O presidenciável do PDT, Ciro Gomes, atacou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas disse que o presidente Jair Bolsonaro (PL) é pior.
Ele ainda defendeu uma frente ampla de centro-esquerda baseada num programa para superar a crise econômica e, para isso, disse aceitar dialogar com a terceira via, mas sem admitir que retira sua candidatura.
"O diálogo pressupõe uma página em aberto. [...] Quem senta para dialogar senta para dialogar mesmo. Agora, nem eu exijo que ninguém retire a candidatura e nem eu posso chegar dizendo que admito retirar a candidatura", declarou.
O ex-ministro participou de sabatina realizada por Folha e UOL nesta quarta-feira (20). A entrevista foi conduzida pela apresentadora Fabíola Cidral, pelo colunista do UOL Josias de Souza e pela jornalista da Folha Catia Seabra.
Ciro afirmou que sua negociação em curso com PSD e União Brasil —que ele aceita que se estenda para MDB e PSDB— não pode ser um "conchavo despolitizado". Para ele, acima da escolha de um candidato único, é preciso buscar convergências no diagnóstico da crise e de como sair dela.
Ele disse ainda que manterá sua candidatura pelo menos até julho, quando entende que o cenário estará mais claro para as definições de nomes.
O presidenciável do PDT afirmou que, assim como a terceira via, também censura a polarização entre Lula e Bolsonaro. Ciro repetiu que a condição para sentar-se à mesa foi superada, já que Sergio Moro (União Brasil), a quem ele chama de "inimigo da República", já não participa da construção como presidenciável.
Em relação a João Doria (PSDB), que foi chamado por Ciro de "viúva de Bolsonaro", o pedetista afirmou na sabatina que não pode julgá-lo, já que ele "rompeu com o passado de forma honesta, inclusive fazendo autocrítica".
Segundo Ciro, 70% dos brasileiros são ex-bolsonaristas. "Nosso povo é ex-bolsonarista porque foi enganado", disse o pedetista, atribuindo a eleição de Bolsonaro "ao colapso moral e econômico do PT".
Enquanto já chamou a união de Lula com Geraldo Alckmin (PSB) e Guilherme Boulos (PSOL) de cruzamento de jacaré com peixe-boi, Ciro afirmou que sua aproximação com a União Brasil (fusão do DEM com PSL) se justifica pela emergência de superar a crise econômica.
Ciro criticou duramente Lula e disse não considerar o ex-presidente inocente. "Lula é responsável por ter levado a corrupção para o centro do poder no país", afirmou. Para Ciro, o ex-presidente não é humilde e não aprende com os erros.
"No ano seguinte do golpe, Lula estava abraçado com os promotores desse mesmo golpe", declarou a respeito do impeachment de Dilma Rousseff (PT) em 2016.
O pré-candidato do PDT também afirmou que Lula "está destruindo as organizações partidárias" e "especialmente o campo progressista", citando PSOL, PC do B e PSB, partidos que se aliaram ao petista.
Ciro disse não haver nenhuma chance de uma aliança com o petista, que "perdeu a decência" e "está apodrecido moralmente". "O antipetismo ressuscita o bolsonarismo boçal", completou.
Ele afirmou ainda concordar com seu jingle, em que afirma que Lula rouba, mas faz e Bolsonaro rouba sem fazer. Ciro defendeu o marqueteiro João Santana, que trabalhava para o PT e foi condenado por receber caixa dois.
"Ele pagou a pena e está de volta à ressocialização a que todo cidadão que transgrediu a lei tem direito", disse.
Questionado sobre Bolsonaro, Ciro afirmou que o presidente é, sim, pior que Lula. "É um grande corrupto, um grande incompetente, é um fascista", disse, acrescentando que Lula "é do campo da democracia".
Ciro também foi questionado sobre a possibilidade de anular seu voto no segundo turno, se a disputa for entre Lula e Bolsonaro.
Ele respondeu que nunca anulou seu voto e admitiu votar no petista sem mencioná-lo. "O segundo turno é a hora de votar no menos ruim."
Já em 2018, Ciro afirmou que voltou de Paris para votar em Fernando Haddad (PT) no segundo turno. "Mas não me obrigue a fazer campanha com bandido", emendou ao justificar sua ausência na campanha contra Bolsonaro após o primeiro turno.
Ciro evitou responder se é contra ou a favor da legalização do aborto, mas por fim afirmou que "o aborto é uma grande tragédia humana e social".
