Descrição de chapéu Eleições 2022

Avanço de Lula reflete vontade do eleitor de decidir no 1° turno, diz Gleisi

Presidente do PT admite falar com economistas fora da esquerda, mas sem austericídio fiscal, e afasta aborto de campanha

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Brasília

A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, avalia que o resultado da pesquisa Datafolha de quinta-feira (26) indica que o eleitor quer "antecipar o resultado" da disputa pelo Palácio do Planalto para o primeiro turno.

O levantamento mostrou que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem 48% das intenções de voto, contra 27% de Jair Bolsonaro (PL).

Para Gleisi, a melhora nos índices de Lula tem relação com a piora na economia e com a alta de preços. "As pessoas querem decidir logo, porque isso tem a ver com a vida delas."

A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR)
A presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR) - Adriano Machado - 23.mar.2022/Reuters

Em entrevista à Folha, a deputada diz que vai insistir na ampliação de um leque de alianças e atrair setores do PSD e do MDB. Ela nega a existência, porém, de qualquer ofensiva sobre Ciro Gomes (PDT).

Questionada sobre as críticas do pré-candidato do PDT a Lula, ela afirma que as declarações têm servido de munição para apoiadores de Bolsonaro. "Sobre ser linha auxiliar do Bolsonaro, nós nunca falamos isso. Agora, que a militância do Bolsonaro tem utilizado o Ciro para tentar atingir o Lula, isso tem."

A parlamentar minimiza eventuais equívocos cometidos por Lula nos últimos meses, mas indica que temas ligados à agenda conservadora, como o aborto, podem ser evitados na campanha.

"Essa não é uma disputa religiosa, é uma disputa política. A centralidade é a vida das pessoas", comenta. "A discussão do aborto não é uma discussão de disputa de Presidência da República. É uma questão de convicção, de foro íntimo das pessoas."

Como a campanha interpreta o crescimento de Lula? A pesquisa mostra que Lula é cada vez mais a esperança diante do desemprego, da fome, do custo de vida, dos problemas reais que Bolsonaro ignora. Ele tergiversa e coloca outra pauta que não tem interesse para o povo. Mas temos que ter muito pé no chão. Sei que a militância fica empolgada, mas temos que seguir em frente com a linha que Lula está dando.

A sra. trabalha com a perspectiva de vitória em primeiro turno? O eleitor está querendo antecipar o resultado. As pessoas querem decidir logo, porque isso tem a ver com a vida delas. Nós tivemos um estudo que mostra uma consolidação muito grande de votos, de mais de 70% tanto em Lula como em Bolsonaro. Mostra uma vontade do eleitor de decidir logo. É uma eleição polarizada, são dois campos distintos, e as pessoas querem resolver.

Um cenário de antecipação de votos favorece alguma aproximação com o PDT? Eu não tenho conversado com o [presidente do PDT, Carlos] Lupi, até em respeito à decisão do PDT de ter candidatura. Não tem pressão nossa sobre Ciro Gomes. Nunca teve, isso não é uma diretriz da campanha. Nós mostramos disposição de conversar. Eles não têm disposição, e nós respeitamos.

Ciro argumentou que a saída dele aumentaria a polarização e ajudaria Bolsonaro. E setores do PT acreditam que a permanência dele, com as críticas a Lula, favorece Bolsonaro. Com qual visão a sra. concorda? A polarização está dada. Não é o Ciro que define a polarização. É o que o eleitorado está sentindo, está vendo dois campos nítidos. Sobre [Ciro] ser linha auxiliar do Bolsonaro, nós nunca falamos isso. Agora, que a militância do Bolsonaro tem utilizado o Ciro para tentar atingir o Lula, isso tem.

A sra. acredita que, ao manter a candidatura com críticas o Lula, ele ajuda Bolsonaro? Não sou eu que acho. São os bolsonaristas que estão utilizando ele.

Para vencer, Lula ainda precisa conseguir mais votos fora da esquerda? Ele já tem votos fora da esquerda. A pesquisa mostra que uma grande parcela do povo brasileiro está com ele, e o povo brasileiro não se diz de esquerda. Vamos continuar buscando a ampliação do movimento, sem tirar o foco da linha que estamos adotando, que é a vida do povo.

Quando fala em ampliação de alianças, a sra. inclui o PSD? A gente tem conversado muito com eles. Vou tentar até o final, mas compreendo as dificuldades que o PSD tem de fechar formalmente uma aliança de primeiro turno. Assim como estamos conversando com setores do MDB, embora respeitemos a candidatura da [senadora] Simone [Tebet]. Ainda vamos conversar com Avante, também respeitamos a candidatura do [deputado André] Janones.

Depois da saída de João Doria (PSDB) da disputa, o PT vai buscar o apoio de tucanos? Temos que respeitar o tempo das pessoas e dos partidos. Não temos nenhuma ofensiva sobre o PSDB.

Se o ex-presidente Lula for eleito, a coalizão de governo pode incluir o PP e o PL, que apoiam Bolsonaro? Vai depender da representação desses partidos no Congresso. Vamos nos relacionar com o Congresso que o povo eleger. Isso o presidente Lula fez nos dois mandatos dele. Vamos apresentar as nossas propostas e vamos negociar. Não temos problema nenhum de fazer isso. Sabemos que vai ter um núcleo de oposição duro, mas tem muitos partidos que podem vir e conversar, já fizeram isso conosco anteriormente.

