Descrição de chapéu Eleições 2022

Ciro critica fala de Lula, e 3ª via prega unidade em evento nos EUA

Moro, Doria, Tebet e Leite participam da Brazil Conference, evento organizado por estudantes de universidades como Harvard e MIT

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Boston

Ciro Gomes (PDT), pré-candidato à Presidência, disse que não pretende adotar uma versão "paz e amor" na eleição deste ano.

"Eu falo o que eu quero, do jeito que eu quero, uso palavrão. Estou aqui exibindo a minha vida, tenho esta personalidade", respondeu Ciro, durante sabatina na Brazil Conference, em Boston, neste domingo (10).

Organizado por estudantes de universidades como Harvard e MIT, o evento recebeu presenciáveis como Sergio Moro (União Brasil), Simone Tebet (MDB), João Doria (PSDB) e Eduardo Leite (PSDB), que falaram em mesas separadas. Tebet e Doria foram sabatinados de modo virtual.

O canditado à Presidência Ciro Gomes (PDT) durante sabatina na Brazil Conference, em Boston (EUA)
O canditado à Presidência Ciro Gomes (PDT) durante sabatina na Brazil Conference, em Boston (EUA) - Brazil Conference

Os pré-candidatos da chamada terceira via citaram diversas vezes a necessidade de união para vencer o ex-presidente Lula (PT) e o presidente Jair Bolsonaro (PL), mas deixaram claro que gostariam de ser escolhidos para disputar a Presidência.

Houve alguma convergência em alguns pontos, como a necessidade de rever impostos, reforçar a proteção ambiental e combater a desigualdade e a pobreza.

Ciro falou sobre seu temperamento em resposta a uma pergunta do humorista Antonio Tabet, que citou o caso de Lula, que adotou um discurso mais brando na campanha de 2002. O pedetista tem feito críticas duras tanto contra o PT quanto a Bolsonaro.

Ainda a respeito da eleição, Ciro disse que pretende escolher seu vice apenas em julho, e não comentou sobre as possibilidades de ter Marina Silva (Rede) ou José Luiz Datena (PSC) como parceiros de chapa.

Durante a conversa, o presidenciável falou longamente sobre seus planos econômicos. "O Brasil pode atingir o nível da Espanha em 30 anos, em indicadores como mortalidade infantil, renda per capita e expectativa de vida", afirmou.

O pedetista defendeu mais impostos sobre lucros e dividendos e sobre grandes fortunas, além de uma política econômica que ajude a recuperar a capacidade industrial do Brasil.

"Bolsonaro assumiu o governo com o dólar a R$ 3,70, passou de R$ 5,90 agora está em R$ 4,70. As indústrias estão indo embora do Brasil porque ninguém consegue fazer cálculos e planos de negócio".

Ciro também questionou a fala recente de Lula sobre o aborto. O petista disse que o tema deveria ser tratado como uma questão de saúde pública.

"O que que o Lula tinha de dar uma declaração como essa? Como que ele declarou que todo mundo tem direito a fazer aborto, uma coisa simplória com um assunto tão grave e complexo? Lula foi presidente da República por anos. Por que não resolveu essa questão?", reclamou.

Ele disse que a esquerda acaba "caindo como patinhos" ao lidar com questões de comportamento, como o aborto, que são dominadas por candidatos de direita. O ex-governador cearense também disse estar buscado se aprimorar nas questões de gênero, e que busca há décadas ter mais mulheres em altos cargos em seus governos.

"É um processo permanente e humilde de aprendizado. Já reproduzi piada machista de mau gosto, mas fui aprender. Ainda tenho algumas dificuldades, com o português, como usar todos, todas, todes."

Simone Tebet disse considerar que candidatos da terceira via estão em baixa nas pesquisas porque ainda não foram apresentados oficialmente ao eleitorado.

Pesquisa Datafolha, divulgada em 24 de março, mostrou Lula com 43% das intenções de voto, contra 26% de Bolsonaro, 8% de Moro, 6% de Ciro, 2% de Doria e 1% de Tebet.

"Não pontuamos porque ainda não apresentamos ao Brasil qual será a cara do centro democrático, que ainda não apresentou seu candidato. Me desculpe o ministro Sergio Moro, mas hoje ele ainda não é o pré-candidato da União Brasil", afirmou, comentando uma fala do ex-juiz, que defendeu o desempenho nas pesquisas como critério para a definição de um nome do centro.

Tebet falou sobre propostas para combater a violência e a desigualdade social. "Algo mais imediato, que pode fazer em seis meses é a reforma tributária. Ela faria com que pudéssemos fazer com que 9 das 10 faixas de renda da população pagassem menos impostos, por diminuir taxas sobre o consumo", propôs.

