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Entenda o que se sabe sobre o crime contra indigenista e jornalista no AM

Dom Phillips e Bruno Pereira desapareceram no dia 5, na terra indígena Vale do Javari, na Amazônia

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Rio de Janeiro e Ribeirão Preto

As investigações sobre as mortes do jornalista Dom Phillips, 57, e do indigenista Bruno Pereira, 41, na terra indígena Vale do Javari, no Amazonas, resultaram até aqui em três presos e na identificação de outros cinco suspeitos, de acordo com a PF (Polícia Federal).

O desaparecimento de ambos completou dez dias na quarta-feira (15), data em que um dos presos confirmou participação nos assassinatos.

Foram presos suspeitos de participação no crime até aqui Amarildo Oliveira, o Pelado, no dia 7, seu irmão, Oseney da Costa de Oliveira, na terça-feira (14), e Jefferson da Silva Lima, conhecido como Pelado da Dinha, que confessou o crime neste final de semana.

Ao confessar o crime na quarta, Pelado levou as forças de segurança ao local em que os corpos foram enterrados. O barco foi afundado com o uso de sacos de areia.

Os remanescentes dos corpos foram enviados para perícia, que concluíram que disparos de armas de caça mataram o indigenista e o jornalista.

Veja o que se sabe sobre o crime até o momento:

Caminhões com telas exibem imagem e mensagens sobre desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira
Caminhões com telas exibem imagem e mensagens sobre desaparecimento do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Pereira pelas ruas de Los Angeles (EUA), onde ocorre a Cúpula das Américas - Divulgação

Quem são o jornalista e o indigenista desaparecidos? Dom Phillips, 57, jornalista britânico, se mudou para o Brasil em 2007. Trabalhou muitos anos como freelancer para o jornal britânico The Guardian e também escreveu para outros veículos internacionais, como Washington Post, The New York Times, Financial Times e The Intercept.

Phillips tinha vasta experiência na cobertura da Amazônia e estava escrevendo um livro sobre como salvar o bioma.

O indigenista Bruno Pereira, 41, era servidor de carreira da Funai (Fundação Nacional do Índio) desde 2010, mas pediu licença depois de ter sido exonerado da Coordenação Geral de Índios Isolados e Recém-Contatados, em outubro de 2019. Seus colegas dizem que ele estava insatisfeito com as dificuldades que tinha para atuar na fundação e que sofria pressão de superiores.

Na Funai, Pereira esteve por anos à frente da Coordenação Regional do Vale do Javari, território sobre o qual tem extenso conhecimento. Em 2019, ele chefiou a maior expedição para contato com os índios isolados em 20 anos. Trabalhava na ONG Univaja (União dos Povos Indígenas do Vale do Javari).

O jornalista britânico Dom Phillips em stand up paddle no Rio de Janeiro, em 2020
O jornalista britânico Dom Phillips em stand up paddle no Rio de Janeiro, em 2020 - Arquivo pessoal/Alberto Almendariz

Onde e quando eles foram vistos pela última vez? Estavam desaparecidos desde a manhã do dia 5, um domingo, quando faziam uma viagem pelo Vale do Javari, segunda maior terra indígena do país, com 8,5 milhões de hectares, no extremo oeste do Amazonas.

Após visita a uma base da Funai no Lago do Jaburu, pararam na comunidade São Rafael para uma reunião com um pescador conhecido como "Churrasco" e conversaram com a esposa dele, já que ele não se encontrava no local.

Em seguida, seguiram viagem pelo rio Itaquaí em direção a Atalaia do Norte, mas desapareceram no trecho. Segundo a Univaja, o trajeto dura cerca de duas horas.

Os dois foram avistados por moradores da comunidade São Gabriel, situada mais adiante no trajeto pelo rio, mas já em uma terceira localidade, conhecida como Cachoeirinha, os relatos obtidos por equipes de busca indicaram que os moradores não os viram.

Quais os conflitos existentes no Vale do Javari? A terra indígena tem sido frequentemente invadida por garimpeiros, madeireiros, caçadores e pescadores.

A ação de narcotraficantes também tem crescido no território, que fica na fronteira com o Peru e a Colômbia.

A região é marcada pela presença do maior número de indígenas em isolamento voluntário do mundo e pela rota de escoamento de tráfico de cocaína do Peru que é distribuída para Brasil, Europa e África.

