Homens e figuras conhecidas são apostas para puxar voto a deputado federal em SP

Eduardo Bolsonaro, Carla Zambelli, Guilherme Boulos e Tabata Amaral são exemplos de pré-candidatos com esse potencial

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São Paulo

Partidos políticos irão apostar em candidatos homens e em figuras já conhecidas pelo público para serem puxadores de voto para a Câmara dos Deputados em São Paulo nas eleições deste ano.

A Folha perguntou às principais legendas quais são os pré-candidatos que consideram puxadores de voto em potencial. As mulheres representam quase um terço do total de indicados, enquanto aqueles que disputam pela primeira vez são menos da metade.

Em 2018, dos 20 parlamentares mais bem votados em São Paulo para a Câmara, 14 eram homens.

Mais votado, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente Jair Bolsonaro (PL), recebeu 1.814.443 de votos —seguido de Joice Hasselmann (então PSL, agora PSDB), com 1.064.047, e de Celso Russomanno (Republicanos), com 512.947.

A eleição para as 513 vagas na Casa se tornou crucial para as legendas porque o tamanho da bancada influencia a distribuição de recursos e de tempo de propaganda na TV e rádio. Para o estado de São Paulo, a disputa é por 70 cadeiras na Câmara.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que foi o mais votado nas eleições de 2018
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que foi o mais votado nas eleições de 2018 - Pedro Ladeira/Folhapress

Esse perfil de candidato puxador é almejado pelos partidos porque ele pode, ao obter votação expressiva, acabar elegendo outros nomes que não conseguiram atingir o quociente eleitoral (votos válidos totais dividido pelo total de cadeiras).

Desde as eleições de 2016, no entanto, candidatos para o Legislativo precisam obter, no mínimo, 10% do quociente eleitoral para serem eleitos.

No PL de Bolsonaro, a expectativa é a de que Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli, vindos do PSL, sejam puxadores. O tradicional puxador do partido é Tiririca, que agora briga com Eduardo por causa do número de urna.

Vice-presidente do PL, o deputado federal Capitão Augusto minimiza as declarações de que Tiririca pode desistir da corrida por causa disso.

"Tenho certeza que tudo será resolvido da melhor forma. O Tiririca é muito querido dentro do PL e temos muita gratidão por ele", diz. Tiririca não respondeu à reportagem.

Zambelli diz que uma eventual ampliação de seus votos será consequência da "lealdade" que teve em seu mandato. "Minha atividade parlamentar segue leal aos princípios que nortearam as pessoas que, como eu, foram às ruas exigir mais ética na política", diz.

O PL de Bolsonaro tem no estado 15 cadeiras —e estima chegar a 20.

Com 8 deputados na bancada em SP, o PT do ex-presidente Lula prevê eleger de 12 a 16 nomes. Apesar de não ter indicado à Folha potenciais puxadores, uma das apostas da legenda é Douglas Belchior, da Coalizão Negra por Direitos.

"Nossa candidatura conversa com um dos sentimentos mais relevantes politicamente hoje no Brasil que é o enfrentamento ao racismo. A maneira mais radical de exercer o antirracismo é ter um voto antiracista", diz.

Na esquerda, para fazer frente à votação recorde de Eduardo Bolsonaro, o PSOL lançou o líder sem-teto Guilherme Boulos, que chegou ao segundo turno na eleição para a Prefeitura de São Paulo em 2020.

Boulos desistiu de concorrer ao governo do estado para se aliar ao PT e tentar ampliar a bancada da esquerda. "Acho que vamos eleger Lula, mas isso não basta para revogar os retrocessos. Precisamos derrotar o centrão, precisamos de uma bancada popular no Congresso", afirma.

Ele diz que, no PSOL, não somente homens com experiência política, como ele, terão espaço e cita candidatas trans, como Erika Hilton e Erica Malunguinho, além da indígena Sônia Guajajara.

Os votos de Boulos podem ainda ajudar a eleger candidatos da Rede Sustentabilidade, já que os dois partidos formalizaram uma federação.

Os potenciais puxadores ouvidos pela reportagem avaliam que não haverá uma grande renovação na Câmara e também acreditam ser difícil que os recordes de votos vistos em 2018, na onda bolsonarista, se repitam.