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João Doria durante a oitava edição da Brazil Conference, em Boston - Brazil Conference

Questionado sobre a falta de união interna do PSDB em torno de seu nome, Doria disse que se acostumou a disputar eleições desta forma, por ter conquistado a Prefeitura de São Paulo, em 2016, e o Governo de São Paulo, em 2018, mesmo sendo mal visto por alas do partido e após ter vencido prévias acirradas.

"Estou me tornando especialista em romper com tradições e análises políticas deste tipo. Até prefiro estar em um partido assim do que em um partido que tenha dono", afirmou.

Perguntado sobre que papel as Forças Armadas teriam em um futuro governo, Doria disse que pretende fazer com que elas voltem a cumprir seu papel constitucional. "Meu pai nunca nos ensinou a odiar os militares, mas a amar o Brasil."

Questionado sobre ações para combater o racismo, o ex-governador de São Paulo citou o uso de câmeras por policiais durante o expediente, de modo a impedir condutas ilegais especialmente contra a população pobre. "O uso da força desnecessária foi a quase zero".

Correndo por fora após perder as prévias para Doria, Eduardo Leite não participou de uma sabatina como presidenciável, mas de um debate sobre como melhorar o poder econômico do brasileiro, ao lado de Laura Carvalho, professora de economia da USP, e de Eduardo Loyo, sócio do BTG Pactual.

Questionado se poderia ser apresentado como candidato à presidente, Leite respondeu "tô na pista pra negócio".

Leite disse considerar que discutir as questões envolvendo a Petrobras é "ficar parado no século 20" e que, em vez disso, o Brasil deveria buscar explorar novas oportunidades de energia limpa.

Sobre o teto de gastos, disse considerar que a medida precisa de alguma revisão, a ser feita com cuidado para que o país não aumente seu endividamento ou perca credibilidade internacional.

Também no domingo, o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso participou de um debate sobre a proteção à democracia. "Fazer comício na porta de quartel não é algo natural", disse, em referência a gestos já feitos pelo presidente Bolsonaro.

Barroso disse considerar que as instituições estão dando conta da pressão feita pelo presidente, com algumas sequelas. "Há riscos, mas não há iminência de tudo desabar", avalia.

Ele defendeu que a sociedade busque recriar um espaço comum de fatos, de modo a romper bolhas criadas pela propagação de fake news. Também fez uma defesa de uma união nacional para reduzir a pobreza e rever temas como a questão tributária. "Eu e o garçom que me serve no Supremo pagamos o mesmo imposto", questionou.

Moro participou do evento no sábado (9). Durante a sabatina, ele fez críticas a decisões do STF e voltou a defender a importância de uma terceira via nas eleições de 2022. "Nunca coloquei meu nome como ambição pessoal. Há uma necessidade de união do centro. Meu nome está à disposição. Quem vai decidir será o partido, e especialmente o [presidente] Luciano Bivar", disse.​

Na semana passada, Moro deixou o Podemos e migrou para a União Brasil, partido formado a partir da fusão de PSL e DEM. Inicialmente, disse que desistiria de tentar a Presidência, mas no dia seguinte voltou a ventilar a ideia.

Isso irritou parte da União Brasil, que chegou a propor a desfiliação do ex-juiz. Por fim, o comando do partido divulgou uma nota dizendo que o projeto de Moro teria como foco o estado de São Paulo.

Moro também protagonizou um dos momentos mais tensos do evento. Ele se irritou ao ser questionado pelo advogado Augusto de Arruda Botelho sobre o vazamento de mensagens entre ele e procuradores que atuavam na Operação Lava Jato.

Botelho pediu que ele comentasse uma troca de mensagens em que o procurador Deltan Dallagnol teria proposto forjar uma denúncia anônima para forçar uma testemunha a depor. Moro teria dito apenas "melhor formalizar isso".

Para Botelho, ao não repreender a prática, o ex-juiz pode ter colaborado com o crime de falsidade ideológica.

O ex-juiz disse que não houve formalização de denúncia por parte daquela testemunha e chamou o caso de "fantasia". "Ninguém foi incriminado com base em prova fraudada na Lava Jato. Nada nas mensagens mostram que um inocente foi condenado indevidamente. Não houve conluio ilícito entre juízes, procuradores e advogados", retrucou Moro.

O ex-juiz circulou pelo evento escoltado por segurança ostensiva, com um agente de terno o seguindo a todos os lugares. Mesmo bilionários que estiveram no local, como Jorge Paulo Lemann e Henrique Dubugras, não tiveram o mesmo tipo de proteção nos corredores do evento, realizado em um hotel.

Além dos políticos, personalidades, estudantes e jovens empreendedores estiveram presentes. Conversas sobre rodadas de investimentos envolvendo milhões de dólares eram tratadas de forma corriqueira nos corredores e no café do local.

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