Descrição de chapéu Folhajus

Queiroz atribui ao governo Witzel trama para matar ex-PM ligado aos Bolsonaros

Em vídeo, policial aposentado e amigo do presidente diz ter recebido ligação de Adriano da Nóbrega

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São Paulo

O policial aposentado Fabrício Queiroz, pivô do escândalo das "rachadinhas" que atingiu a família do presidente Jair Bolsonaro (PL), afirma que a irmã do ex-policial militar Adriano Magalhães da Nóbrega confundiu o Palácio Guanabara, sede do Governo do Rio de Janeiro, com o Palácio do Planalto, sede do governo federal.

Escuta telefônica feita pela Polícia Civil do Rio há dois anos e revelada pela Folha mostra Daniela Magalhães da Nóbrega acusando o Planalto de oferecer cargos comissionados em troca da morte do ex-capitão.

O policial aposentado Fabrício Queiroz participa de manifestação de ex-PMs no Largo do Machado, no Rio - Tércio Teixeira - 10.mar.22/Folhapress

"Eu recebi uma ligação do capitão Adriano no dia 24 de dezembro de 2019, onde ele me relatou que houve uma reunião dentro do Palácio do Guanabara, que ficou acertado que não era para ele ser preso e sim executado, o que aconteceu em fevereiro", disse Queiroz em vídeo divulgado na madrugada desta quinta (7).

Segundo ele, a irmã do ex-capitão, "chorando e angustiada", fez confusão ao contar a história para uma tia.

"Isso foi relatado pra mim pelo Adriano. Que teve uma reunião e essa reunião foi contada para ele por um amigo de turma de polícia que se encontrava dentro do palácio, um colega, deve ser coronel, major, capitão", disse.

Em 2019, o governador do Rio era Wilson Witzel, afastado em definitivo do cargo por meio de um processo de impeachment em abril de 2021 devido a um suposto esquema de propina na Secretaria de Saúde. Procurado pela reportagem para comentar os áudios, Witzel disse que não falaria sobre processo em andamento. Nesta quinta (7), também não quis comentar a declaração de Queiroz.

Amigo de Bolsonaro desde 1984, Queiroz termina o vídeo dizendo "Brasil acima de tudo, verdade acima de tudo, Deus acima de todos", em uma adaptação do lema da campanha eleitoral do presidente.

Na gravação da irmã de Adriano revelada pela Folha, ela conversa com uma tia dois dias após a morte do irmão em uma operação policial na Bahia. Diz que ele soube de uma reunião envolvendo seu nome no palácio e do desejo de que se tornasse um "arquivo morto".

"Ele já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Ele já era um arquivo morto. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele, já. Fizeram uma reunião com o nome do Adriano no Planalto. Entendeu, tia? Ele já sabia disso, já. Foi um complô mesmo", disse ela na gravação autorizada pela Justiça.

Procurados, o Palácio do Planalto e a defesa de Daniela não se posicionaram sobre o conteúdo das escutas.

O senador Flávio Bolsonaro (PL), filho do presidente Jair Bolsonaro, criticou em rede social a reportagem da Folha e negou que tenha havido oferta de cargos do Planalto ligada à morte de Adriano. "Obviamente isso nunca aconteceu", disse.

Já a oposição a Bolsonaro cobra investigação sobre o áudio. Gleisi Hoffmann, presidente do PT e deputada federal pelo Paraná, afirmou que o caso é "gravíssimo".

Outra aliada do ex-presidente Lula, Manuela d'Ávila (PC do B), que foi candidata a vice-presidente na chapa de Fernando Haddad nas eleições de 2018, também considerou a gravação muito grave.

Guilherme Boulos, ex-candidato a prefeito de São Paulo pelo PSOL, chamou o caso de "queima de arquivo". "Irmã de miliciano ligado a Bolsonaro fala que o governo ofereceu cargos em troca de seu assassinato", disse.

"Ele já sabia da ordem que saiu para que ele fosse um arquivo morto. Ele já era um arquivo morto. Já tinham dado cargos comissionados no Planalto pela vida dele, já. Fizeram uma reunião com o nome do Adriano no Planalto. Entendeu, tia? Ele já sabia disso, já. Foi um complô mesmo", afirmou a irmã na conversa.

Adriano foi morto no dia 9 de fevereiro de 2020, após mais de um ano de fuga. Era acusado de comandar a maior milícia do Rio de Janeiro e suspeito de envolvimento no esquema de "rachadinha" no antigo gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente, na Assembleia Legislativa fluminense.

Queiroz foi apontado pelo Ministério Público do Rio como o operador financeiro da "rachadinha" no antigo gabinete de Flávio na Assembleia.

A investigação começou após um relatório do Coaf descrever movimentação considerada suspeita de R$ 1,2 milhão em 2016 na conta de Queiroz. Ele chegou a ser preso por suspeita de interferir nas investigações.

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