Governo Bolsonaro aciona STF contra ordem de bloqueio do Telegram

Advogado-Geral da União entrou com pedido de medida cautelar para tentar reverter decisão de Alexandre de Moraes

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

O Advogado-Geral da União, Bruno Bianco Leal, entrou com um pedido de medida cautelar ao STF (Supremo Tribunal Federal) contra a ordem de bloqueio do Telegram.

O pedido do advogado-geral da União não foi direcionado ao ministro Alexandre de Moraes, que determinou a suspensão do Telegram, mas à ministra Rosa Weber.

Concluído no fim da noite desta sexta-feira (18), o pedido foi direcionado a uma ação direta de inconstitucionalidade no STF relatada por Weber.

Logomarca do Telegram - AFP

A determinação de Moraes acolheu pedido da Polícia Federal e determinou que as plataformas e provedores de internet bloqueiem o funcionamento da plataforma em todo o Brasil.

Na decisão de 18 páginas e que veio a público nesta sexta-feira (18), Moraes salienta reiteradas vezes a "omissão" do Telegram em fazer cessar a divulgação de notícias fraudulentas e a prática de infrações penais.

A decisão estipula multa diária de R$ 100 mil caso as empresas deixem de adotar as providências necessárias para suspender a utilização do serviço de mensagens.

Neste sábado (19), o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que a decisão de suspensão do Telegram não tem "nenhum amparo no Marco Civil da internet e em nenhum dispositivo da Constituição".

Esta foi a única resposta do presidente aos questionamentos dos jornalistas sobre a decisão de Moraes.

O Telegram é visto como uma das principais preocupações para as eleições de 2022 devido à falta de controles na disseminação de fake news e se tornou também alvo de discussão no Congresso e no TSE para possíveis restrições em seu funcionamento no Brasil.

Na ação da AGU, o Partido da República, antigo nome do partido de Bolsonaro, o PL, afirma que o WhatsApp não pode ser derrubado em razão de eventuais descumprimentos judiciais.

O advogado-geral usa esse argumento para se referir à decisão relacionada ao Telegram.

Segundo o integrante do governo Bolsonaro, o aplicativo de mensagens não pode ser derrubado em razão de eventuais descumprimentos de decisões judiciais.

Isto só poderia ocorrer, segundo a petição, em caso de uso indevido de dados pessoais e desrespeito ao sigilo de comunicações.

Para embasar o pedido, a AGU usou duas notas técnicas, uma do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e outra do Ministério da Justiça e Segurança Pública.

As duas notas técnicas também foram concluídas no fim da noite desta sexta, após tornar-se pública a decisão de Moraes bloqueando o Telegram.

A ordem do ministro é para que a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) tome "todas as providências necessárias para a efetivação da medida" em até 24 horas e, em caso de descumprimento, o Telegram estará submetido a uma multa de R$ 500 mil por dia.

A decisão do ministro atinge diretamente o presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus apoiadores: candidato à reeleição, o chefe do Executivo tem um canal com 1,1 milhão de seguidores no aplicativo, que é visto como a boia de salvação dos militantes bolsonaristas, enquadrados por Twitter, Facebook e Instagram.

Durante participação em evento em Rio Branco (AC), nesta sexta-feira (18), Bolsonaro classificou o bloqueio do Telegram de "inadmissível" e disse que a decisão de Moraes poderia causar até óbitos no Brasil.

Bolsonaro, na manhã deste sábado, participou do ato de filiação de aliados a seu partido, o PL. Ele e o presidente da legenda, Valdemar da Costa Neto, assinaram os atos.

Entre os novos filiados estão a deputada Bia Kicis (DF) e um dos filhos do presidente, Eduardo Bolsonaro (SP).

Depois do evento partidário, o presidente foi ao setor Cruzeiro Velho para cortar o cabelo numa barbearia, no começo da tarde. Foi quando respondeu aos questionamentos dos jornalistas sobre a decisão de Moraes, sem maiores detalhamentos.

O ministro da Justiça e Segurança Pública do governo Bolsonaro, Anderson Torres, também se manifestou e disse que buscava uma solução para recorrer à decisão do ministro do STF. Ele disse que "milhões de brasileiros" estão sendo "prejudicados repentinamente por uma decisão monocrática".

"Já determinei a diversos setores do Ministério da Justiça que estudem imediatamente uma solução para restabelecer ao povo o direito de usar a rede social que bem entenderem", escreveu no Twitter.

Colaborou o UOL

Entenda o caso Telegram

  • O que é o Telegram?

    É um aplicativo de mensagens com funcionamento parecido com o do WhatsApp. Além de ter alta capacidade de viralização, com grupos que podem comportar até 200 mil membros, o Telegram possui uma dinâmica que se assemelha muito mais a redes sociais. Apesar disso, não modera conteúdo —a não ser em casos como de terrorismo

  • Qual é a preocupação do TSE?

    Como a empresa tem uma postura de nenhuma cooperação e não tem sede no Brasil, o tribunal tem dificuldade de fazer a legislação nacional ser efetiva. Grupos bolsonaristas têm migrado para plataformas que possuam regras menos restritivas, como o Telegram

  • Quais medidas no Brasil?

    O bloqueio do Telegram gera preocupação em especialistas na área, dadas as possíveis consequências legais e técnicas da medida. Outro cenário seria aceitar o crescimento desenfreado de uma plataforma que não atende aos contatos do Judiciário brasileiro.

  • O que Bolsonaro diz sobre isso?

    O Telegram é atualmente um dos canais de comunicação prediletos de Bolsonaro, usado para divulgar ações de sua administração. Conta hoje com mais de um milhão de seguidores. Em janeiro, o presidente chamou de covardia a investida do TSE contra o Telegram e indicou que estuda medidas sobre o tema

  • O que diz a lei atual?

    O fato de uma empresa não ter sede no país não significa que ela não tenha que obedecer à legislação brasileira. No Congresso, o projeto de lei das fake news pretende tornar obrigatório que redes sociais e aplicativos de mensagens tenham representantes legais no país

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.