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Movimento de voto Lula-Zema surge com impasse entre PT e PSD de Kalil

Nó em coligação abre espaço para fenômeno apelidado de Lulema em Minas

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São Paulo e Belo Horizonte

Primeiro destino do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) após a oficialização de sua pré-candidatura, Minas é hoje terreno fértil para um fenômeno que já tem até apelido: Lulema.

Um impasse entre PSD e PT na costura de aliança para o governo tem propiciado a gestação de um movimento em que eleitores do governador Romeu Zema (Novo) manifestam intenção de voto em Lula.

O ex-presidente Lula durante evento em Brasília - Evaristo Sa-28.abr.22/AFP

Ferrenhos rivais no plano estadual, dirigentes de PT e Novo afirmam não estimular qualquer articulação nesse sentido. Mas também não vão desencorajar essa tendência que, captada em pesquisas, poderia produzir fenômeno similar ao Lulécio de 20 anos atrás.

Em 2002, eleitores de Aécio Neves (PSDB) preteriram o tucano José Serra em favor de Lula para a Presidência. Quatro anos depois, o Lulécio se repetiu.

Só que, em 2006, Geraldo Alckmin era o candidato do PSDB à Presidência. Naquele ano, Aécio Neves obteve, no primeiro turno, 77,03% dos votos. Lula, 65,19%. Alckmin, 34,81%. Em 2018, a candidatura de Alckmin à Presidência foi debilitada pelo BolsoDoria.

Hoje, sondagens feitas pelo partido Novo em Minas Gerais mostram haver intenção de voto casado entre o governador do estado e Lula.

O movimento é registrado em todo o estado, sendo mais forte nas regiões norte e nos vales do Jequitinhonha e Mucuri, que estão entre as mais carentes do país.

Muito visitadas por Lula em seu mandato e as caravanas que protagonizou, tais regiões reúnem cerca de 2,5 milhões de eleitores, de um total de 15,8 milhões no estado.

Um dos coordenadores da pré-campanha de Zema em sua tentativa de reeleição, Mateus Simões afirma que movimento idêntico (Novo/PT) foi identificado pelo partido também nas eleições de 2018.

"Muita gente que votou no Fernando Haddad na disputa pela Presidência naquele ano votou também em Romeu Zema para o governo do estado", diz Simões, que foi secretário-geral do governo do colega de partido até março, quando deixou o cargo para se dedicar à pré-campanha do governador.

"Essa identificação aconteceu e continua. Agora não me pergunte para explicar porque não saberia como. São essas coisas que costumam acontecer na política", afirma o ex-secretário de Zema, se referindo ao fato de Lula e o atual governador de Minas não estarem ideologicamente sob o mesmo espectro político.

Romeu Zema e Alexandre Kalil - Amira Hissa/Divulgação e Alexandre Rezende/Folhapress

Pesquisas realizadas pelo PT também detectam essa confluência de votos em Lula e Zema. No estado, Zema é aliado de Bolsonaro, enquanto o PT discute com o PSD apoio à candidatura de Alexandre Kalil, ex-prefeito de Belo Horizonte, ao governo.

A composição da aliança entre PT e PSD tem esbarrado na briga pelo Senado. Hoje na cabeça da chapa, tanto para governador como para a vice, o PSD também reivindica a vaga para a disputa ao Senado.

Por essa fórmula, o PSD teria direito a lançar os candidatos a governador, vice e senador. Suplente do Antonio Anastasia, o senador Alexandre Silveira assumiu a cadeira quando o titular foi nomeado ministro do TCU (Tribunal de Contas da União).

Silveira é candidato à reeleição. Já o PT pretende lançar o deputado Reginaldo Lopes ao Senado. Líder da bancada do PT na Câmara, Lopes conta com a simpatia de colaboradores diretos de Lula, além do apoio da tesoureira nacional do partido, Gleide Andrade.

Pré-candidata à Câmara dos Deputados, Gleide herdará os votos de Lopes caso ele concorra ao Senado.

Apontado como um candidato competitivo, Lopes admite concorrer contra Silveira. Segundo ele há brecha legal para que a mesma chapa lance os dois candidatos ao Senado.

Presidente estadual do PT, o deputado estadual Cristiano Silveira diz que o partido não se opõe ao lançamento de dois candidatos caso fracasse a negociação de um acordo.

"O PT apresentou o nome de Reginaldo [Lopes]. Essa é uma candidatura legítima", afirma Silveira, que nas disputas para Assembleia Legislativa faz dobradinhas com Lopes.

Segundo petistas, Kalil até concordaria com essa proposta. Mas Silveira, não.

Presidente estadual do PSD e secretário-geral do partido, Silveira exerce forte influência sobre a bancada de deputados, que inclui eleitores de Bolsonaro. Kalil não teria poder para demovê-lo da candidatura.

Essa disputa abriu uma fenda no PT, dividido entre apoiadores de Lopes e Silveira. Enquanto um grupo insiste na aliança com o PSD, outro já trabalha com a hipótese de apoio ao um candidato do PSB ou do Solidariedade.

É nesse cenário que Lula chega a Minas na próxima segunda-feira (9). No estado, ele cumprirá agenda em Belo Horizonte, Contagem e Juiz de Fora, onde visitará monumento em homenagem ao ex-presidente Itamar Franco.

Até esta sexta-feira (6), não havia, nessa agenda, previsão de reunião com Kalil.

A assessoria do ex-prefeito nega, porém, versão de que ele planeja viajar para evitar um encontro com o petista. Diz que Kalil soube pela imprensa da viagem de Lula ao estado. Os dois também não teriam falado sobre programação do ex-presidente em Minas.

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