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Ombudsman da Folha tem mandato renovado por um ano

Período eleitoral será um dos grandes desafios da história do jornal, diz Mariante

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São Paulo

O jornalista José Henrique Mariante, 55, teve seu mandato de ombudsman da Folha renovado por um ano. Assim, seu período no cargo se estenderá até maio de 2023.

Mariante é o 14º profissional a ocupar o posto, criado pela Folha em 1989. Entre as funções do ombudsman, estão a produção de uma coluna semanal, publicada aos domingos, e de uma crítica interna de segunda a sexta, distribuída à Redação. Também é responsável por encaminhar aos jornalistas queixas e comentários de leitores.

O jornalista José Henrique Mariante, cujo mandato de ombudsman foi renovado - Eduardo Anizelli - 7.mai.2021/Folhapress

Para garantir a independência do ocupante da função, ele não pode ser demitido durante esse período.

Na Folha desde 1991, Mariante exerceu diversos cargos, entre eles os de editor de Esporte e secretário-assistente de Redação (em dois períodos diferentes).

Segundo o ombudsman, os últimos 12 meses foram marcados por "cobranças reiteradas de leitores em relação à postura da Folha diante do governo Bolsonaro. Não significa que o jornal não se posicione, mas muitos avaliam que não tem sido suficiente".

Em outras palavras, parcela expressiva dos leitores quer mais reportagens sobre as deficiências do governo federal e mais editoriais incisivos contra a gestão Bolsonaro.

Entre as boas reportagens nesse sentido, ele cita a série sobre as irregularidades da Codevasf, estatal federal entregue pelo presidente ao centrão em troca de apoio político. "O leitor tradicional da Folha não se satisfaz com o que o jornal entrega, ele quer sempre mais", afirma Mariante.

Ainda sobre seu primeiro período como ombudsman, ele critica o que chama de "jornalismo reprodutivo".

De acordo com o ombudsman, a Folha "não pode ficar reproduzindo as frases feitas dos políticos nas redes sociais, é preciso dizer o que está acontecendo, com profundidade. O leitor percebe quando o texto é superficial".

Mariante lembra dois momentos em que recebeu uma "avalanche de reclamações" —em linhas gerais, leitores acusavam a Folha de dar guarida a opiniões racistas.

Primeiro, em setembro de 2021, quando o colunista Leandro Narloch escreveu um texto intitulado "Luxo e riqueza das 'sinhás pretas' precisam inspirar o movimento negro".

Depois, e principalmente, em janeiro deste ano, quando o antropólogo Antonio Risério publicou o artigo "Racismo de negros contra brancos ganha força com identitarismo", em que afirmava que "o racismo negro é um fato" e discordava da definição de que só há racismo quando existe opressão.

A repercussão negativa do segundo episódio, inclusive na própria Redação, levou o jornal a promover seminários sobre a questão racial e a pluralidade. Também foi formado um comitê de equidade e inclusão da Folha.

As reclamações dos leitores, evidentemente, não se restringem às questões políticas e raciais.

São recorrentes, segundo Mariante, as queixas em relação à editoria de Esporte, que deixou de lado um registro, mínimo que seja, do noticiário da área, e ao Guia, que abandonou o tradicional formato de bolso, com longos roteiros.

Ao mirar o que há pela frente, o ombudsman vê nuvens carregadas. Ele acredita que a Folha terá um dos maiores desafios da sua história na cobertura destas eleições.

"Teremos um período eleitoral em que as chances de violência e de afronta ao Estado de Direito são altas. Os EUA tiveram o seu ‘dia de fúria’ [a invasão do Capitólio por uma multidão insuflada por Donald Trump em janeiro de 2021]; aqui no Brasil, nós podemos ter vários ‘dias de fúria’", afirma.

"O prognóstico é ruim para a população e, principalmente, para a imprensa. Será um ano difícil para a Folha."

E o jornal está preparado para essa cobertura? "Não pode se dar ao luxo de não estar preparado. Não pode fugir desse papel. O jornal deve continuar apartidário e pluralista, mas não pode se curvar. Caso contrário, vai perder sua relevância."

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