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Executiva do PSDB apoia Tebet, mas tucanos já preveem traições e disputas nos estados

Dirigentes tucanos referendaram decisão de apoio da cúpula do partido; vice será do PSDB e o mais cotado é Tasso

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Brasília

A executiva do PSDB aprovou nesta quinta-feira (9) uma aliança com o MDB para apoiar a senadora Simone Tebet (MDB-MS) na eleição presidencial, mas tucanos já preveem traições e disputas em estados.

Com a decisão da executiva, o PSDB terá a vaga de vice na chapa da pré-candidata. O nome mais provável para o posto de vice da parlamentar é o do senador Tasso Jereissati (CE).

A pré-candidata à Presidência da República do MDB, senadora Simone Tebet (MS). - Sergio Lima/AFP

A indicação do vice, porém, não foi debatida no encontro dos tucanos desta quinta. Embora Tasso tenha dito publicamente não querer ocupar a vaga, em conversas privadas afirma aceitar integrar a chapa caso seja a vontade da maioria do partido.

Além do senador, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, também citou a senadora Mara Gabrilli (SP) como opção de vice.

A opção do PSDB por apoiar a senadora emedebista ocorre após a desistência do ex-governador João Doria (SP) de disputar o Planalto. Doria não tinha o apoio da cúpula do partido.

Araújo disse que a "alma do PSDB era oferecer uma candidatura própria", mas que o melhor é oferecer uma alternativa ao país com a unidade entre os partidos e "fortalecer esse palanque nacional de quebra da polarização".

Na reunião da executiva ampliada do PSDB, que inclui as bancadas da Câmara e do Senado, houve 46 votantes, dos quais 39 se manifestaram a favor da aliança com Tebet e seis, contra: os deputados Aécio Neves (MG), Eduardo Barbosa (MG), Paulo Abi-Ackel (MG), Alexandre Frota (SP) e Valdir Rossoni (PR), além do senador Plínio Valério (AM).

O ex-prefeito de Porto Alegre e ex-deputado Nelson Marchezan Júnior (RS), vice-presidente do PSDB, se absteve.

Durante a reunião, além de Aécio, uma ala defendeu que os tucanos lançassem um candidato próprio à Presidência.

Pré-candidatos aos governos, respectivamente, de Minas Gerais e de Goiás, o deputado Marcus Pestana e o ex-governador Marconi Perillo participaram do encontro e acompanharam a posição de Aécio. No entanto, eles não têm voto na executiva.

Marchezan Júnior também defendeu um nome do PSDB na disputa ao Planalto. O ex-senador José Aníbal (SP), por sua vez, pregou que o ideal seria os tucanos terem um candidato, mas optou por votar a favor de Tebet.

Aécio alega que o PSDB não pode perder protagonismo na disputa presidencial e deixar a liderança do processo para o MDB.

Derrotado na reunião executiva desta quinta, o deputado mineiro avalia que o apoio a Tebet antecipará o movimento de "voto útil", de clima de "segundo turno" no partido.

"Eu temo que o apoio a Tebet não tenha correspondência na base real do PSDB, que hoje se divide entre Lula e Bolsonaro", disse o parlamentar, ex-presidente do PSDB.

Como mostrou a Folha, em Mato Grosso do Sul o ex-secretário Eduardo Riedel (PSDB) será candidato à sucessão do governador tucano Reinaldo Azambuja e pode apoiar Bolsonaro.

Já no Rio de Janeiro, está em curso uma negociação para que o vereador César Maia (PSDB) seja candidato a vice-governador na chapa de Marcelo Freixo (PSB), apoiado por Lula.

Aécio lembra que MDB e PSDB são adversários em alguns estados. Ele cita o caso de Pernambuco e Mato Grosso do Sul, em que os tucanos pediram apoio dos emedebistas, mas não deverão ter por divergências locais.

Em Goiás, Perillo será candidato ao governo, e o MDB apoiará a candidatura à reeleição de Ronaldo Caiado (União Brasil).

No Rio Grande do Sul, o PSDB quer que o MDB abra mão da pré-candidatura de Gabriel Souza para que ele seja vice de Eduardo Leite, e condicionou a aliança com Tebet ao avanço do acordo no estado.

Aécio reclama que, por lá, as conversas podem ter avançado, mas ainda não há garantia da aliança com emedebistas em torno nome de Leite está selada.

