Descrição de chapéu Governo Bolsonaro

Bolsonaro diz que 'lamenta pelo pior' no caso de desaparecidos no AM

Chance de achar indigenista e jornalista 'diminui a cada dia', afirmou presidente nos EUA

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Los Angeles

O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse nesta quinta-feira (9) que as chances de encontrar o indigenista Bruno Araújo Pereira e o jornalista inglês Dom Philips diminuem a cada dia e que lamenta "pelo pior", embora peça a Deus para que estejam vivos.

"Não tenho notícia do paradeiro deles. A gente pede a Deus para que sejam encontrados vivos, mas a gente sabe que a cada dia que passa essas chances diminuem", afirmou o mandatário em Los Angeles, onde participa da Cúpula das Américas.

"Agora, eles entraram numa área, não participaram a Funai [Fundação Nacional do Índio]. Tem um protocolo a ser seguido, e naquela região normalmente você entra escoltado. Foram para uma aventura. A gente lamenta pelo pior", disse a jornalistas.

Bolsonaro distribui cumprimentos ao desembarcar em Los Angeles nesta quinta para a Cúpula das Américas - Alan Santos/Presidência da República/Divulgação

"Desde o primeiro dia, quando foi dado o sinal de alerta, a Marinha entrou em campo e, no dia seguinte, as Forças Armadas e a Polícia Federal. Tem quase 300 pessoas nessa procura, dois aviões, helicópteros, barcos", afirmou Bolsonaro, em meio às críticas pela demora nas buscas.

Em resposta às pressões, o mandatário afirmou, em uma rede social, existirem "oportunistas [que] só querem se promover com o caso".

O indigenista e o jornalista inglês desaparecerem no último domingo (5), quando transitavam pelo Vale do Javari rumo à cidade de Atalaia do Norte (AM).

O governo foi criticado pela omissão das autoridades e pela falta de uma força-tarefa dedicada à operação de busca. A Terra Indígena Vale do Javari é frequentemente alvo de invasões de garimpeiros ilegais.

Bolsonaro já havia minimizado o episódio e classificado como "aventura não recomendada" a viagem dos dois pelo oeste do estado do Amazonas. Phillips estava realizando uma cobertura jornalística e contava com o apoio de Pereira.

Pouco depois da declaração em Los Angeles, a conta oficial do presidente no Twitter publicou que as Forças Armadas, o Ministério das Relações Exteriores e a Polícia Federal, entre outros órgãos, estão trabalhando nas buscas "de forma intensa" desde segunda.

"Mais de duas centenas de militares foram mobilizados para solucionar o caso o quanto antes", afirmou.

"Instruí meus auxiliares a não se distraírem com narrativas midiáticas para que possam concentrar todas as energias no monitoramento dos trabalhos e nas buscas. Esses oportunistas só querem se promover com o caso. Nós queremos solucioná-lo e levar conforto aos familiares", acrescentou.

Também nesta quinta, a chefe da embaixada Britânica no Brasil, Melanie Hopkins, afirmou que seu governo vem dando apoio à família de Phillips neste momento —que ela chamou de angustiante— e cobrou apoio do governo brasileiro à investigação do caso.

"Estamos profundamente preocupados que o jornalista britânico Dominic Phillips e o indigenista Bruno Pereira ainda não tenham sido encontrados", afirmou Hopkins.

"Entendemos que a localização remota da região impõe desafios logísticos consideráveis e já solicitamos ao governo brasileiro que faça todo o possível para apoiar a investigação do caso. Agradecemos a assistência prestada até o momento", completou.

O presidente Bolsonaro terá um encontro com o presidente dos EUA, Joe Biden, durante a Cúpula das Américas.

O ministro da Justiça, Anderson Torres, tratou do desaparecimento de Philips e Pereira com representantes do Reino Unido e dos Estados Unidos.

Torres teve uma reunião sobre a questão com Vick Ford, vice-ministra para África, América Latina e Caribe do Ministério de Relações Exteriores do Reino Unido, na noite desta quinta, em Los Angeles.

Ford pediu que o governo brasileiro faça de tudo para tentar encontrar os desaparecidos. O ministro disse estar empenhado nisso, e que ao menos R$ 500 mil já foram gastos na investigação e nas buscas.

"Expliquei para ela as dificuldades da região, como as grandes distâncias e as dificuldades de acesso ao local, que nem sempre são conhecidas por pessoas de fora da região", disse o ministro da Justiça.

O tema também foi tratado em uma reunião com Jonh Kerry, enviado especial para mudanças climáticas dos EUA. O americano teve uma conversa com Torres e o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, sobre temas ambientais, e a conversa acabou tratando também do caso dos desaparecidos.

Kerry também ouviu sobre as dificuldades do processo de busca e os esforços brasileiros. Torres e Leite integram a comitiva de Bolsonaro na Cúpula das Américas.

Na última terça-feira (7), a liderança indígena Sonia Guajajara, coordenadora da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil), se encontrou com Kerry, e criticou a ação do governo Bolsonaro no caso até então.

Suspeito conhecido como Pelado preso pela polícia do Amazonas
Suspeito conhecido como Pelado preso pela polícia do Amazonas - Reprodução/TV Globo

A Polícia Federal afirmou nesta quinta que encontrou vestígio de sangue no barco de Amarildo, pescador conhecido como Pelado e que, segundo testemunhas, seguiu o indigenista e o jornalista antes de eles sumirem.

"A prisão temporária já foi requerida e o material coletado está a caminho de Manaus", disse a PF. A reportagem da Folha não conseguiu contato com a defesa de Amarildo.

Pelado foi preso nesta semana, mas sem relação direta com o desaparecimento. Ele foi abordado na comunidade de São Gabriel —onde os dois foram avistados pela última vez— em razão da identificação de sua lancha, mas preso em flagrante com munição de fuzil e calibre 16, que são de uso restrito.

O jornalista britânico Dom Phillips (à esq.), colaborador do jornal The Guardian, e o indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira - Daniel Marenco/Agência O Globo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.