Descrição de chapéu Eleições 2022

Moro foi ingênuo e mostrou inexperiência ao migrar para a União Brasil, diz Renata Abreu

'Candidatura não se constrói de cima para baixo', afirma presidente do Podemos, partido que ex-juiz abandonou

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Brasília

A presidente do Podemos, Renata Abreu, afirmou ver ingenuidade e falta de experiência política em Sergio Moro na migração para a União Brasil e disse não acreditar que ele conseguirá superar as resistências internas na nova sigla para manter de pé sua pretensão de disputar a Presidência da República.

"Uma candidatura não se constrói de cima para baixo. A vinda dele pelo Podemos foi um ano de construção. Você vai para um partido dialogando [apenas] com um lado da cúpula, é óbvio que vai dar a confusão que deu", disse a deputada.

Renata Abreu afirma ainda ter sabido pela imprensa que Moro iria abandonar a legenda. Procurado, o ex-juiz não se manifestou sobre as declarações da deputada.

A deputada Renata Abreu e o ex-presidenciável Sergio Moro
A deputada Renata Abreu e o ex-presidenciável Sergio Moro - Rivaldo Gomes-12.mar.22/Folhapress

​Moro trocou o Podemos pela União Brasil em 31 de março afirmando que abria mão, naquele momento, sua pretensão presidencial.

No dia seguinte, voltou atrás e afirmou que não havia desistido de nada, o que deflagrou uma ameaça de impugnação da filiação pela ala da União vinda do DEM (o partido é fruto da fusão do DEM com o PSL).

Nesta terça-feira (12) a bancada de deputados federais do novo partido de Moro lançou a pré-candidatura ao Planalto do presidente da sigla, Luciano Bivar, em caráter irrevogável.

"Eu acho muito ruim você estar num partido que está todo mundo te batendo. 'Eu achei que no Podemos o pessoal podia me defender mais'. Tudo bem, mas você está em um que está todo mundo batendo. Eu achei que ele errou na decisão dele", afirmou Renata Abreu.

Como a sra. ficou sabendo que Moro iria deixar o Podemos? Eu recebi uma notícia na quarta-feira [30 de março, véspera da assinatura de filiação de Moro à União Brasil] à noite, saiu em algum site, e eu mandei para ele na quarta ainda, às 23h30. Falei: 'Procede?'. Aí na quinta de manhã ele me ligou e falou: 'Procede, eu decidi, eu vou sair do partido'. Aí eu falei: 'Como?'. Aí depois teve o ato de filiação ao meio-dia, mas ele já tinha assinado a ficha no dia anterior. Foi assim que eu soube, pela imprensa.

E qual foi a razão que ele apresentou para ter feito essa troca sem ter avisado? Ele falou que o pessoal não estava defendendo muito ele no partido, que ele estava se sentindo muito sozinho e tal. Aí, quando ele me falou, eu contra-argumentei. Eu, pessoalmente, estava rodando com ele o Brasil inteiro e todo mundo viu isso. E eu falei para ele: 'Este mês eu preciso focar nas filiações, eu não tenho como estar ao seu lado neste mês'.

Então da minha parte ele sabia. E na verdade o que aconteceu é que todos os senadores e todos os deputados nesses dois meses estavam 100% focados na construção das chapas. Não era só no Podemos. Era em todos os partidos, todos os candidatos. O argumento principal que ele fala, inclusive abertamente, é que ele decidiu ir para um partido mais estruturado, por achar que teria maiores condições de ganhar a eleição.

Ele já tinha manifestado essa preocupação antes? Lá atrás, no início, em que a gente estava tentando a própria conversa com a União, eu mesma dei entrevista e falei: 'Se o preço para a gente criar uma candidatura competitiva for colocar o Sergio lá, não tem problema, vamos dialogar'.

E eu mesma sentei com o [presidente da União Brasil, Luciano] Bivar, conversei sobre isso, conversei com o [secretário-geral do partido ACM] Neto. Mas quando a gente viu que ali não era um ambiente fácil de construir uma candidatura, porque existe um grupo muito resistente e que tem poder de veto na Executiva, a gente falou que não era o melhor caminho, a gente precisa ter segurança da legenda.

E aí seguimos em frente. Então isso nunca mais foi conversado. Aí continuamos as conversas, ele com Bivar e eu com o Neto, para falar de aliança. E o próprio Neto tinha sinalizado que não teria resistência a construir uma aliança. Tanto é que eu fiz movimentações nos estados para facilitar.

Na Bahia migramos o partido para a base do Neto. Em Goiás migramos o partido para a base do [governador Ronaldo] Caiado, para tirar qualquer resistência do DEM. Possibilidade de aliança existia, mas o pessoal do DEM sempre deixou claro que ter uma candidatura nacional num ambiente polarizado, com um candidato a governador, atrapalhava muito os projetos regionais, tanto é que a gente perdeu quase todos os candidatos a governo. Só ficou o Léo [Moraes, candidato em Rondônia] porque deixou para filiar na última hora. Aí quando teve anúncio da saída do Moro ele resolveu ficar.

