MDB e PSDB mantêm plano de candidatura da 3ª via em encontro sem União Brasil

Evento em São Paulo com empresários e tucanos anti-Doria teve clima pró-Tebet

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São Paulo

Após a União Brasil indicar que deve deixar o grupo de partidos da terceira via, MDB e PSDB/Cidadania (que acertaram uma federação) foram cobrados a apresentar um candidato único em um encontro com empresários que reuniu adversários de João Doria (PSDB).

A plateia de cerca de 50 pessoas em um hotel em São Paulo, nesta quinta-feira (28), demonstrou preferência pela senadora Simone Tebet (MDB). O evento foi realizado pelos grupos da sociedade civil Derrubando Muros e Roda Democrática.

Em mais um sinal do desembarque, não houve representante da União Brasil presente, mas o presidente do MDB, Baleia Rossi, afirmou que os demais partidos seguem em conversas e mantêm o pacto de anunciar um candidato único até 18 de maio.

Pimenta da Veiga (PSDB), Roberto Freire (Cidadania) e Baleia Rossi (MDB) durante evento pró-terceira via
Pimenta da Veiga (PSDB), Roberto Freire (Cidadania) e Baleia Rossi (MDB) durante evento pró-terceira via - Carolina Linhares/Folhapress

O presidente do PSDB, Bruno Araújo, não compareceu e foi representado pelo ex-deputado Pimenta da Veiga (PSDB), que faz parte do grupo de tucanos crítico a Doria e partidário de Eduardo Leite (PSDB-RS).

Entre empresários e outros tucanos rivais de Doria presentes, o clima era o de que Tebet deve ser a candidata do grupo, já que o tucano tem alta rejeição. Alguns oradores declararam apoio a ela, incluindo a economista Elena Landau, que integra a equipe econômica que prepara o plano de governo da senadora.

Quem escancarou a atmosfera anti-Doria foi o ex-deputado Eduardo Jorge (PV). Ao discursar, disse que haver uma unanimidade contra o tucano apesar de ele ter uma série de realizações em São Paulo, como a despoluição do rio Pinheiros.

"A eleição é personalista. E o personalismo dele o joga para baixo. Existe o preconceito com candidatos paulistas [...], mas ele é rejeitado no próprio estado. [...] Algum amigo dele tem que falar isso", disse Eduardo Jorge, arrancando risos da plateia. Ele declarou apoio a Tebet.

​O ex-governador Antônio Britto (RS), atual diretor da Associação Nacional de Hospitais Privados, disse que o que falta para o acordo da terceira via é "a grandeza de pessoas não tão grandes".

O presidente do Cidadania, Roberto Freire, afirmou que só há duas opções —Tebet e Doria. Diante da reação de contrariedade do público, que torcia o nariz para o tucano e tinha aliados de Leite, ele afirmou que não queria "complicar adicionando um terceiro nome".

"Deixou de existir essa possibilidade [de Eduardo Leite]. Facilitou. Pode não ter sido o melhor, segundo meu agrado ou de qualquer um de nós, mas, para o nosso objetivo, facilitou", disse ele em referência à carta de Leite, da semana passada, em que ele declara apoio a Doria.

O entorno do gaúcho, no entanto, vê o movimento como um recuo tático e não uma desistência. A ideia de Leite é não ser responsabilizado pela divisão interna que poderia levar o partido a não ter candidato algum.

A leitura desse grupo é a de que Doria será forçado a desistir por seus próprios aliados, o que abre caminho para Tebet ou mesmo para a volta de Leite na negociação da terceira via. O gaúcho também cogita concorrer novamente ao governo do seu estado.

A jornalistas Freire afirmou que a candidatura de Doria, embora o tucano tenha vencido as prévias do PSDB, está condicionada ao acerto da terceira via. O presidente do Cidadania também disse que poderia haver diálogo com Ciro Gomes (PDT).

A escolha até o dia 18, disse ele, é "impreterível" —"se possível, antes", emendou. Freire mencionou ainda haver "tentativas de impedir a unidade, tentativas de dispersão" por parte dos adversários.

Também estavam presentes o ex-senador José Aníbal (PSDB-SP), o ex-deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), o prefeito de Santo André, Paulo Serra (PSDB), e o dirigente do PSDB-SP Evandro Losacco, que são entusiastas de Leite.

De modo geral, a terceira via foi cobrada a não desistir e entrar em acordo o quanto antes em torno de um nome para ter chances na eleição. Pestana, por exemplo, afirmou que "ninguém aguenta mais essa novela".

Também houve pedidos para que os partidos apresentem um programa em vez de discutir nomes.

Tebet marcou 1% na última pesquisa Datafolha, de março, enquanto Doria chegou a 2%. O presidente Jair Bolsonaro (PL) marcou 26% e o ex-presidente Lula (PT), 43%.

Freire afirmou que "a União Brasil está enveredando por uma quarta via". O ex-juiz Sergio Moro (União), porém, disse nesta quinta que a saída do partido não é uma decisão tomada.

Sem a União Brasil, os partidos da terceira via perdem mais da metade do fundo eleitoral, como mostrou a Folha.

Moro afirmou que é "prematuro" dizer que a União Brasil se afastou das discussões sobre uma candidatura única e que os boatos sobre o fim da terceira via são "um tanto quanto exagerados".

"Essas questões estão em discussão, elas têm idas e vindas. O que existe é uma certa impaciência da sociedade, com razão, e do União Brasil de decidir quem vai ser e se vai ter essa unidade. As manifestações feitas pelo partido vão nesse sentido, de que é preciso definir logo", afirmou Moro à imprensa após reunião com o prefeito de Campinas, Dário Saadi (Republicanos), nesta quinta.

"O União Brasil, como maior partido do país, tem uma posição relevante e tem que ser levada em consideração. Não está ali apenas para ser um figurante dentro desse processo político", continuou.

"O que é fundamental é que a gente tenha uma candidatura de centro que possa romper essas duas opções políticas extremas", afirmou, referindo-se à polarização entre Lula e Bolsonaro.

Em sabatina realizada pela Folha e pelo UOL, nesta quinta, Doria disse ser otimista a respeito da unidade da terceira via e afirmou ser preciso esperar a decisão definitiva da União Brasil, que deve ser anunciada na semana que vem.

Doria admitiu que pode integrar a composição na cadeira de vice, enquanto Tebet, também em sua sabatina, disse não considerar essa possibilidade.

Baleia Rossi afirmou à imprensa, durante o evento em São Paulo, que a maior parte do MDB é favorável ao nome da senadora —há também quem apoie Lula ou Bolsonaro. Ele disse que a solução mais fácil seria liberar o partido e não lançar um candidato, mas descartou essa hipótese.

"Quando tiver uma só candidatura, as pessoas vão olhar para essa candidatura com mais seriedade", declarou o emedebista.

O evento desta quinta foi mais um sinal de isolamento de Doria, após dois reveses seguidos —o cancelamento de um jantar que ele ofereceria aos presidenciáveis da terceira via e a manutenção do dia 18 de maio como prazo para a escolha de um candidato.

Como mostrou a Folha, Doria queria o adiamento da data. O ex-governador nega publicamente que tenha pedido o adiamento.

Segundo a reportagem apurou, Doria já recebeu recados de tucanos no sentido de que não deve ser o nome escolhido pela terceira via. Para reverter isso, o ex-governador marcou um jantar com a bancada do PSDB na semana que vem na tentativa de uma aproximação.

Colaborou Victoria Azevedo

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