O PT pode rever o apoio a Marcelo Freixo (PSB) no Rio de Janeiro se entender que essa candidatura a governador atrapalha Lula? Isso é prego batido e ponta virada, nós iremos com Freixo no Rio. Temos esse compromisso. Eu espero que o PSB encaminhe a sua posição para aquilo que tínhamos conversado: Freixo seria candidato a governador, e o PT indicaria o candidato ao Senado, que é o [deputado estadual] André Ceciliano.

Em São Paulo, houve avanço para definir se Fernando Haddad (PT) será o candidato único da aliança a governador ou se Márcio França (PSB) também vai disputar o cargo? O presidente Lula esteve com [Geraldo] Alckmin e Márcio França. É muito importante estarmos juntos com o PSB em São Paulo. Acho que, se estivermos juntos, temos condições de ganhar o estado de São Paulo. Assim como no Brasil, nos estados a eleição vai ser polarizada.

Qual deve ser o papel de Alckmin na campanha? Alckmin simboliza esse movimento de ampliação que estamos fazendo. É uma liderança importante no cenário político, e queremos que ele tenha um papel ativo na campanha em todas as áreas. Consideramos muito a sua opinião e seus posicionamentos.

Ele vai ser um interlocutor com setores como os evangélicos ou no empresariado? Ele vai ser interlocutor com os setores que ele quiser e com que ele achar que pode ajudar. Ele tem experiência para isso e tem caminhada para decidir.

No início da semana, a sra. disse que o PT conversou com economistas como Pérsio Arida, que tem ligação histórica com o PSDB. Nomes como esse vão participar da elaboração do plano de governo? O pessoal fica ansioso para ter um economista da campanha que seja referência para a mídia e para o mercado. Vamos conversar com todos aqueles que se dispuserem a conversar. A presença do Alckmin na chapa pode trazer economistas que não são da nossa relação. Isso não quer dizer que vamos ter qualquer mudança daquilo que é essencial em relação à economia. Lula tem sido muito claro nesse sentido.

Alguns pontos da agenda desses economistas podem ser absorvidos? Pode ter um ou outro ponto que podemos encaminhar. Austericídio fiscal nós não teremos. Para tirar o país da crise, vamos precisar que o Estado entre firme em investimentos e programas sociais. Já temos uma posição dentro do PT de sermos contrários ao teto de gastos.

Revogar o teto seria uma das primeiras medidas do PT num eventual governo? Depende do Congresso, mas eu acredito que o Congresso não vai se negar a tomar medidas emergenciais para tirar o Brasil da crise. Se o presidente Lula está se propondo a governar esse país, é para fazer diferente do que está sendo feito agora.

Que modelo a campanha estuda para mudar a política de preços da Petrobras? Tem que desdolarizar. Como está, não dá para ficar, porque é uma política que prejudica o povo, causa inflação e só atende aos interesses daqueles que querem lucro. O ex-presidente Lula já governou este país. Na época dele, tínhamos um equilíbrio nos preços. Em oito anos de governo, os combustíveis subiram apenas oito vezes. Nós temos como ajustar isso e colocar os preços dos combustíveis a serviço do povo e do desenvolvimento do Brasil.

A sra. concorda com planos do governo Bolsonaro como aumentar o período entre reajustes de preços dos combustíveis? Isso é cortina de fumaça. Eles estão indo para o final do governo e não fizeram absolutamente nada. Só discurso, esqueça.

Que mudanças a campanha planeja na reforma trabalhista? Nós colocamos a revogação da reforma com a apresentação de uma proposta que dê conta da nova realidade do mercado de trabalho, principalmente o trabalho precário, o trabalho em plataformas. Nós queremos fazer isso discutindo com empregadores e trabalhadores.

Um dos setores em que o presidente Bolsonaro mantém um desempenho competitivo é o evangélico. Lula vai evitar temas conservadores para não perder terreno nesse eleitorado? Essa não é uma disputa religiosa, é uma disputa política. A centralidade é a vida das pessoas. O povo evangélico está sofrendo tal qual o povo de qualquer outra religião.

Mas Bolsonaro cita questões ligadas ao público conservador para ampliar a rejeição ao PT. O ex-presidente Lula vai se posicionar em relação a elas? Bolsonaro cita esses temas porque não tem resposta para dar sobre a vida das pessoas. Ele traz discussões que não cabem no campo da política e nem na função de um presidente. Ele faz isso, aposta nisso, e parece que isso não está dando muito certo.

Lula deu declarações que foram consideradas equivocadas por alguns aliados, como no caso do aborto. É um erro tocar nesses assuntos? Eu me baseio no que está explicitado pela vontade popular. Parece que o povo não está julgando erro do presidente Lula. A discussão do aborto não é uma discussão de disputa de Presidência da República. É uma questão de convicção, de foro íntimo das pessoas. Se tiver que fazer um debate como esse, é no âmbito do Congresso, no âmbito da sociedade.

RAIO-X

Gleisi Hoffmann, 56 anos, presidente nacional do PT
Nascida em Curitiba, é formada em direito pela Faculdade de Direito de Curitiba. Foi secretária estadual em Mato Grosso do Sul. Elegeu-se senadora em 2010 e deputada federal em 2018. De 2011 a 2014, foi ministra-chefe da Casa Civil (governo Dilma)

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.