A violência no território é um problema antigo, mas vem se intensificando desde 2019. Naquele ano, o colaborador da Funai Maxciel Pereira dos Santos, da Frente de Proteção Etnoambiental do Vale do Javari, foi morto a tiros em Tabatinga (AM).

Entidades de defesa dos povos indígenas também denunciaram oito episódios de violência armada nos últimos anos contra a base de proteção Ituí-Itaquaí, próxima ao local do desaparecimento de Phillips e Pereira.

A Polícia Federal ignorou documentos apresentados por indígenas sobre a atuação do crime organizado na terra indígena, segundo a Univaja.

O jornalista britânico Dom Phillips (à esq.), colaborador do jornal The Guardian, e o indigenista brasileiro Bruno Araújo Pereira - Daniel Marenco/Agência O Globo

Um mês e meio antes do assassinato dos dois, integrantes da Univaja relataram que foram ameaçados de morte na principal praça de Atalaia do Norte, destino da viagem da dupla.

Como mostrou a Folha, três pessoas da ONG foram confrontadas por dois pescadores em 19 de abril. Um deles tentou agredir um indigenista com um soco. Na sequência, outro se aproximou dizendo para não chamar a polícia, pois sabia onde ele morava e iria pegá-lo.

Ainda conforme o relato, o primeiro pescador "estava ameaçando dar um tiro na cara" de um membro da Univaja e disse que "iria acontecer [...] o mesmo que aconteceu com o falecido Max".

Phillips e Pereira foram ameaçados? Advogado da Univaja, Eliésio Marubo diz que o pescador Amarildo Oliveira, conhecido como "Pelado", preso dia 7 por porte de munição ilegal, fez ameaças contra a equipe da entidade recentemente. O grupo era acompanhado por Pereira e Phillips.

Dias antes da viagem, Marubo, Pereira e outros membros da Univaja haviam recebido uma carta com ameaças de morte.

"Sei que quem é contra nós é o Beto Índio e Bruno da Funai, quem manda os índios irem para área prender nossos motores e tomar nosso peixe", diz o texto, citando também Beto Marubo, um dos coordenadores do grupo.

A carta segue com as ameaças e afirma que "se continuar desse jeito vai ser pior". Diz, ainda, que esse é o único aviso que os pescadores dariam.

A Univaja entregou, entre fevereiro e maio, seis ofícios com denúncias de invasões de pescadores armados, ataques com tiros a índios e pesca e caça ilegal na terra indígena.

Como foram as buscas e quais órgãos participaram das operações? As buscas tiveram início no próprio dia 5, por integrantes da Univaja. Ao longo da semana, passaram a atuar também o Exército, a Marinha, a Polícia Federal, a Funai e a secretaria de Segurança Pública do Amazonas.

Na noite do dia 6, o Comando Militar da Amazônia disse que estava a postos para operações de busca, mas que as ações só seriam "iniciadas mediante acionamento por parte do escalão superior".

O posicionamento e a alegada ausência de ordem superior para as buscas causaram estranhamento e questionamentos. Pouco depois, o Comando da Amazônia afirmou que também iria integrar a operação.

No dia 7, organizações que acompanham o caso, entre elas a Univaja, criticaram a omissão das autoridades e a falta de uma força-tarefa dedicada à operação, alegação rechaçada pelas forças de segurança.

No mesmo dia, a Marinha informou que usava um helicóptero do 1º Esquadrão de Emprego Geral do Noroeste, duas embarcações e uma moto aquática. No mesmo dia, foi enviado ao local o reforço de mergulhadores e especialistas em buscas na selva da polícia estadual do Amazonas.

Na noite daquele dia, o Ministério da Defesa divulgou um comunicado afirmando que o Exército empregava desde o desaparecimento cerca de 150 militares especialistas em operações em ambiente de selva.

O superintendente da Polícia Federal, Eduardo Fontes, afirmou na quarta (8) que o efetivo das buscas era formado por 250 agentes dos diferentes órgãos.

Sem sucesso nas buscas após cinco dias, a Univaja pediu ao governo peruano, via Embaixada, cooperação para ações de busca no território do país vizinho.

O que foi determinado pela Justiça e órgãos internacionais? Provocada pelo Ministério Público Federal e pela Defensoria Pública da União, a Justiça Federal da 1ª Região determinou, na quarta (8), que o governo de Jair Bolsonaro (PL) efetivasse imediatamente a disponibilização de helicópteros, embarcações e equipes.

