Podemos acata pedido de desfiliação de Arthur do Val

Deputado era alvo de processo de expulsão no partido, além de pedidos de cassação na Assembleia de SP

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São Paulo

O Podemos anunciou, nesta terça-feira (8), que acatou a desfiliação do deputado estadual Arthur do Val, alvo de processo de expulsão da legenda após o vazamento de áudios sexistas sobre as mulheres na Ucrânia.

"No Dia da Mulher, o Podemos recebe e acata desfiliação do deputado Arthur do Val. [...] Ele estava filiado ao partido há cerca de 30 dias", diz a nota da sigla.

O Podemos havia anunciado, na segunda-feira (7), a abertura de procedimento disciplinar para expulsar Arthur, que também é alvo de pedidos de cassação de mandato na Assembleia de São Paulo.

O deputado, que visitou a Ucrânia na semana passada, enviou áudios a amigos dizendo que as ucranianas são "fáceis" por serem pobres —e que a fila de refugiados da guerra tem mais mulheres bonitas do que a "melhor balada do Brasil".

Homem aparece gravando o vídeo, como se fosse uma selfie, à noite
O deputado estadual Arthur do Val, em trecho do vídeo que gravou na fronteira entre Ucrânia e Eslováquia, divulgado em 6 de março - Reprodução/YouTube

Arthur, que seria candidato ao Governo de São Paulo pelo Podemos, foi filiado durante um evento em São Paulo, com a presença do presidenciável do partido, o ex-juiz Sergio Moro, e membros do MBL (Movimento Brasil Livre).

O deputado, youtuber também conhecido pelo apelido de Mamãe Falei, é membro do MBL.

Na ocasião, a presidente do Podemos, deputada federal Renata Abreu (SP), agradeceu aos membros do MBL pela filiação, chamando-os de "time de notáveis e idealistas".

Após a repercussão do caso, Arthur retirou a sua candidatura ao governo. Ele admitiu que enviou os áudios a um grupo de amigos.

Em nota, o Podemos declara ainda que aceitou a desfiliação após "pressão da executiva nacional e de lideranças políticas" do partido. "O Podemos reafirma que não tolera sexismo ou qualquer tipo de comportamento preconceituoso de seus filiados."

O processo de expulsão aberto perdeu seu objeto e foi encerrado pelo partido.

"Esperamos que este triste episódio mostre à sociedade que também é tempo de oportunidade para mudança e de pôr fim no machismo estrutural e no preconceito de qualquer tipo, seja de raça, cor, religião ou condição social", disse a presidente da sigla em nota.

Logo depois do vazamento, diversos integrantes do Podemos, incluindo a presidente, Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol divulgaram comunicados recriminando as falas de Arthur do Val.

Moro, até então defensor da candidatura de Arthur, indicou rompimento com com o deputado ao dizer que lamentava "profundamente as graves declarações".

O parlamentar divulgou em rede social um pedido de desculpas ao dizer que o conteúdo das falas não foi correto com as mulheres brasileiras, ucranianas e com "todas as pessoas que depositaram confiança no meu trabalho". ​

Em entrevista à Folha na segunda-feira, Arthur afirmou que irá se afastar do MBL e se defendeu de uma possível cassação na Assembleia Legislativa.

Questionado sobre a possibilidade de se desfiliar ou de ser expulso do Podemos, o deputado afirmou que não pensara sobre o assunto. Arthur disse ainda que não refletiu sobre seu futuro político e que, no momento, só está preocupado com o fim do seu namoro com a enfermeira Giulia Blagitz.

Em reação à abertura do processo de expulsão, Arthur afirmou à imprensa que não iria forçar o partido a aceitá-lo. "Se o partido não me quer eu saio."

Arthur deve começar a responder nesta semana no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Assembleia a representações que podem levar à perda de seu mandato. Onze pedidos que solicitam a punição do deputado foram protocolados na Casa desde sexta-feira (4), quando foram reveladas declarações de cunho sexista feitas por ele.

Um desses pedidos foi assinado por 17 parlamentares da Assembleia e entregue nesta segunda-feira.

A Câmara dos Deputados aprovou na noite desta terça-feira (8) moção de repúdio às declarações sexistas de Arthur do Val.

O requerimento, apresentado pelo PSOL, foi aprovado em votação simbólica. Na justificativa, os deputados do partido classificam como repugnantes os áudios enviados pelo deputado estadual, além de afirmarem que as falas "cobrem de vergonha o Poder Legislativo e toda a nação brasileira, uma vez que afeta diretamente tanto a dignidade do mandato a ele conferido quanto a dignidade de milhões de mulheres em todo o mundo."

"Conforme se observa, a atitude do sr. Arthur do Val, além de demonstrar absoluta falta de respeito a um país estrangeiro, desprezo à condição feminina e à pobreza, é ainda mais inaceitável porque são declarações proferidas por um membro do Poder Legislativo, representante de parcela da população brasileira", indica o requerimento.

A moção diz que, com suas declarações, Arthur do Val "reforça a sua odiosa concepção do feminino enquanto elemento de satisfação masculina, rebaixando à condição de objetos sexuais as mulheres ucranianas que lutavam por suas vidas e de suas famílias ao buscar refúgio em outros Estados".

Colaborou Danielle Brant

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