 milhão em propina — R$ 1,03 milhão (referente à parcela de 25% de R$ 4,12 milhões em emendas de Bosco Costa), R$ 375 mil (25% de R$ 1,5 milhão em emendas de Maranhãozinho) e R$ 262 mil (25% de R$ 1,05 milhão em emendas de Pastor Gil).

Conforme mostrou a Folha no ano passado, o esquema envolvia extorsão a prefeituras beneficiadas com o dinheiro do Orçamento viabilizado pelos deputados citados. Um agiota de nome Josival Cavalcanti da Silva, conhecido como Pacovan, se encarregava das abordagens, segundo a polícia.

O desvio dos recursos ocorreria, de acordo com o inquérito, por meio de contratos com empresas de fachada. A apuração indica que os valores eram repassados aos deputados. Pacovan e seu grupo recebiam uma comissão, aponta o inquérito.

Em uma rede social, Maranhãozinho afirmou que sua "vida política, pública, é regada pelo trabalho, competência e seriedade". Disse que sua casa foi alvo de nova busca da polícia e que segue "contribuindo e colaborando com todas as averiguações sem medo e sem restrição".

Pastor Gil, por sua vez, afirmou que jamais participou de algo que ferisse as leis, "seu querido povo" e seus princípios. Disse que seu papel na vida pública é pautado por "probidade, elevado interesse público e princípios cristãos".

​Bosco Costa não se manifestou sobre a operação.

Em uma outra investigação, chamada de Descalabro, a PF concluiu em dezembro do ano passado que Josimar de Maranhãozinho está por trás de um suposto esquema para desviar dinheiro de emendas parlamentares destinado a municípios do Maranhão.

Nesse caso, o deputado foi flagrado manuseando uma grande quantidade de maços de dinheiro em seu escritório político, em São Luís.

Ele foi filmado com autorização de Lewandowski, em uma ação controlada. Foi instalada uma câmera escondida no local e, na gravação, o parlamentar aparece guardando valores em caixas.

No relatório que foi entregue ao STF em dezembro, os investigadores atribuíram a Josimar os crimes de peculato, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

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Deputado Josimar Maranhãozinho ao ser flagrado com dinheiro, em 2020 - Reprodução

Em 2018, quando foi eleito para uma cadeira na Câmara, Maranhãozinho declarou ser dono de patrimônio de R$ 14,5 milhões. Dez anos antes, ele havia declarado à Justiça Eleitoral R$ 464 mil em bens.

O parlamentar é presidente estadual do PL, partido que filiou Bolsonaro e seu filho mais velho, o senador Flávio Bolsonaro, e é comandado por Valdemar Costa Neto, condenado no escândalo do mensalão do PT.

De acordo com a apuração, prefeituras sob a influência política de Maranhãozinho beneficiadas com as verbas contratavam empresas ligadas ao deputado. Estima-se que a fraude pode ter gerado prejuízo de R$ 15 milhões aos cofres públicos. Parte dos valores eram destinados à área da saúde.

Deputados e senadores têm direito a uma cota anual no Orçamento da União. Em 2021, por exemplo, eles puderam indicar R$ 16,3 milhões para serem destinados a suas bases eleitorais.

Reportagem da Folha também mostrou uma outra situação suspeita envolvendo o dirigente do PL maranhense.

A PF apreendeu R$ 400 mil em poder do sócio de uma empresa, e investigadores suspeitam de conexão do caso com o parlamentar.

O portador dos valores, retidos em maio do ano passado em São Luís, aparece ao lado de Maranhãozinho entre os alvos do inquérito que tramita no Supremo.

O combate à corrupção, enaltecido por Bolsonaro, é tratado de maneira pouco enfática no governo. Sempre que confrontado com suspeitas envolvendo aliados, amigos e familiares, o presidente critica imprensa, Ministério Público e Judiciário, enquanto alvos são mantidos nos cargos.

Em novembro de 2018, após eleito, Bolsonaro afirmou que ministros alvo de acusações contundentes deveriam deixar o governo, o que não se concretizou na prática.

O ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo), por exemplo, seguiu no governo após ter sido indiciado pela Polícia Federal e denunciado pelo Ministério Público de Minas sob acusação de envolvimento no caso das candidaturas laranjas do PSL.

Desde que assumiu a Presidência, Bolsonaro contesta ações de órgãos de controle para investigar seu núcleo familiar, por exemplo.

O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) é investigado em um esquema de "rachadinhas" na Assembleia do Rio. E o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) é suspeito de abrigar funcionários fantasma na Câmara Municipal do Rio.

Foi ainda no primeiro ano de mandato que tomou a decisão que mais impactou a agenda anticorrupção no país, na avaliação da maioria dos especialistas ouvidos pela Folha.

Para eles, apesar de legal, a indicação de Augusto Aras para o comando da Procuradoria-Geral da República, ignorando a lista tríplice dos procuradores, feriu a independência que o cargo demanda.

Crítico à atuação da Lava Jato, Aras travou diversas quedas de braço com os procuradores de Curitiba, até que, após um ciclo de desgaste perante à opinião pública e os indícios de parcialidade, a força-tarefa da capital paranaense foi dissolvida sem gerar comoção, como não ocorreria em outros tempos.

No campo político, para evitar a abertura de um processo de impeachment, Bolsonaro intensificou a ampliação de sua base aliada por meio da antes contestada política do tomá-lá-dá-cá, com a entrega de cargos e recursos para parlamentares aliados do governo, em especial do chamado bloco do centrão.

Já na crise da Covid, as suspeitas de corrupção no contrato bilionário entre Ministério da Saúde e Precisa Medicamentos foram destaque e inauguraram uma nova fase da CPI da Covid, que pediu a punição de Bolsonaro por crimes contra a humanidade, prevaricação e charlatanismo.

A revelação de irregularidades num contrato de R$ 1,61 bilhão, destinado à compra da Covaxin, imunizante mais caro dentre os adquiridos pelo Ministério da Saúde, colocou o governo Bolsonaro na berlinda. Trouxe à tona ainda a existência de um verdadeiro balcão paralelo de vacinas no militarizado ministério.

A soma destes casos levou à demissão de Roberto Ferreira Dias do cargo de diretor de Logística da Saúde. Ele caiu horas após a Folha revelar que Dias, indicado do centrão, teria pedido propina para negociar as doses, segundo o cabo da PM Luiz Dominghetti.

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