Em sua decisão, a juíza federal Jaiza Maria Pinto Fraxe, da 1ª Vara Federal Cível do Amazonas, afirmou que já foi constatada a omissão da União diante da proteção de povos indígenas isolados e de recente contato. Ela escreveu, ainda, que a terra indígena Vale do Javari vem sendo mantida em situação de baixa proteção e fiscalização.

No dia 10, o Alto Comissariado das Nações Unidas para Direitos Humanos cobrou que o governo brasileiro redobrasse os esforços para encontrar os dois.

Ainda na tarde de sexta, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, deu prazo de cinco dias para que o governo federal apresentasse informações à corte sobre as providências adotadas.

No dia 11, também a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA (Organização dos Estados Americanos) solicitou ao Brasil que redobrasse os esforços na busca e ainda que o país informasse sobre as ações que estavam sendo adotadas para investigação do caso. O prazo para resposta é de sete dias. A medida cautelar foi concedida após solicitação de um grupo de entidades da sociedade civil ao órgão.

O que investigação identificou? No fim da tarde do dia 10, a PF divulgou que encontrou o que pode ser vestígios de material genético humano na região do rio Itaquaí, último lugar onde Pereira e Phillips foram vistos. O material estava perto do porto de Atalaia do Norte. A amostra foi encaminhada para perícia, assim como os vestígios de sangue encontrados na embarcação do pescador Pelado.

No último domingo (12), bombeiros encontraram uma mochila, notebook e pertences, submersos na área em que ocorreram as buscas. A mochila estava amarrada numa árvore submersa no igapó e os pertences estavam dentro dela. Ela foi entregue à Polícia Federal. Segundo os bombeiros, o modo como os objetos estavam depositados sob a água indica intenção de ocultamento.

Os objetos foram encontrados numa área que tinha sido isolada no sábado (11) pela Polícia Federal, nas margens do rio Itaquaí. Indígenas que auxiliaram nas buscas haviam sinalizado que a mata no local tinha sinais de que um objeto de grandes proporções havia adentrado pelo local.

Nesta quarta (15), Pelado indicou às autoridades onde havia enterrado os corpos, bem como ocultado a lancha em que viajavam Pereira e Phillips. Agora, a instituição aguardará os resultados das perícias para identificar se os restos humanos encontrados são deles, para serem entregues às famílias para enterro.

Também na quarta, foi determinada a prisão temporária por 30 dias de Oseney, suspeito de envolvimento no crime. A prisão do terceiro suspeito foi decretada pela Justiça na sexta-feira (17).

O que o presidente da República e outras autoridades disseram sobre o desaparecimento? O presidente Jair Bolsonaro inicialmente classificou como uma "aventura" não recomendada a viagem de Phillips e Pereira.

"Realmente, duas pessoas apenas num barco, numa região daquela completamente selvagem é uma aventura que não é recomendada que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser acidente, pode ser que tenham sido executados", disse o presidente em entrevista ao SBT no dia 7.

"[A gente] espera e pede a Deus que sejam encontrados brevemente. As Forças Armadas estão trabalhando com muito afinco na região", completou.

Na sexta, porém, em discurso na segunda plenária da Cúpula das Américas, o presidente buscou responder a críticas que o governo vem sofrendo por sua atuação no caso ao dizer que "desde o último domingo as Forças Armadas e a Polícia Federal têm se destacado na busca incansável para alcançar essas pessoas".

Nesta segunda (13), Bolsonaro afirmou que há indícios de que "fizeram alguma maldade com eles", ao se referir a vísceras humanas que foram encontradas boiando no rio e que, segundo ele, foram enviadas a Brasília para testes de DNA.

Na quarta (15), dia em que as mortes foram confirmadas, Bolsonaro afirmou que Phillips "era malvisto na região" porque fazia reportagens contra garimpeiros e que ele deveria ter tido mais atenção "consigo próprio". Disse ainda que ambos "resolveram entrar numa área completamente inóspita sozinhos, sem segurança".

O ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, afirmou na quarta-feira (8) que "não tem a noção do que pode ter acontecido" com os desaparecidos. Segundo ele, a impressão de que houve atraso para o trabalho das Forças Armadas é resultado da dificuldade de acesso ao Vale do Javari.