"A grande questão é qual é o papel do Estado diante dessa tragédia. Ninguém pode ser a favor do aborto. Só Lula na leviandade dele [...] se apresenta agora simplificando essa questão, e Bolsonaro ganha quatro pontos na pesquisa", completou.
O pré-candidato do PDT também declarou ser contra flexibilizar porte de armas, legalizar a maconha e privatizar a Petrobras.
É a favor, por outro lado, das cotas raciais, da taxação de grandes fortunas e do cumprimento da pena após condenação em segunda instância. Ele pretende constitucionalizar o auxílio emergencial como uma renda mínima.
Ciro pretende revogar o teto de gastos, a independência do Banco Central e a reforma trabalhista —ele quer apresentar e aprovar novas reformas nos primeiros seis meses de governo.
Ele prometeu ainda encerrar a questão do marco temporal "demarcando todas as terras indígenas de uma vez".
O pedetista afirmou ser o único em condição de enfrentar Lula e Bolsonaro. "Eu não cometo crime, eu nunca respondi por nenhum mal feito de corrupção", disse.
Ele lembrou que a operação da Polícia Federal da qual foi alvo de busca e apreensão foi anulada, em fevereiro passado, pela Quarta Turma do TRF-5 (Tribunal Regional Federal da 5ª Região).
Em dezembro de 2021, Ciro havia sido alvo da Operação Colosseum, que investiga supostas fraudes na reforma da Arena Castelão, em Fortaleza, entre 2010 e 2013.
Apesar de estar em terceiro lugar (entre 6% e 8%, dependendo do cenário de candidatos) na última pesquisa Datafolha, de março, Ciro afirmou que estará no segundo turno. Disse, porém, que disputa sua última eleição e que irá para a academia ou para a iniciativa privada em seguida. Também prometeu não concorrer à reeleição se vencer.
Respondendo a perguntas de internautas, Ciro afirmou receber R$ 22 mil por mês do seu partido, o PDT, além de realizar palestras, pelas quais cobra R$ 30 mil. "Já recebi mais de R$ 100 mil em um mês dando palestra", completou.
RAIO-X
Ciro Gomes, 64
Foi prefeito de Fortaleza, governador do Ceará e ministro dos governos Itamar Franco e Lula. É formado em direito pela Universidade Federal do Ceará. Já foi filiado ao MDB, PSDB, PPS, PSB e PROS. Atualmente está no PDT. Candidatou-se à Presidência em 1998, 2002 e 2018. Na última eleição, ficou em terceiro lugar, com 12,4% dos votos válidos.
CONFIRA AS DATAS DAS SABATINAS E DOS DEBATES
Sabatinas presidenciais
- Vera Lúcia (PSTU) - 26/4 - 10h
- Luiz Felipe d'Avila (Novo) - 27/4 - 10h
- João Doria (PSDB) - 28/4 - 10h
- André Janones (Avante) - 29/4 - 10h
- 2º turno - de 10 a 14/10
Debates presidenciais
- 1º turno - 22/9, às 10h
- 2º turno - 13/10, às 10h
Debate com candidatos à Vice-Presidência
- 1º turno - 29/9, às 10h
Debate com candidatos ao Senado
- 1º turno - 27/9, às 10h
Sabatinas com candidatos ao Governo de SP
- 1º turno - de 2 a 6/5
- 2º turno - de 17 a 21/10
Sabatinas confirmadas em SP
- Márcio França (PSB) - 2/5 - 10h
- Felício Ramuth (PSD) - 2/5 - 16h
- Abraham Weintraub (PMB) - 3/5 - 10h
- Elvis Cezar (PDT) - 3/5 - 16h
- Rodrigo Garcia (PSDB) - 4/5 - 10h
- Vinicius Poit (Novo) - 4/5 - 16h
- Altino Junior (PSTU) - 5/5 - 10h
- Tarcísio de Freitas (Republicanos) - 6/5 - 10h
- Fernando Haddad (PT) - 6/5 - 16h
Demais sabatinas
- Semana de 9/5 - MG
- Semana de 16/5 - RJ
- Semana de 23/5 - BA
- Semana de 30/5 - PR
- Semana de 06/6 - RS
- Semana de 13/6 - PE
- Semana de 20/6 - CE
Debates com candidatos ao Governo de SP
- 1º turno - 19/9, às 10h
- 2º turno - 20/10, às 10h
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.