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PSDB busca aval para acordo com MDB e resposta à ameaça de Doria

Presidente tucano tenta apoio da executiva partidária em meio a embate com ex-governador de SP

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São Paulo e Brasília

O presidente do PSDB, Bruno Araújo, busca obter o aval da executiva do partido nesta terça-feira (17) para dar seguimento a um acordo com o MDB sobre a candidatura da terceira via que, na prática, isola o ex-governador de São Paulo João Doria dentro da sua própria legenda.

O movimento de Araújo é uma reação à carta em que Doria ameaça ir à Justiça caso o acordo costurado com o MDB o impeça de ser o nome tucano na disputa presidencial deste ano.

O acerto prevê que os dois partidos escolherão um candidato único —Doria ou a senadora Simone Tebet (MDB)— com base em uma pesquisa a ser apresentada na quarta (18). Como mostrou a Folha, os dois partidos estabeleceram um roteiro para lançar a emedebista e enterrar a candidatura de Doria.

Em resposta a isso, Doria divulgou a carta endereçada a Araújo, no sábado (14), cobrando que o presidente do PSDB respeite as prévias vencidas pelo ex-governador em novembro e o lance candidato a presidente.

O ex-governador de São Paulo João Doria
O ex-governador de São Paulo João Doria - Bruno Santos - 31.mar.22/ Folhapress

A avaliação de tucanos da executiva é que, após a carta, é necessário que Araújo consulte novamente o partido para manter ou não as tratativas com o MDB. Esses políticos apostam ainda que haverá maioria a favor da pesquisa e do acordo, numa derrota para Doria.

Da parte de aliados do ex-governador, o resultado da reunião é minimizado e a estratégia de judicializar a questão é cogitada. A avaliação é que, no final das contas, PSDB e MDB lançarão candidaturas separadas.

Doria avalia que a escolha de um candidato foi superada pelas prévias e que o estatuto do PSDB obriga os tucanos a lançá-lo ao Planalto na convenção partidária, entre julho e agosto.

O entorno de Doria quer aguardar o desfecho da reunião desta terça para avaliar se será necessário recorrer à Justiça Eleitoral com a tese de que a executiva não tem poderes para ignorar as prévias.

Há aliados de Doria, contudo, que defendem que a judicialização seja feita somente após a convenção.

Questionado sobre o tema, Araújo disse à imprensa que não são comuns embates dentro de uma mesma sigla na Justiça.

"É até comum assistir à judicialização de um partido contra outro, de um candidato contra outro. É pouco comum alguém judicializar contra seu próprio partido, isso não é da natureza da política. Continuo apostando que a política é a solução dos caminhos", afirmou o dirigente, no Recife.

De maneira geral, membros do PSDB afirmam que, se Doria entrar na Justiça, vai escancarar a falta de respaldo que sua candidatura tem na sigla.

Em entrevista à Folha, o deputado federal Aécio Neves (PSDB-MG) defendeu que outros nomes do partido sejam levados à convenção como possíveis presidenciáveis. O parlamentar quer uma candidatura própria tucana, mesmo que com poucas chances de êxito na eleição.

Parte do PSDB diz esperar que Doria desista, abrindo espaço para o senador Tasso Jereissati (CE) ou o ex-governador Eduardo Leite (RS).

Outra ala mais pragmática não quer a candidatura própria, evitando um candidato que dificulte as campanhas de parlamentares. Esse cenário é visto ainda como uma forma de direcionar mais verba do fundo eleitoral para as bancadas.

Segundo parlamentares, na reunião desta terça Araújo precisa avaliar se ainda tem a autorização da executiva para negociar com o MDB; ou se a cúpula do partido pensa como Doria, no sentido de rejeitar a pesquisa e lançar o paulista mesmo sem alianças.

O resultado pode ser que a executiva nacional do PSDB e as bancadas no Congresso Nacional, em sua maioria, desautorizem Doria, o que ampliaria seu isolamento na sigla.

