Bolsonaro chama Moraes de parcial e não responde se aceitará resultado das eleições

Em entrevista em Brasília, presidente diz que desconfiar das urnas e do sistema eleitoral é um direito dele

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta quinta-feira (26) que o ministro Alexandre de Moraes é "parcial" para assumir a presidência do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) nas eleições deste ano.

"Totalmente parcial. Não tenho dúvida disso. Os próprios atos dele bem demonstram", disse o presidente em entrevista em Brasília. Moraes assumirá a presidência do tribunal em agosto.

Questionado se pode se comprometer a aceitar o resultado das urnas eletrônicas independentemente do resultado, mesmo que não seja reeleito, Bolsonaro não respondeu. Disse apenas: "Democraticamente, eu espero eleições limpas".

O presidente Jair Bolsonaro (PL)
O presidente Jair Bolsonaro (PL) - Adriano Machado/Reuters

Nas últimas semanas, o presidente fez diversas insinuações golpistas em relação ao sistema eleitoral brasileiro, enquanto ministros do TSE e do Supremo deram respostas duras às ilações do chefe do Executivo.

Bolsonaro tem mantido desde a campanha de 2018 um discurso em que, sem nenhuma prova, coloca dúvidas sobre o sistema eleitoral brasileiro. Em várias ocasiões ele deu a entender que não aceitará outro resultado que não seja a sua vitória em outubro.

No início deste mês, por exemplo, afirmou que uma empresa será contratada pelo PL, o seu partido, para fazer uma auditoria privada das eleições deste ano. E sugeriu, em tom de ameaça, que os resultados da análise podem complicar o TSE se a empresa constatar que é "impossível auditar o processo".

Nesta quinta-feira, voltou a adotar o mesmo tom. "Estamos esgotando tudo dentro das quatro linhas da Constituição. Você tem alguma dúvida de que há abuso de autoridade para comigo? Esse próprio inquérito de fake news não passou pelo Ministério Público Federal. Nunca vi inquérito durar tanto tempo como esse."

"Quando a gente pensa que vai resolver, complica a situação. O que é o senhor Alexandre de Moraes? Ele quer o confronto? Uma ruptura? Por que ele ataca tanto a democracia? Por que você não pode apresentar sugestões ao TSE a convite do TSE?"

Na mesma entrevista, Bolsonaro disse que desconfiar das urnas e do sistema eleitoral é um direito dele.

"Da minha parte você não vê ataques. Agora, desconfiar é um direito meu. Estou num país democrático. Por que o senhor Moraes diz que o candidato que por ventura duvidar da urna eletrônica terá o registro cassado e preso? Quem ele pensa que é?"

Ao contrário do que disse, Bolsonaro faz ataques em série aos ministros do STF e do TSE. Dias atrás, por exemplo, disse que Edson Fachin, Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes "infernizam" o Brasil. O chefe do Executivo disse ainda que Moraes se comporta como "líder de partido de esquerda".

A tensão na relação entre Bolsonaro e Moraes começou ainda em 2019, com a abertura do inquérito das fake news, teve picos em 2020, chegou perto de uma crise institucional no 7 de Setembro de 2021 e pode alcançar seu ápice no período eleitoral.

Entre aliados do presidente, o mais recente capítulo das rusgas entre os dois —a notícia-crime de Bolsonaro contra Moraes protocolada no STF e na Procuradoria-Geral da República— é visto como a sinalização do futuro auge da crise, uma vez que é classificado como estratégia para desacreditar o processo eleitoral.

A investida contra o sistema eleitoral por Bolsonaro começou com a defesa do voto impresso, derrotada no Congresso. Depois, o presidente aproveitou o convite da corte eleitoral para as Forças Armadas integrarem a Comissão de Transparência das Eleições para elevar o tom contra o tribunal.

Moraes assumirá o comando do TSE em agosto. A avaliação do entorno do presidente é de que ele acertou a mão com medidas jurídicas ao invés de permanecer na retórica, como antes.

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