"O helicóptero mais próximo é de Manaus, e ele estava pronto, na manhã de ontem [7], para levantar voo e atuar na área. A Marinha da mesma forma. Não houve retardo."

Também na quarta, o secretário da Segurança Pública do Amazonas, general Carlos Alberto​ Mansur, afirmou que não há "indícios fortes de crimes" no desaparecimento. Porém, na mesma entrevista, o superintendente da PF, Eduardo Fontes, disse que nenhuma hipótese está descartada —inclusive a de que ambos tenham sido vítimas de homicídio.

O presidente Bolsonaro foi alvo de protesto feito por indígenas do Vale do Javari na manhã desta segunda, que também criticaram as invasões à terra indígena e defenderam o trabalho feito por Pereira e Phillips.

A Funai foi alvo de um pedido da Defensoria Pública da União, protocolado na noite de terça (14), de que se abstenha de "desacreditar o trabalho" do indigenista e do jornalista.

A fundação é alvo de críticas de servidores pelo esvaziamento e pauta anti-indígena do governo Bolsonaro.

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O pescador Amarildo Oliveira, conhecido como Pelado, foi preso por porte de munição ilegal - Reprodução/TV Globo

Quem foi preso suspeito de envolvimento no desaparecimento? Até aqui, duas pessoas foram presas, no intervalo de uma semana entre elas.

Primeiro foi o pescador Amarildo Oliveira, 41, conhecido como Pelado, que foi preso em flagrante no dia 7 por "posse de munição de uso restrito e permitido" —com ele, foram apreendidos balas de fuzil e chumbinhos.

Ele foi ouvido nas investigações do desaparecimento de Phillips e Pereira e sua possível relação com o caso está sendo apurada.

Na quinta (9), a Polícia Federal identificou vestígios de sangue em sua lancha e enviou o material coletado para Manaus, capital do estado, para ser periciado. A Justiça do Amazonas acatou pedido da PF e decretou a prisão temporária de Pelado por 30 dias.

A Polícia Militar do Amazonas sustenta que Pelado seguiu a dupla pelo rio Itaquaí na manhã do desaparecimento.

Segundo a corporação, testemunhas que viram a lancha dos dois descer o rio rumo a Atalaia do Norte no domingo (5) "avistaram também uma outra lancha de cor verde, com o slogan da 'Nike' bem visível, que trafegava no rio, logo após passar a lancha dos desaparecidos". O barco foi rastreado até ser identificado como sendo do pescador.

De acordo com a Univaja, o pescador tem histórico de ameaças e violências contra indígenas e indigenistas. Eliésio Marubo, advogado da ONG, diz que ele ameaçou a equipe da entidade no último final de semana. O grupo era acompanhado por Pereira e Phillips.

Na tarde de sábado (11), a Folha esteve na comunidade de São Gabriel. Eliclei Oliveira, o Sirinha, irmão de Amarildo, disse não acreditar que Pelado tenha participação no desaparecimento. Segundo ele, o Pelado estava escovando os dentes quando a embarcação com Pereira e Phillips "baixou" o rio. "Ele não saiu [em uma embarcação logo atrás]", afirmou, contrariando a versão de testemunhas.

Em audiência de custódia em Atalaia do Norte, Pelado disse que foi torturado e agredido por policiais quando foi preso no dia 7. As suspeitas de tortura foram reveladas pela Agência Pública e confirmadas pela Folha.

Já na terça-feira (14), o segundo suspeito de envolvimento foi detido: Oseney da Costa de Oliveira, 41, o Dos Santos, irmão de Pelado.

Ele foi detido enquanto saía de sua casa no município e foi colocado "no local do suposto crime" por duas testemunhas, de acordo com a polícia.

Policiais civis e militares conduzem Oseney da Costa de Oliveira, preso como suspeito de participação no assassinato de Bruno e Dom - Pedro Ladeira/Folhapress

Quantas pessoas estão envolvidas com o crime? Até o momento, três pessoas foram presas e há outros cinco suspeitos, segundo a PF, que já foram identificados por terem participado da ocultação dos cadáveres do jornalista e do indigenista.

Antes do encontro dos corpos, ao menos nove pessoas foram ouvidas nas operações de busca da dupla, nas condições de testemunhas e de suspeito.​

As evidências colhidas na investigação reforçam a hipótese de que a pesca e a caça ilegal estão por trás de supostos crimes relacionados às mortes do indigenista e do jornalista, como a Folha mostrou no dia 13.