O Reguffe era um. Reguffe é Podemos, Podemos, Podemos. Ele saiu porque o PDT e o PSB falaram para ele que não o apoiariam por ele estar no partido do Moro. Então eu, que estava fazendo as construções regionais, já estava sentindo a resistência dos projetos majoritários.

A sra. acha que ele foi um pouco ingênuo ao ir para a União com a expectativa de ser o candidato do partido à Presidência? Eu acho, porque uma candidatura não se constrói de cima para baixo. A vinda dele pelo Podemos foi um ano de construção. Você vai para um partido dialogando com um lado da cúpula, é óbvio que vai dar a confusão que deu. Mas talvez isso seja um pouco de inexperiência política. É uma construção. Mesmo no Podemos, eu querendo uma candidatura, estou toda preocupada com uma construção em grupo, porque política se faz em grupo.

E como o partido ou a sra. pessoalmente se sentiu em relação a essa atitude que ele tomou? Eu fui muito sincera com ele. Eu não gostei. Me magoei muito, porque se teve alguém que se dedicou à campanha dele fui eu, em todos os momentos. Viajando o Brasil, rodando, ajudando. Não foi construído, eu estava com ele na segunda-feira [28 de março] filiando o Daniel José em São Paulo. Em nenhum momento foi me dito que ele estaria pensando em sair do partido. Nenhum momento.

Como a sra. vê essa possibilidade de ele ser candidato a deputado federal pela União Brasil? Para mim ele não é candidato a deputado federal, ele nunca quis, ele sempre foi muito aberto de falar isso, que a única candidatura que ele não sairia é a deputado federal, por uma série de razões.

Eu acho que foi muito mais um discurso de alguns membros da União falando 'olha, a gente não consegue garantir a sua legenda, mas é melhor você entrar por baixo, falando que vem candidato a deputado, senador, e a gente vai construindo dentro do partido'. E ele entendeu que isso seria uma possibilidade.

E a sra. acha que não é uma possibilidade? Eu acho muito difícil.

E como a sra. vê o futuro político dele agora, pensando nessas movimentações que ele fez? Eu acho que hoje o caminho mais natural seria uma candidatura a Senado em São Paulo, se a aliança local permitisse isso, porque a gente sente que mesmo lá tem uma resistência. Agora a União em São Paulo, pelo tamanho do partido, teria força, talvez, para colocar uma candidatura dele ao Senado.

Tendo em vista toda essa relação e o desfecho dessa relação, e caso ele venha a se candidatar ao Senado, você votaria ou recomendaria o voto nele? Eu votaria. Para mim, mágoa fica para trás. Nós temos candidato ao Senado lá que inclusive foi ele que convidou, que é o deputado Heni [Ozi Cukier], e é o meu candidato. Eu não guardo mágoa. Para mim as coisas que ficam para trás ficam para trás. Para mim ele errou, tomou uma decisão errada, mas somos seres humanos. Erramos. Acho que errou na forma. Mas isso não nega a história dele, o que ele fez.

Mas a migração para um partido como a União, que tem alvos da Lava Jato, que tem escândalos, abala o discurso anticorrupção dele? Eu sempre entendi que esta candidatura de agora é uma candidatura conceito, de posicionamento. Então não combina com ele, com o que ele prega, a União. O Podemos tem tudo a ver com o Sergio Moro, na minha leitura. Então seria uma candidatura que poderia ser de menor aliança, mas conceituada. Que hoje perde.

Eu acho muito ruim você estar num partido que está todo mundo te batendo. 'Eu achei que no Podemos o pessoal podia me defender mais'. Tudo bem, mas você está em um que está todo mundo batendo. Eu achei que ele errou na decisão dele.

O Podemos mantém a expectativa de candidatura própria? Nossa vontade é essa. Uma candidatura conceito. Ou o [senador] Alvaro Dias ou outros nomes que estão sendo colocados, que a gente está discutindo. Dia 27 vai ter uma reunião do partido com os presidentes estaduais, com a bancada da Câmara, a bancada do Senado. E a gente vai discutir um pouco isso.

Se a eleição fosse hoje, o segundo turno seria disputado por Lula e Bolsonaro. Qual seria a posição que você defenderia no partido nesse eventual segundo turno? Completa neutralidade e isenção. Eu não acredito em nenhum dos dois. Não vou botar minha digital nisso.

Em eventual reeleição de Bolsonaro ou em um governo Lula o Podemos seria oposição então? Não, a gente nunca vai ser oposição. Eu não acredito nessa questão base ou oposição. Então se você é oposição você é contra tudo? Você é base você vai ficar sendo carimbador? Então nosso posicionamento em qualquer governo sempre vai ser de independência ajudando o governo. Sempre.

O próprio Alvaro Dias, enquanto senador e o presidente da República era Fernando Henrique Cardoso [PSDB], ele assinou a CPI de investigação na época contra o próprio governo. O presidente era do partido dele. Por uma bandeira de independência. E é isso que a gente quer continuar mantendo. Então qualquer um que ganhe, nas pautas que são importantes para o país, vai ter o nosso apoio. Mas sem participar do governo.


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Renata Abreu, 39
Advogada e empresária, é deputada federal em segundo mandato. Presidente nacional do Podemos, ex-PTN, sigla refundada em 1995 por um tio e outros aliados.

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