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Jantar de 'despedida' de Doria teve sumiço de vice e recados sobre reeleição

Em evento para empresários, Doria discursou e foi tratado como candidato

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São Paulo

João Doria (PSDB) vai desistir da candidatura à Presidência? "Isso está longe da realidade", disse a secretária de Desenvolvimento Social, Célia Parnes, ao lado dele, respondendo à pergunta que diz receber com frequência. "Acho que ele nunca conjugou esse verbo", completou, sem saber que o chefe havia decidido desistir horas antes.

A secretária discursava a cerca de cem empresários e políticos próximos a Doria reunidos em um jantar em sua homenagem, na noite desta quarta-feira (30), em uma mansão do Jardim Paulista. O anfitrião era Marcos Arbaitman, dono do Grupo Maringá de turismo, área onde Doria fez carreira.

O governador João Doria (PSDB) - Bruno Santos/Folhapress

Para o público e para boa parte dos próprios secretários do Governo de São Paulo presentes, Doria estava ali na condição de presidenciável do PSDB e na sua última noite como governador. A transmissão do cargo para o vice, Rodrigo Garcia (PSDB), estava prevista para o dia seguinte, esta quinta-feira (31).

Questionado pela reportagem se dormiria pela última vez no cargo de governador paulista, Doria não respondeu. Disse que só falaria de política em entrevista à imprensa marcada para a tarde desta quinta —quando, depois de um vaivém, confirmou a entrega do cargo a Rodrigo e disse que manteria sua candidatura à Presidência pelo PSDB.

Até aquele instante do jantar, porém, o único sinal de que havia algo estranho no ar era justamente a ausência de Rodrigo, que era presença confirmada no jantar. A decisão de desistir, que havia sido comunicada a ele por Doria horas antes, o prejudica eleitoralmente.

O plano era que Rodrigo assumisse o Palácio dos Bandeirantes e concorresse à reeleição, de preferência descolado da campanha de Doria para tentar se blindar do alto índice de rejeição do governador perante o eleitorado.

Com a permanência de Doria na cadeira de governador, esse distanciamento não é possível. Além disso, crescem as chances de que o próprio governador seja candidato à reeleição.

No jantar, porém, Doria enfatizou sua posição contrária à reeleição, quase num recado ao vice ausente, que, de acordo com aliados, ficou bastante irritado com a desistência do governador.

"Eu sou contra a reeleição. A reeleição no Brasil acabou sendo uma tristeza de opção. Embora realizada pelo meu partido, idealizada dentro do governo Fernando Henrique [Cardoso]. Fiquei feliz de ver artigo de Fernando Henrique Cardoso reconhecendo que a reeleição é um mal. E é um mal", disse.

"Quem chega para administrar e ser gestor já chega pensando em como fazer sua reeleição e abandona a gestão. Isso é um desastre", continuou.

Jantar em homenagem a Doria na casa de Marcos Arbaitman
Jantar em homenagem a Doria na casa de Marcos Arbaitman - Carolina Linhares/Folhapress

Taças de vinho e canapés pararam de circular pelo salão. Todos se sentaram para ouvir o discurso de Doria, que falou por mais de 50 minutos, prestando contas detalhadas de seus feitos e programas no governo.

Arbaitman o anunciou dizendo que "o Brasil merece um presidente sério, honesto e trabalhador". A decisão de não concorrer, que só veio à tona nesta manhã, pegou a todos de surpresa.

No longo discurso, Doria voltou a repetir que poderia abrir mão da candidatura —algo que ele já declarou outras vezes. PSDB, MDB e União Brasil —e talvez o Podemos— tinham um acerto para lançar um único candidato da terceira via.

Nesse front, Doria concorria com Simone Tebet (MDB) e Sergio Moro (Podemos). Mas seus aliados eram incisivos ao dizer que o tucano jamais desistiria e que seria o candidato da terceira via, já que era o único com uma extensa vitrine de feitos que inclui a vacinação.

"Não é preciso ter a prerrogativa do eu, a prerrogativa é o Brasil, são os brasileiros. Temos que ter grandeza de alma. [...] Essa grandeza exige desprendimento, exige a capacidade de enxergar adiante", disse Doria no jantar, citando Moro e Tebet como opções.

Entre secretários, o clima era tranquilo e se comentava sobre aqueles que deixarão o governo até sexta-feira (1º) para concorrerem a outros cargos. Outro assunto era a possível filiação do secretário da Fazenda, Henrique Meirelles, ao MDB para ser candidato a vice de Rodrigo.

Enquanto se especulava sobre sua vaga de vice na chapa, Rodrigo já havia dito a Doria que, nessas condições, não seria candidato ao Palácio dos Bandeirantes.

Em seu discurso, a secretária Célia Parnes falou sobre a obsessão de Doria com o trabalho, dizendo ser verdade que ele dorme pouco, que envia mensagens aos subordinados às 4h da madrugada e espera resposta, que é focado e tem ritmo acelerado. Ela afirmou que aprendeu a admirar esse estilo.

O jantar passou das 23h e, no dia seguinte, Doria teria uma série de compromissos e inaugurações no que seria seu último dia como governador. Às 10h, iria inaugurar parte do Museu do Ipiranga. Às 12h, daria início às obras do Parque da Cidadania, em Heliópolis.

Às 14h30, ele participaria de leilão para concessão de três parques. Todas as agendas foram canceladas nesta manhã. Só restou a entrevista à imprensa às 16h, após um evento com prefeitos de todo o estado.

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