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Tarcísio diz que ninguém liga para 'esse negócio de não ser paulista'

Em clima de campanha, ministro visitou feira em SP e diz que deve se filiar ao PL ou ao Republicanos

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São Paulo

Nome indicado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para a disputa ao Governo de São Paulo, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas (sem partido), buscou minimizar nesta terça-feira (15) um dos temas que já começam a ser explorados por rivais com vistas à campanha eleitoral: a falta de vínculos com a região que pretende comandar.

Tarcísio, que nasceu no Rio de Janeiro e também cogitou se candidatar por Goiás, afirmou que "ninguém está ligando" pelo fato de ele não ser paulista e querer governar São Paulo. Ele disse ainda não ter pressa na escolha do partido pelo qual deve concorrer ao Palácio dos Bandeirantes e que está entre o PL, sigla de Bolsonaro, e o Republicanos, ligado à Igreja Universal.

Questionado sobre o fato de não ser de São Paulo, o ministro rebateu: "Será que é isso mesmo o que é importante? O pessoal está querendo saber o seguinte: 'será que esse cara vai resolver o meu problema?'"

Em seguida, Tarcísio citou a sua experiência na pasta federal como um trunfo para gerenciar o Executivo paulista. "A gente vai resolver problemas de infraestrutura que há décadas estão sem solução", afirmou a jornalistas logo depois de palestrar em um congresso do setor ferroviário, em São Paulo.

"Será que a gente não tem a sensibilidade para perceber onde o calo está apertando e desenhar algo criativo, como fizemos no ministério? Então esse negócio de não ser paulista, sinceramente, eu acho que é uma... Ninguém está ligando para isso", afirmou.

O ministro Tarcísio de Freitas, durante evento sobre transportes na São Paulo Expo Imigrantes - Zanone Fraissat/Folhapress

Como publicou a coluna Painel, da Folha, o pré-candidato Márcio França (PSB) brinca que até já definiu qual a primeira pergunta que faria num debate a Tarcísio, em referência ao fato de ele não ser paulista e ser flamenguista: "Para que time você torce?".

Marco Vinholi, presidente estadual do PSDB de São Paulo e secretário de Desenvolvimento Regional do governo Doria, também fez questão de alfinetar o candidato de Bolsonaro nesta terça. "Quem não liga para paulista é o próprio Tarcísio. Cobrou pedágio na Dutra em São Paulo para fazer duplicação no seu estado, o Rio de Janeiro."

Nos últimos meses, Tarcísio intensificou agendas em cidades paulistas e tem se dedicado a estudar a história de São Paulo —ele debruçou, por exemplo, sobre a Revolução de 1932, incluindo a construção do Obelisco do Ibirapuera.

Nesta terça, Tarcísio disse estar esperando "até o último momento" para definir o partido pelo qual vai concorrer. "Você pode ter uma surpresa, algum movimento pode ser feito que agregue alguém no bloco", afirmou.

"Nos próximos dias a gente vai fechar questão. Obviamente que tem a questão do PL que é muito importante, que é o partido do presidente. Ter o mesmo número [de legenda] dele acho que é legal. Mas o Republicanos é um grande partido também", disse.

Em relação à escolha do vice, o ministro disse que provavelmente o escolhido vai trazer um desenho híbrido para a chapa —com um nome ligado ao partido não escolhido por Tarcísio. "Qualquer que seja a minha opção para o Senado ou vice vai ser alguém identificado com o estado [de São Paulo]", afirmou.

Entre os nomes já cogitados como possível vice de Tarcisio está o de Paulo Skaf (MDB), como informado pela coluna Painel, da Folha. Por ter sido presidente da Fiesp por 17 anos, Skaf é identificado com São Paulo e poderia ajudar a compensar a falta de familiaridade do carioca Tarcísio com o estado.

Outros nomes estudados para o posto na chapa do ministro são o de Henrique Prata, presidente do Hospital do Amor, em Barretos (SP), e o do bolsonarista Ricardo Nascimento de Mello Araújo, ex-comandante da Rota e atual diretor-presidente da Ceagesp.

O pleito para o Governo de SP também tem entre os pré-candidatos o tucano Rodrigo Garcia, atual vice do governador João Doria (PSDB), Fernando Haddad (PT), Márcio França (PSB) e Guilherme Boulos (PSOL).

O prazo para a desincompatibilização de cargos e para o fim da janela partidária termina no começo de abril.

Recentemente, Tarcísio virou alvo de críticas e de ataques de aliados de Doria, de opositores de Bolsonaro e até de grupos empresariais contrariados por decisões do ministro.

Garoto-propaganda de Bolsonaro por conduzir um programa de concessão considerado bem-sucedido pelo governo, Tarcísio não queria se arriscar em São Paulo.

O ministro avaliava ter mais chances com uma candidatura ao Senado, mas Bolsonaro pediu que Tarcísio mudasse de ideia para ele próprio ter palanque garantido em São Paulo —berço do governador João Doria.

Os resultados das últimas pesquisas, no entanto, turbinaram os planos do governo com Tarcísio.

Em dezembro, o Datafolha apontou o ministro com 9% das intenções de voto. O Palácio do Planalto avaliou haver em Tarcísio potencial para avançar no segundo turno.

Desde então, Tarcísio vem aparecendo em eventos privados e palestras com um discurso mais alinhado com Bolsonaro, tecendo elogios à gestão da qual faz parte e direcionando críticas, e até palavrões, contra Lula e Dilma.

Em um evento privado para investidores em São Paulo, há cerca de um mês, Tarcísio disse que deixa a Esplanada até abril para se candidatar, e, sem citar nomes, fez ataques a Doria e aos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, ambos do PT.

"Corrupto tem de ir para o inferno, para o raio que o parta, para a puta que pariu", disse. "Por isso que eu não quero ver mais corrupto na Presidência da República. Me preocupa a saudade que alguns têm dessa época."

Engenheiro formado pela Academia Militar das Agulhas Negras (Aman), Tarcísio fez carreira como servidor da Câmara dos Deputados até ser transferido para a CGU (Controladoria Geral da União), onde chegou a ser coordenador-geral de auditoria da área de transportes.

Escolhido por Dilma, Tarcísio foi diretor-executivo do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte) logo após a faxina contra esquemas de corrupção no órgão deflagrada pela ex-presidente.

Como número 2 do órgão, ele deu os primeiros passos mais concretos de sua jornada na infraestrutura até chegar ao PPI (Programa de Parceria de Investimentos), primeira medida do ex-presidente Michel Temer (MDB), em 2016.

Lá passou a monitorar todos os projetos de concessão de infraestrutura no PPI, principalmente o de rodovias. O ministro recentemente afirmou ter tido vontade de ser caminhoneiro devido à paixão pela boleia. A categoria é uma das principais aliadas do governo e Tarcísio até hoje participa de grupos de caminhoneiros.

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