Como foi o anúncio da elucidação do crime? Participaram da coletiva em Manaus na terça a Polícia Federal, o Exército, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros e Secretaria de Segurança Pública. Os indígenas, que atuaram na floresta desde o dia do desaparecimento na busca por Phillips e Pereira, não foram sequer citados nos pronunciamentos feitos por chefes das corporações.

Questionado, o superintendente da PF no Amazonas, Eduardo Alexandre Fontes, classificou o fato como "equívoco".

Os corpos foram encontrados 3,1 quilômetros mata adentro e, segundo a polícia, não teria sido possível encontrar os restos humanos nesse período de tempo caso não houvesse a confissão de Pelado.

Foram feitas escavações num local de "dificílimo acesso" e sem sinal de telefone. O barco usado pelos dois foi afundado com a utilização de sacos de areia.

Qual a reação da família e de entidades? Viúva de Phillips, Alessandra Sampaio disse que agora, ao menos, as famílias poderão levar as vítimas do crime brutal para casa para as despedidas e que inicia a jornada em busca de justiça.

"Espero que as investigações esgotem todas as possibilidades e tragam respostas definitivas, com todos os desdobramentos pertinentes, o mais rapidamente possível [...] Só teremos paz quando as medidas necessárias forem tomadas para que tragédias como esta não se repitam jamais."

A Univaja, onde Pereira atuava, afirma que o assassinato de Pereira e Phillips "constitui um crime político". "Ambos eram defensores dos direitos humanos e morreram desempenhando atividades em benefício de nós, povos indígenas do Vale do Javari, pelo nosso direito ao bem-viver, pelo nosso direito ao território e aos recursos naturais que são nosso alimento e garantia de vida, não apenas da nossa vida, mas também da vida dos nossos parentes isolados."

A entidade ainda diz que foi a primeira a buscar os então desaparecidos e a única instância que esteve ao lado dos indígenas foram os policiais militares do 8º Batalhão em Tabatinga (AM). "Fomos nós que encontramos a área que, posteriormente, passou a ser alvo das investigações por parte de outras instâncias. Foi a equipe de vigilância da Univaja que entrou na floresta em busca de Pereira e Phillips para dar uma satisfação aos seus familiares. Foi a equipe que indicou para as autoridades o perímetro a ser vasculhado."

O WWF-Brasil disse que o nível de violência aplicada aos dois mostra como "a Amazônia está à mercê da lei do mais forte, sob a qual a brutalidade é a moeda corrente". "Isso eleva nossa indignação com a situação na qual os povos da floresta e seus defensores foram deixados pelo Estado brasileiro."

A eurodeputada alemã dos Verdes Anna Cavazzini, vice-presidente da delegação para as relações com o Brasil, disse que as mortes dos dois são terríveis e que as autoridades brasileiras devem investigar o caso e levar os autores à Justiça.

"Esses assassinatos também são consequência da difamação do presidente Bolsonaro de ativistas humanos e ambientais e do desmonte da legislação ambiental e de direitos humanos. Este e o futuro governo brasileiro devem fazer todo o possível para garantir que os ativistas de direitos humanos, ambientais e climáticos estejam mais bem protegidos no futuro."

Já o Greenpeace disse em nota de pesar que o país está se tornando uma terra em que a única lei que vale é a do "vale tudo".

"Vale a invasão e grilagem de territórios, vale a proliferação do garimpo, vale a extração ilegal de madeira, vale todo e qualquer conflito territorial. E vale matar para garantir que nenhuma dessas atividades criminosas sejam impedidas de acontecer. E tudo isso alimentado pelas ações e omissões do governo brasileiro."

Diretora do Brasil da Human Rights Watch, Maria Laura Canineu afirmou que é essencial que a investigação esclareça as circunstâncias e a motivação do crime e leve à responsabilização de todos os envolvidos.

"Esta é uma grande tragédia para as famílias de Bruno e Dom, assim como para todos que defendem a Amazônia e os direitos dos povos indígenas, e todos que reportam e dão visibilidade a esses temas. É urgente que medidas imediatas e contundentes sejam adotadas pelo governo federal, governadores estaduais e ministérios públicos federal e estaduais para combater a ilegalidade e as redes criminosas na Amazônia."

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