Embora a proporção de negros no Brasil esteja em torno de 56%, sua participação nas eleições para deputado federal nos anos de 2014 e 2018 não passou de 40%. Para deputado estadual, o número foi um pouco mais alto e ficou em torno de 47%.
Negros não estão apenas sub-representados nas candidaturas. Eles também enfrentam maiores dificuldades eleitorais. Entre os eleitos a deputado federal em 2014, apenas 20% se declararam negros. Em 2018, esse número era de 24%. Já para deputado estadual 27% dos eleitos eram negros nessas duas últimas eleições.
Para deputados federais, a taxa média de sucesso eleitoral dos negros, medida pela razão entre número de eleitos e número de candidatos, foi de 4,4% e 4,0% em 2014 e 2018, respectivamente.
Entre candidatos brancos, esses números foram 11,8% e 8,7%, ou seja, mais do que o dobro da taxa de sucesso das candidaturas negras.
Já para deputados estaduais, a taxa média de sucesso eleitoral entre negros foi de 4,2% e 3,7% em 2014 e 2018. Entre candidatos brancos, esses números foram 9,8% e 9,1%. Novamente, mais do que o dobro da taxa de sucesso das candidaturas negras.
Uma primeira explicação para candidaturas negras encontrarem mais dificuldades de serem bem-sucedidas do que as brancas está na distribuição racial das candidaturas por perfil ideológico-partidário.
Se candidaturas negras estiverem concentradas em partidos com menores chances eleitorais, veremos proporcionalmente menos negros do que brancos eleitos.
Agrupando-se os partidos em três blocos, esquerda, centro e direita, vemos que entre os partidos de esquerda e de centro, os candidatos negros representavam 42% e 44% dos candidatos a deputado federal nos anos de 2014 e 2018, respectivamente.
Já entre os de direita, essa proporção era de 31% e 32% nessas eleições. Ou seja, há menos candidatos negros sendo lançados por partidos de direita do que pelos de centro e de esquerda.
Partidos de direita, ainda que lancem menos candidatos negros do que os de esquerda, têm maiores taxas de sucesso eleitoral. Entre todos os candidatos a deputado federal, a taxa de sucesso dos partidos de direita foi 20,7% e 12,8% nas eleições de 2014 e 2018.
Para os partidos de esquerda, essas mesmas taxas foram 7,5% e 6,3%. Ou seja, partidos de esquerda, onde há mais candidaturas negras, foram aqueles que nas duas últimas eleições para deputado sofreram mais reveses eleitorais.
Uma outra explicação para o insucesso eleitoral dos candidatos negros seria a sua concentração em partidos pequenos, que tendem a ter mais dificuldade para eleger seus candidatos.
Para deputado federal em 2014 e 2018, 45% e 43% dos candidatos de partidos pequenos eram negros. Já entre partidos grandes, esses números eram de 32% e 36%.
A taxa de sucesso dos partidos pequenos foi 4,3% e 4% nas eleições de 2014 e 2018 a deputado federal. Para os partidos grandes essas mesmas taxas foram 15,7% e 14,5%. Ou seja, em partidos pequenos, onde há mais candidaturas negras, as dificuldades eleitorais são bem maiores.
Como candidatos negros estão em partidos pequenos e de esquerda, isso também acaba por limitar o seu acesso a financiamento de campanha eleitoral, reduzindo, assim, suas chances nas urnas.
De fato, em 2014 enquanto candidatos a deputado federal brancos conseguiram, em média, R$ 399 mil, candidatos negros levantaram R$ 138 mil. Em 2018, após a mudança de regras que barrou o financiamento por empresas, esses números foram para R$ 251 mil e R$ 110 mil.
O fortalecimento de lideranças políticas negras requererá que os recursos políticos estejam mais bem distribuídos, permitindo que as candidaturas negras se tornem mais viáveis eleitoralmente e que nosso país caminhe na direção de se constituir verdadeiramente numa democracia racial, objetivo ainda muito distante de nossa realidade.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.