Leite indicou topar disputar o governo, mas ainda não anunciou que o fará nem recebeu apoio formal do MDB. O presidente do PSDB, no entanto, minimiza a reclamação de Aécio e afirma que a tendência é de os partidos estarem juntos no palanque gaúcho.

"Temos uma sinalização no Rio Grande do Sul e ele vai ser o laboratório do que estamos vivendo nacionalmente. O PSDB abriu mão de uma história própria para preservar alternativas ao eleitor brasileiro. A mesma coisa vai ser com o MDB do Rio Grande do Sul", disse Araújo.

Parte da velha guarda do MDB gaúcho resistia ao acordo com os tucanos argumentando que o partido tem tradição na política do Rio Grande do Sul, tendo eleito 4 dos últimos 10 governadores.

Em outros estados em que há esforço para que PSDB e MDB caminhem juntos, a articulação pode respingar em outros palanques. Em Alagoas, por exemplo, o PSDB articulava para que Jó Pereira fosse vice de Rodrigo Cunha (União Brasil), candidato apoiado pelo presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL). Mas com a aliança com o MDB, os tucanos negociam para que Jó seja vice de Paulo Dantas (MDB), apoiado por Renan Calheiros (MDB-AL).

Lira comentou o caso do palanque alagoano no Twitter. "Quebrar o que foi acordado em AL terá consequências à aliança, principalmente em SP. Na política, o cumprimento de acordo é fundamental à democracia", escreveu o presidente da Câmara, ameaçando abandonar o apoio a Rodrigo Garcia (PSDB-SP) ao governo paulista.

O presidente do PSDB diz que divergências internas são naturais e alega que o placar da reunião da executiva, com maioria favorável a Tebet, deixa claro que o partido não está dividido.

Para ele, "eleições nacionais nunca verticalizam todo o processo". "Vamos ter estados onde o próprio PSDB vai ter dificuldades de votar com Simone e a própria Simone vai ter dificuldades de receber o apoio de seu próprio partido. Mas o que vai valer é o conjunto dessa unidade se comunicando com o eleitor brasileiro", reconheceu o tucano. ​

O senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), cotado para ser candidato a vice-presidente em chapa com Simone Tebet (MDB-MS). - Adriano Machado/Reuters

A partir da aprovação do nome de Tebet, aumentará a pressão para que a senadora cresça nas pesquisas de intenção de votos.

A perspectiva é que, dependendo do desempenho de Tebet nas pesquisas, o debate sobre a candidatura seja retomada durante a convenção do PSDB e do MDB, momento em que a aliança e a indicação do vice são oficializadas.

A parlamentar teve 2% das intenções de voto na última pesquisa Datafolha, em maio. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) lidera a corrida com 48% ante 27% de Jair Bolsonaro (PL), de acordo com o levantamento.

Ciro Gomes (PDT), que também tenta se contrapor à polarização entre Lula e Bolsonaro, marcou 7% das intenções de voto na pesquisa.

Como mostrou a Folha, Tebet tem hoje apoio da maioria dos delegados emedebistas, que decidem os rumos da convenção partidária, mas ainda enfrenta desafios para consolidar sua candidatura e garantir a manutenção dos votos a seu favor.

A senadora do MDB foi a remanescente de uma série de candidaturas da chamada terceira via. Além do próprio Doria, já ficaram pelo caminho nesse grupo nomes como o do ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) e o do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Doria havia vencido as prévias do partido, em novembro passado, mas abriu mão de ser candidato depois de ter ficado isolado dentro do próprio partido.

A cúpula do PSDB não queria referendar a candidatura de Doria e, para isso, fez um acordo com MDB e o Cidadania, partido ao qual os tucanos estão federados, para que o resultado de uma pesquisa definisse qual nome teria mais potencial de crescimento na eleição.

O levantamento encomendado pelas siglas indicou que Tebet tinha menos rejeição e maior capacidade de se viabilizar na disputa presidencial, o que pressionou Doria a abrir mão da candidatura, como queria a direção tucana.

O ex-governador gaúcho Eduardo Leite, que disputou as prévias do PSDB para ser candidato ao Planalto, e foi derrotado por Doria, também abandonou o projeto presidencial. Mesmo depois de perder as primárias tucanas, Leite foi convidado a se filiar ao PSD para disputar a Presidência pelo partido, mas recusou.

Nesta quinta-feira, a equipe da pré-candidata informou que ela foi diagnosticada com a Covid-19. Simone Tebet já tomou três doses da vacina contra a doença. A parlamentar está com sintomas leves, segundo informou em nota a assessoria de imprensa.

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