Datafolha: 61% avaliam que Doria agiu mal ao renunciar para disputar a Presidência

Índice chega a 67% entre moradores da capital paulista, que não viram o tucano concluir seu mandato de prefeito

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São Paulo

A maior parte dos paulistas (61%) afirma que o ex-governador João Doria (PSDB) agiu mal ao deixar o Governo de São Paulo na semana passada para concorrer à Presidência da República nas eleições deste ano.

Pesquisa Datafolha mostra que 30% avaliam que Doria agiu bem, enquanto outros 9% não souberam opinar. A margem de erro é de dois pontos para mais ou para menos.

O levantamento, feito no estado de São Paulo entre 5 e 6 de abril, ouviu 1.806 pessoas em 62 cidades. A pesquisa está no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) sob o número SP-03189/2022.

A legislação eleitoral exige que mandatários deixem suas funções no Executivo seis meses antes da eleição para concorrer a outros cargos. O Datafolha de 24 de março mostra que Doria marcou 2% de intenções de votos na corrida para o Palácio do Planalto.

PSDB, MDB, União Brasil e Cidadania têm um acordo para apresentar um candidato único da chamada terceira via em maio –Doria é um dos nomes colocados, mas pode não ser o escolhido.

Doria é até hoje cobrado e lembrado por paulistanos por ter abandonado a Prefeitura de São Paulo, em 2018, para concorrer ao governo do estado. Ele havia sido eleito dois anos antes em primeiro turno. O vice-prefeito Bruno Covas (PSDB) assumiu.

O ex-governador venceu a eleição, mas perdeu na capital paulista.

De acordo com o Datafolha, 67% dos moradores da capital afirmam que ele agiu mal ao renunciar, enquanto 26% dizem que ele agiu bem.

João Doria (PSDB) durante evento de despedida do Palácio dos Bandeirantes - Bruno Santos-31.mar.22/Folhapress

Neste ano, além de Doria, outros cinco governadores renunciaram para concorrer na eleição: Camilo Santana (PT), no Ceará; Eduardo Leite (PSDB), no Rio Grande do Sul; Flávio Dino (PSB), no Maranhão; Renan Filho (MDB), em Alagoas; e Wellington Dias (PT), no Piauí.

Como revelou a Folha, Doria hesitou em renunciar na véspera de um grande evento marcado para sua despedida, que afinal ocorreu no dia 31 de março. O então governador chegou a comunicar que desistira de disputar a corrida presidencial e terminaria o mandato, o que abriu uma crise no PSDB.

Sentindo-se abandonado pelo partido, Doria só voltou atrás e manteve o plano inicial após obter uma carta do presidente da sigla, Bruno Araújo, reafirmando que ele é o único presidenciável da legenda –Eduardo Leite tenta obter o posto mesmo após perder as prévias e uma ala de tucanos o apoia.

A operação tucana que entrou em campo para que Doria renunciasse tinha como objetivo salvar a candidatura de Rodrigo Garcia (PSDB) em São Paulo, considerada competitiva. Era preciso que o então vice-governador assumisse o governo para fazer campanha ocupando o cargo e descolado de Doria, que tem alta rejeição.

A pesquisa Datafolha mostra Rodrigo numericamente em quarto lugar, com 6%. Ele aparece atrás de Fernando Haddad (PT) com 29%; Márcio França (PSB) com 20% e Tarcísio de Freitas (Republicanos) com 10%.

Entre quem declarou voto em Rodrigo, 33% acreditam que Doria agiu bem ao deixar o palácio e 61% opinam que ele agiu mal.

O atual governador é conhecido por 38% dos eleitores e rejeitado por 17%, o que lhe dá margem para crescer. O levantamento mostra ainda como a associação com Doria pode prejudicar o tucano —66% dizem que não votariam em candidato apoiado pelo ex-governador.

O Datafolha também apurou a avaliação do governo Doria –23% consideram a gestão ótima ou boa contra 36% que a veem como ruim ou péssima. Outros 39% dizem que o tucano foi regular.

Dentre aqueles que julgam o governo bom ou ótimo, 46% acham que Doria agiu mal ao renunciar e 48% dizem que ele agiu bem. Já na porcentagem que vê o governo como ruim ou péssimo, 70% são contra a renúncia e 23% a favor.

Doria agiu mal ao trocar o Bandeirantes pela corrida presidencial para 65% dos evangélicos, 67% dos empresários e 54% dos funcionários públicos.

Entre quem recebe mais de dez salários-mínimos, 51% veem que Doria agiu mal, enquanto 45% afirmam que ele agiu bem. Já entre os jovens de 16 a 24 anos, 54% opinam que a renúncia foi um erro e 34% enxergam um acerto.

Doria correu para entregar uma série de promessas e metas nas últimas semanas à frente do cargo, incluindo parte do Museu do Ipiranga, a duplicação da rodovia dos Tamoios e a nova fábrica do Butantan.

Também apresentou o trem que só chega ao país no fim do ano para operar na linha 17-ouro —ele não cumpriu a meta de iniciar a operação da linha.

Além de pai da vacina, Doria tem um saldo de entregas em diversas áreas, como ensino integral, despoluição do rio Pinheiros, redução da criminalidade e retomada de obras.

Um levantamento da Folha com 50 das principais promessas e metas da gestão, assumidas durante a campanha ou já no governo, mostra que quase metade delas não foi realizada (24%) ou está em fase inicial (20%). Outras 12% foram concluídas, 16% estão em estágio avançado, e 28% seguem em andamento.

Adversários do tucano opinam que, agora como ex-governador e fora dos holofotes, Doria tem menos chances de crescer e verá sua pré-candidatura cada vez mais frágil.

Como mostrou a Folha, a trajetória política de Doria à frente do Palácio dos Bandeirantes foi marcada por uma série de vaivéns e tropeços de articulação, que custaram seu apoio no PSDB. A começar pela associação com Jair Bolsonaro (PL) para se eleger e, em seguida, tornar-se o principal rival do presidente durante a pandemia.

O último recuo de Doria foi justamente sobre a renúncia. Apesar de ter descrito a jogada como estratégica, aliados do ex-governador admitem que não houve nada pensado –ele realmente teve dúvidas sobre a candidatura.

Foi o que bastou para que adversários, dentro e fora do PSDB, avaliassem que Doria errou mais uma vez, pois expôs sua inviabilidade eleitoral além de comprar briga com uma série de aliados, incluindo Rodrigo Garcia.

Já políticos do entorno do governador elogiaram o resultado. Para eles, a carta de Araújo coloca fim às pretensões presidenciais de Leite e inviabiliza o gaúcho.

Nesta semana, fora de seus cargos, Doria e Leite concentraram atividades em Brasília, reunindo-se com tucanos e membros de partidos aliados em busca da indicação para representar a terceira via.

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