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Dirceu se reúne com políticos da esquerda à direita por eleição de Lula

Ex-ministro encontra antigos rivais do PT e prega diálogo com a chamada direita democrática

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Rio de Janeiro e São Paulo

Um dos principais articuladores da campanha vitoriosa do PT em 2002, o ex-ministro José Dirceu completou 76 anos nesta quarta-feira (16) em plena atividade política.

Acompanhado a distância regulamentar pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dirceu tem se reunido com políticos de diferentes matizes ideológicas para pregar unidade suprapartidária contra a reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL).

A lista de interlocutores inclui velhos adversários do PT, como o ex-senador e ex-presidente do extinto PFL Jorge Bornhausen (SC) e o ex-ministro Aloysio Nunes Ferreira (PSDB), de quem é amigo.

José Dirceu em reunião do diretório nacional do PT, em 2020
José Dirceu em reunião do diretório nacional do PT, em 2020 - Zanone Fraissat - 17.jan.20/Folhapress

Chefe da Casa Civil no primeiro governo Lula, Dirceu foi recebido para um almoço na casa de Aloysio Nunes. À mesa, também o ex-ministro tucano Artur Virgílio Neto (AM), um dos artífices do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT).

Ressaltando não estar trabalhando na campanha de Lula à Presidência, Dirceu defendeu uma concertação em defesa da democracia. Dois meses depois, Aloysio Nunes se reuniu com o próprio Lula.

O tucano conta que, encerrada a conversa, Lula recomendou que recorresse a Dirceu caso tivesse dificuldade de localizá-lo.

"Lula disse para eu procurar o Zé Dirceu para encontrá-lo. Mas não foi necessário. Já estive com Lula uma segunda vez [sem ajuda de Dirceu]", relata Aloysio Nunes.

Um crítico do PT, Bornhausen se reuniu com Dirceu em novembro de 2021, durante viagem do petista a Santa Catarina. Nas palavras de Bornhausen, foi uma conversa agradável e respeitosa, mas sem consequência. "Sempre tivemos bom relacionamento. Cada um na sua", diz.

Ainda em Santa Catarina, ele se encontrou com o ex-deputado Jorge Boeira, que não só votou pelo impeachment de Dilma, mas também pela cassação do mandato de Dirceu como deputado federal.

O impeachment não foi tema da conversa, mas Boeira tomou a iniciativa de mencionar seu voto pela cassação. O ex-deputado diz que se surpreendeu com a resposta do ex-ministro.

"Esperava uma mágoa, um cidadão amargurado. Mas ele disse: 'Passou. Vamos discutir o Brasil daqui para frente'", lembra Boeira.

Ao governador de Alagoas, Renan Filho (MDB), com quem esteve em janeiro, Dirceu disse que Lula precisa ser mais amplo do que o PT e acenar com a ideia de um "governo sem rancor".

Após uma série de reuniões pelo Nordeste, o ex-ministro ficou hospedado na casa de praia do senador Renan Calheiros (MDB-AL), pai do governador, na Barra de São Miguel. Na opinião de Renan Filho, Dirceu está para o PT assim como o ex-presidente José Sarney está para o MDB, um conselheiro político.

Petistas duvidam que Dirceu tenha delegação expressa para falar em nome de Lula. Mas admitem que nem mesmo Lula teria coragem de desautorizá-lo. Além disso, o ex-ministro poderá ser recrutado para conversas com quem a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann (PR), não tenha canal de comunicação.

Nas conversas, Dirceu insiste no diálogo com políticos do que chama de direita democrática.

Em um artigo publicado em sua coluna semanal no site de notícias Poder 360 no último dia 25, ele pregou a criação de uma federação com partidos de esquerda e a construção de alianças com demais forças políticas, econômicas e sociais.

"Porque sem organização, mobilização e formação de uma consciência política popular não venceremos e, se venceremos, não governaremos", escreveu.

"O que está em risco, insisto, não é apenas a democracia, mas o próprio processo eleitoral. O que exige de nós todo o esforço possível para alcançar a unidade de todas as forças políticas e sociais dispostas a apoiar Lula e retomar o fio da história interrompido como tantas vezes em nosso Brasil, a última pelo golpe de 2016", disse ainda.

Em sua passagem pelo Rio, Dirceu jantou com integrante da equipe do governador Cláudio Castro (PL), cuja nomeação é creditada a Bolsonaro.

Pré-candidato ao Governo do Paraná, o ex-governador e ex-senador Roberto Requião conta que se surpreendeu ao saber que, depois de um almoço em sua casa, Dirceu jantou com o governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD).

Prestes a se filiar ao PT, em evento que contará com a presença de Lula, Requião afirma que Dirceu foi à toca da ratazana. "O queijo de ratinho deve ser melhor", ironizou Requião, que recebeu um telefonema de Dirceu após anunciar sua decisão de se filiar ao PT.

Na noite desta quarta-feira, aniversário de Dirceu será comemorado com um jantar para cerca de cem convidados na casa de um advogado, em Brasília. No cardápio, paella. No convite, pede que os convivas levem uma garrafa de vinho cada.

Essa não será a primeira comemoração do aniversário do petista. O ex-ministro compartilhou fotos em seu perfil no Instagram de um almoço que organizou, no último final de semana, para familiares e amigos próximos em sua casa em Vinhedo, no interior de São Paulo.

"Comemorando meu aniversário hoje que na verdade é dia 16/03", escreveu na legenda para seus quase 17 mil seguidores na rede social. No menu, segundo relatos, foi servido cozido.

De olho no público jovem, Dirceu também mantém conta no TikTok, com cerca de 1.700 seguidores.

"Querem me conhecer melhor? Eu nasci em Passa Quatro [MG]. Muito jovem, com 14 anos, fui para São Paulo. Fui office boy, trabalhei em almoxarifado, fui arquivista, relações públicas, depois fiz assessoria jurídica. E entrei para a PUC, fui líder estudantil, eu lutei contra a ditadura. Por isso fui preso e tive que sair do Brasil", diz ele em vídeo que estreou sua participação na rede social, em julho de 2021.

Ex-presidente do PT, Dirceu sofreu condenações e prisões nos escândalos do mensalão e da Lava Jato. Homem forte do primeiro governo Lula, em 2005, deixou a chefia da Casa Civil após denúncia de envolvimento no mensalão.

Em 2012, foi condenado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) a mais de 7 anos, pena que foi extinta em 2015. Ele ficou um ano na cadeia.

Em agosto de 2015, foi preso preventivamente por determinação do então juiz Sergio Moro.

Em junho de 2016, Moro condenou Dirceu pela primeira vez, a 20 anos e 10 meses de prisão. Em março de 2017, Moro condenou o petista pela segunda vez: a 11 anos e três meses de prisão.

Dois meses depois, o STF concedeu habeas corpus permitindo que ele aguardasse o julgamento dos recursos em liberdade. Em maio de 2018, teve recurso negado e foi preso novamente. Em junho, o STF voltou a conceder liminar em habeas corpus para que Dirceu aguardasse em liberdade o julgamento.

Em maio de 2019, o TRF-4 decidiu que o petista cumprisse pena de oito anos e dez meses pelo caso de corrupção envolvendo a Petrobras, no âmbito da Lava Jato. Ele foi solto em novembro daquele mesmo ano e, atualmente, atua nos bastidores do PT, mas sem cargo formal.

Nas palavras de um amigo de longa data do petista, Dirceu "vai morrer fazendo política".

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