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Governo Bolsonaro Eleições 2022

Bolsonaro aproveita bilhões de Musk para beliscar dividendos políticos

Presidente aproveita oportunidade e pega carona em talento do empresário para ocupar manchetes e timelines

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Brasília

Jair Bolsonaro aproveitou os bilhões de Elon Musk para beliscar alguns dividendos políticos a seu favor. No roteiro montado para o evento com o empresário, o presidente trabalhou para vender o encontro como uma realização de seu governo.

Musk desembarcou no Brasil com o objetivo de fazer o que sabe: ganhar dinheiro. O bilionário enxergou uma oportunidade de oferecer serviços de sua empresa de satélites para a região amazônica e identificou uma especial boa vontade do governo Bolsonaro nesse negócio.

Ainda que os lucros sejam sua prioridade, Musk não parece incomodado em jogar o jogo da política.

Pouco depois de ter anunciado a intenção de comprar o Twitter, o empresário prometeu reverter o controverso banimento de Donald Trump da rede. Nesta semana, ele anunciou duas vezes que deixaria de votar no Partido Democrata para apoiar os republicanos nos EUA.

Os bolsonaristas aproveitaram a disposição do bilionário e pegaram carona na popularidade de um personagem com larga exposição e talento para ocupar manchetes e timelines.

Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta o empresário Elon Musk em Porto Feliz (SP), nesta sexta-feira (20)
Presidente Jair Bolsonaro cumprimenta o empresário Elon Musk em Porto Feliz (SP), nesta sexta-feira (20) - @jairbolsonaro no Twitter

Os três minutos de discurso de Bolsonaro durante o encontro deixaram esse objetivo evidente. "O mais importante da presença dele é imaterial", disse o presidente, como se o homem de negócios tivesse um propósito que vai além dos interesses comerciais.

Bolsonaro usou Musk como garoto-propaganda de uma de suas principais batalhas políticas.

Ao citar o interesse do bilionário pelo Twitter, o presidente afirmou que a aquisição da plataforma seria um passo na direção do que ele chama de "liberdade" –o que costuma funcionar, em geral, como uma defesa da propagação de discursos radicais.

Pegando embalo, Bolsonaro ainda vendeu a ideia de que ele e o bilionário lutam lado a lado: tomou o apelido usado por seus eleitores e chamou o empresário de "mito da liberdade".

O presidente aproveitou a dobradinha para reforçar sua artilharia no que ele considera uma guerra de propaganda envolvendo a Amazônia. Os investimentos anunciados por Musk, segundo o presidente, poderiam ajudar a divulgar "a exuberância dessa região" e "como ela é preservada por nós".

Além de fornecer conexões de banda larga para 19 mil escolas em áreas rurais, os satélites de Musk deverão fazer o monitoramento de desmatamentos e incêndios ilegais na Amazônia –um serviço que costuma ser atacado pelo presidente quando os números expõem a devastação das florestas.

Não se sabe exatamente o que Bolsonaro espera do empresário nesse quesito, mas o presidente parece acreditar que o bilionário sul-africano será útil para enfrentar governos estrangeiros e celebridades que criticam sua gestão do meio ambiente.

Nenhum lance de marketing liderado por Musk deve ser suficiente para desfazer a péssima imagem de Bolsonaro nessa área ou reverter a condição de pária internacional que o governo abraçou. Mas, para o público interno, o presidente poderá tirar da manga o argumento de que tem um parceiro influente lá fora.

A operação do governo permitiu que Bolsonaro explorasse Musk como uma espécie de selo de qualidade do governo. O presidente aproveitou a oportunidade, mas também deve saber que nenhum super-rico tem poderes suficientes para salvar um país em apuros.

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