Na avaliação da deputada federal Tabata Amaral (PSB), que teve 260.990 votos em 2018, as chamadas emendas de relator em 2021 terão impacto. "A ala fisiológica do Congresso nunca teve tanto dinheiro para fazer sua pré-campanha. Acredito que ela vai aumentar", diz.

Ela destaca que a população está mais apática e "mais cansada da política" neste ano. Por outro lado, pondera que o crescimento na busca pelo título de eleitor entre jovens poderá ter efeitos.

O vereador Fernando Holiday (Novo), que será candidato a deputado federal, acredita que pode ajudar a eleger cinco colegas —o partido hoje tem três cadeiras em SP.

"O sistema político brasileiro favorece quem tem mandato. Na minha primeira eleição, tive que vender esperança, algo mais difícil do que agora, que posso vender meus resultados", diz.

Em meio à predominância de homens brancos entre os possíveis puxadores, a ex-vice-prefeita de Diadema Regina Gonçalves é uma aposta do PV —que forma federação com PT e PC do B. Ela afirma que partidos considerados progressistas estão dando mais espaço às candidatas, mas que há obstáculos.

"Continuamos sofrendo com o machismo do dia a dia. Mas estamos cumprindo um papel não só para nós, mas para a geração que vem atrás", diz Regina, que não acredita numa mudança radical no perfil do Congresso.

Joice Hasselmann, por sua vez, avalia que a população se desapontou com nomes eleitos em 2018 sob a promessa de renovação e, por isso, haverá mudanças na Casa. "Fui atrás para realmente entregar alguma coisa. Mas têm muitos novatos que não foram, que só participaram de escândalos."

"Ficou evidente que ter parlamentares combativos de um determinado perfil pode fazer toda a diferença. Vai ter uma busca por pessoas que estão dispostas a brigar pelos direitos do povo e não esses perfis mais institucionais", avalia a deputada estadual Isa Penna (PC do B), que tentará uma vaga na Câmara.

O PDT de Ciro Gomes, que não tem uma bancada paulista na Câmara, quer eleger três ou quatro nomes e, para isso, escalou Antonio Neto, presidente da Central dos Sindicatos Brasileiros e que já concorreu em 2018 ao Senado e 2020 como vice-prefeito de SP, sem se eleger.

Ele acredita numa mudança no comportamento do eleitor. "Em 2018, pouco se discutiu política. Agora, com carestia, pandemia e desemprego, creio que as pessoas vão querer saber qual papel os candidatos poderão cumprir."

O ex-presidente do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Ricardo Galvão, que foi exonerado após criticar Bolsonaro em 2019, é um dos estreantes. Ele se filiou à Rede em março, partido que pode lançar também a ex-ministra Marina Silva como puxadora.

"Pude diretamente constatar todo malefício que o negacionismo ardilosamente intencional de um governo pode causar à sociedade. Fiquei convencido que era necessário agir de forma muito mais assertiva", diz Galvão.

Contrariando a tendência de puxadores homens e experientes, a União Brasil pode lançar a advogada Rosângela Moro, esposa do ex-juiz Sergio Moro.

"Se candidata for, a minha expectativa é aumentar o time lava-jatista no Congresso", segue. "Uma voz feminina, em um ambiente ainda majoritariamente masculino, poderá ajudar a ampliar o foco sobre os efeitos mais nocivos da corrupção."

O veterano Celso Russomanno (Republicanos) afirma que inicialmente iria concorrer ao Senado, mas resolveu "ajudar mais uma vez o partido a aumentar a bancada na Câmara".

"Mesmo os partidos apostando nos nomes mais fortes e experientes da política, vamos ter algumas surpresas no Congresso. Oxigenação é importante", segue, ressaltando que nomes conhecidos nas redes podem chegar a Brasília.

A professora de direito Ligia Fabris, da FGV do Rio de Janeiro, avalia que enquanto há uma discussão maior na esfera pública sobre a necessidade de eleger mulheres, pessoas negras, indígenas e da comunidade LGBTQIA+, visando a renovação de bancadas, existem também perfis da política já estabelecidos que se valem desse anseio para se eleger.

"O resultado das eleições de 2018 nos mostrou esses dois grupos antagônicos sendo contemplados. Com o sentimento da antipolítica catalisado pela direita, mas também com o maior número de mulheres eleitas."

Além do PT, PSD e Solidariedade não destacaram os nomes que consideram possíveis puxadores. A Folha tentou contato com nomes do PTB, MDB e Podemos, mas não teve retorno.

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