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Contador ligado a Lula atuou para o PCC, segundo polícia, e caso vira arma bolsonarista

Segundo investigação, João Muniz Leite ajudou na lavagem de dinheiro por meio de loterias para suposto chefe de facção

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São Paulo

A Justiça de São Paulo sequestrou na quarta-feira (15) cerca de R$ 40 milhões em bens de um grupo suspeito de ligação com a facção criminosa PCC e uma empresa de ônibus na capital. Entre os integrantes do grupo está o contador João Muniz Leite e sua mulher.

Leite foi contador do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e já ouvido na Operação Lava Jato por ter participado da compra, segundo a polícia, de imóveis do ex-presidente petista.

De acordo com o Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico), responsável pela investigação, Leite ajudou a montar um esquema de lavagem de dinheiro por meio de loterias para Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, suposto chefe do PCC.

O contador João Muniz Leite
O contador João Muniz Leite - Reprodução Facebook @blogdojoaomunizleit

Fausta foi assassinado no final de 2021, no Tatuapé, zona leste paulistana, junto com o motorista Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue, em suposta guerra interna da facção por causa de dívidas.

O nome de Leite vinha sendo mantido em sigilo, mas foi confirmado nesta quinta-feira (16) pela polícia após a divulgação pelo jornal O Estado de S. Paulo.

A Polícia Civil afirma, porém, que nenhum político (Lula ou nenhum outro nome) aparece na investigação do Denarc.

Procurada, a assessoria de imprensa de Lula afirma, em nota, que o ex-presidente "não tem qualquer relação com o caso citado" e que ele "já teve todos os seus sigilos fiscais e bancários quebrados e jamais uma irregularidade foi encontrada".

Leite chegou a ser ouvido na Lava Jato em 2017, pelo então juiz Sergio Moro, em procedimento que apurava suposta falsificação de recibos de aluguel de apartamento utilizado pelo ex-presidente em São Bernardo do Campo.

Em seu depoimento a Moro, o contador disse ter sido responsável pelas declarações de renda de Lula, a pedido do advogado Roberto Teixeira, compadre do ex-presidente, de 2011 a 2015.

A divulgação da notícia gerou munição para uma série de ataques de apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) contra o ex-presidente Lula nas redes sociais nesta quinta-feira.

Um dos que comentou o caso foi o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho 02 de Bolsonaro.

"Vão ter 3.000 dias de Jornal Nacional, faniquitos histéricos na timeline dos blogueiros e 'artistas', protestos de sindicatos ou impulsionamentos nas 'brigadas digitais' do bem dos movimentos ligados à facção? Obs: nada é ilação, mas fato!", escreveu o vereador em seu perfil no Twitter.

O empresário Luciano Hang, da Havan, compartilhou a notícia e escreveu: "Já imaginou se fosse o contador do Bolsonaro? Ainda não vi a velha mídia se pronunciar. Vai dar repercussão?"

O vereador de Fortaleza Carmelo Neto (PL) também foi às redes criticar o ex-presidente, a quem se referiu de "Luladrão". "Ex-contador de Lula é acusado de lavar 16 milhões do PCC. Luladrão faz aliança, recomenda e contrata bandidos há muito tempo! É esse pilantra que quer voltar a presidir o país", disse.

O contador chegou a ter o pedido de prisão solicitado pela Polícia Civil, durante as investigações, mas o pedido foi negado. Os policiais chegaram a ir ao endereço do escritório do contador, mas não encontraram a empresa.

Segundo policiais que participam da investigação informaram à Folha, Leite seria um contador conhecido no mundo do crime especializado em lavagem de dinheiro. Assim, seria contador de quem tivesse problemas para tentar transformar dinheiro do crime em patrimônio com lastro.

No caso de Fausta, o dinheiro vinha do tráfico de drogas, segundo a polícia. Tinha um patrimônio milionário, mas não podia ostentá-lo porque não tinha lastro para isso.

De acordo com o delegado Fernando Santiago, responsável pela investigação, com o esquema montado por Leite para lavagem de dinheiro para Cara Preta, eles ganharam 55 vezes na loteria, com prêmios que somam R$ 38 milhões.

Também nesse suposto esquema, Fausta ganhou um prêmio de R$ 40 milhões na Mega-Sena. Um bolão que o suposto criminoso do PCC ficou com R$ 24 milhões (3/5 do prêmio), e Leite, com R$ 16 milhões (2/5).

"A gente acredita que o contador dele tenha montado esquema de lavagem de dinheiro com prêmio de loteria federal, mas sem fraudar a aposta", diz o delegado Santiago.

"Eles chegam a jogar R$ 450 mil para ganhar R$ 420 mil. Ele tem prejuízo, mas para eles é maravilhoso porque tem origem lícita. O dinheiro que ele tem é muito maior que o prêmio da loteria, mas, a partir daí, ele pode ostentar porque tem origem", disse.

Foi esse mesmo contador que ajudou Cara Preta a abrir uma empresa em nome Eduardo Camargo de Oliveira, uma identidade falsa usada pelo suposto criminoso do PCC antes de ele ganhar na Mega-Sena e assumir a verdadeira identidade e uma vida de ganhador da loteria.

Segundo a polícia, foi rastreando esse documento falso que eles chegaram à UPBus, empresa de ônibus que atua na zona leste da capital, e encontrou outros membros da PCC (ou parentes destes) como os principais acionistas.

A investigação indicou ainda que outro importante integrante do PCC ligado à empresa é Décio Gouveia Luiz, o Décio Português. Apontado pela polícia como parceiro de Marco Camacho, o Marcola (principal líder da facção), ele tinha cotas registradas no nome da mulher.

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