Existe ainda a expectativa de que outras discussões apareçam na reunião, como o debate sobre os critérios da pesquisa e o prazo de 18 de maio para o anúncio do nome da terceira via —há quem diga que deve haver atrasos.

Ao convocar a executiva, Araújo mencionou que as negociações da terceira via com o MDB tiveram início "com a notória anuência" de Doria, além da autorização da executiva e das bancadas.

Entre os argumentos de Doria estão o de que ele pontua à frente de Tebet (3% contra 1% na pesquisa Quaest da semana passada) e o de que a candidatura da emedebista pode acabar derrubada pelo MDB, que tem alas divididas entre apoiar Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Os dados da pesquisa encomendada pelos dois partidos para nortear a escolha do candidato único foram coletados no final de semana.

O Instituto Guimarães ouviu 2.000 pessoas em 23 estados. Segundo pessoas que acompanham o processo, o levantamento tem informações como intenção de voto, rejeição dos nomes e também avaliação sobre 30 atributos.

Os entrevistados foram questionados, por exemplo, sobre quem é mais experiente e corajoso entre Tebet e Doria. Das qualidades aferidas, algumas foram sugeridas pelos marqueteiros de ambos os pré-candidatos do MDB e do PSDB.

Antes mesmo de ser divulgada, a pesquisa, entendida como qualitativa e quantitativa por parte dos organizadores, é alvo de crítica no PSDB por ter sido realizada no final de semana. Aliados de Doria argumentam que isso poderia gerar distorções.

Já no MDB a avaliação é que não há razão para questionar os resultados do levantamento.

A cúpula do MDB prefere não se envolver na disputa tucana. Reservadamente, dirigentes emedebistas se dizem confiantes de que Araújo tem o comando da situação.

Um aliado próximo ao presidente do MDB, Baleia Rossi (SP), afirma que o comandante tucano não teria "chamado para briga se não tivesse certeza da vitória", em referência à convocação da reunião.

Simone Tebet, por sua vez, declarou nesta segunda-feira (16) que recorrer à Justiça é um "direito" de Doria. Mas a aliados ela afirma acreditar que a judicialização tem pouco efeito prático, sob o argumento de que a Justiça tem evitado entrar em questões internas dos partidos.

Em evento nesta segunda, Simone afirmou que será a candidata de seu partido se o resultado da pesquisa indicar que ela é o nome mais competitivo.

"Amanhã [terça] é um dia decisivo e vale para mim e vale para o governador João Doria. Se porventura ele não aceitar os resultados da pesquisa e eu for a escolhida, eu sigo firme e forte. Agora, se amanhã o resultado dos partidos for de que o candidato é um outro nome, obviamente que eu tenho que ceder e observar as regras", afirmou.

"Esse [reação de Doria] é um problema do PSDB. O PSDB aceitou fazer parte dessa pesquisa junto com o Cidadania e MDB. [...] Eu já disse que estou pronta para subir no palanque dessa frente democrática, independente de estar na cabeça de chapa ou de vice", afirmou.

​Nesta segunda-feira, Araújo ainda rebateu a entrevista de Aécio à Folha em que o deputado o acusa de tirar protagonismo da sigla e atuar como "advogado" do governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB).

"Aécio Neves tem razão, sou advogado do governador de São Paulo, mas faltou uma vírgula [na fala de Aécio]. Sou advogado do governador de SP, de Raquel Lyra, pré-candidata ao governo de Pernambuco, de Pedro Cunha Lima, pré-candidato do PSDB na Paraíba, de Eduardo Riedel, de Mato Grosso do Sul, de Eduardo Leite, pré-candidato no Rio Grande do Sul e do senador Alessandro Vieira (SE)", disse.

"Presidente do partido é advogado dos interesses do partido nos estados em que disputamos", acrescentou.

Colaborou José Matheus Santos, do Recife

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